quarta-feira, 27 de março de 2013




COMO OS CEGOS DE NASCENÇA SONHAM?
Todas as pessoas sonham e fazem isso várias vezes por noite. Muitas vezes, ao acordar, lembramos claramente do que vimos, do que passamos, como nos sentimos e quem estava no sonho. Mas é exatamente aí que surge uma interessante questão. Se os cegos de nascença nunca tiveram contato com a imagem visual, então, como são formados seus sonhos?
Segundo Liliane Camargos, psicóloga e mestre em teoria psicanalítica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), "os sonhos surgem no período REM do sono, em que a atividade cerebral é semelhante a da vigília". A psicóloga afirma ainda que os sonhos são fundamentais para uma boa saúde física e mental. "Eles possuem importância para aprendizagem, para transformar a memória de curta duração em memória de longa duração". Além disso, acrescenta Liliane, o sonho "é um recurso do qual nosso aparelho psíquico se apropria para manifestar desejos inconscientes reprimidos". E ela garante que eles sempre têm um sentido, por mais bizarros que possam parecer.
"Os sonhos são feitos, perceptivamente, de materiais capturados pelos órgãos dos sentidos recolhidos no dia anterior ao momento do sono. Se uma pessoa possui uma memória perceptiva visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa, todos estes elementos podem aparecer reconfigurados nos sonhos", diz a psicóloga.
Por isso, segundo Liliane, as pessoas que já vieram ao mundo cegas sonham normalmente todas as noites usando as suas experiências. "As pessoas confundem muito o sonho com a percepção visual, por isso existe a dúvida se uma pessoa cega sonha. Isso acontece porque o sentido visual, para quem enxerga, se torna o mais utilizado e evidente, inclusive nos sonhos. Mas nada impede que uma pessoa com visão também sonhe sem imagens visuais".
No caso das pessoas que já nasceram cegas seus sonhos são compostos por situações de diversos tipos, vividas e percebidas do modo como elas "veem" o mundo acordadas, esclarece ela. "Seus sonhos são formados por imagens perceptivas, não visuais, como imagens auditivas, táteis, olfativas e gustativas. Mesmo sem a imagem visual, a sensação que um cego de nascença tem ao sonhar é a mesma de uma pessoa que possui a uma pessoa que perdeu a visão sonha de modo diferente de uma pessoavisão".
E então surge outra dúvida. Será  que já nasceu cega? De acordo com Liliane, quando uma pessoa perde toda a visão, ela sonhará com imagens visuais por um certo período. Mas com o tempo, tais imagens visuais irão se apagando de sua memória e ela passará a utilizar outros sentidos para sonhar.
"No caso de pessoas que possuem baixa visão, ou visão subnormal, elas sonharão assim como percebem o mundo acordadas, com imagens visuais incompletas", completa Liliane Camargos.
Redação Terra

Disponível:
acessado em: 27/03/2013

domingo, 24 de março de 2013

A SUTILEZA DAS CONVULSÕES PARCIAIS



A sutileza das convulsões  parciais


Um veterano de guerra sujeito a automatismos leu no jornal a respeito de um homem que abraçou uma mulher em um parque, seguiu-a até o banheiro feminino, e depois tomou um ônibus. A partir da descrição fornecida, ele se deu conta que o homem era ele.
Em uma certa manhã, um médico saiu de casa para atender uma emergência do hospital e voltou algumas horas depois, bastante confuso, sentindo como se tivesse tido um pesadelo. No hospital, ele realizou uma operação difícil ... com sua competência usual, mas depois fez e disse coisas que julgava inapropriadas.
Um jovem professor de música, enquanto assistia a um concerto, caminhou pela coxia até o palco, caminhou ao redor do piano, pulou no chão, deu um salto e saiu correndo pelo corredor, recuperando a consciência no caminho para casa.  Muitas vezes ele se flagrou em um ônibus longe de seu destino.
Um homem, tendo um ataque, foi até o seu patrão e disse "eu quero ganhar mais ou me demito". Mais tarde, para sua surpresa, verificou que o seu salário havia subido.
 Embora os pacientes pareçam estar conscientes durante seus ataques parciais complexos, eles, em geral, têm pouca ou nenhuma lembrança. Aproximadamente, metade de todos os casos de epilepsia são da variedade parcial complexa – os lobos temporais são particularmente suscetíveis a descargas epilépticas. Uma convulsão parcial não envolve o cérebro todo. Por razões desconhecidas, os neurônios epilépticos em um foco começam a disparar em conjunto, e são esses surtos sincronizados dos neurônios que produzem os picos epilépticos no EEG. A atividade sincronizada pode ficar restrita ao foco até que o ataque termine, ou espalhar-se para outras áreas do cérebro - porém, no caso de convulsões parciais, ela não se espalha para todo  o cérebro. Os sintomas comportamentais específicos de uma convulsão epiléptica parcial dependem de onde as descargas perturbadoras começam e para que estruturas se espalhem. Como as convulsões parciais não envolvem todo o cérebro, elas normalmente não são acompanhadas por perda total de consciência ou de equilíbrio.


Fonte:
Biopsicologia – John P. J. Pinel
Para saber mais acesse:


sábado, 16 de março de 2013

O caso Lorena Bobbitt






Era apenas mais um dia na vida de Lorena Bobbitt. Seu marido, John Wayne Bobbitt, chegou em casa tarde e, de forma grosseira, a abordou sexualmente. Dessa vez ela o recusara por estar bêbado. Embora ela o tenha recusado, John dominou o seu 1,55 m de altura e a estuprou. Às quatro horas da madrugada, Lorena,de posse de uma faca de cozinha trinchante, mutilou o marido enquanto ele dormia. Em seguida, colocou o pênis, com gelo, dentro de um saco com fecho de correr e saiu de carro, levando-o na mão, enquanto dirigia pela cidade. Por fim, acabou jogando o saco pela janela do carro e seguiu em direção à casa de uma amiga. Lorena, uma manicure, então com 24 anos, até essa noite parecia viver uma vida normal e monótona. O que poderia te-Ia levado a praticar um ato tão agressivo? De acordo com o que Lorena relatou posteriormente, John a havia maltratado emocional, física e sexualmente durante todo o tempo em que estiveram casados. Em algumas ocasiões ele a surrou, obrigou-a a ter-relações anais e chegou a forçá-Ia a praticar aborto.Ela reclamou, também, que ele nunca, jamais, a esperou chegar ao orgasmo. Contudo, se isso tivesse continuado por mais quatro anos, o que seria diferente em relação a essa noite em particular? Lorena disse que naquela noite, depois de ser agredida começou a ter lembranças de todos os outros momentos em que seu marido a havia aterrorizado. Disse que, a partir daquele momento, havia perdido a noção da realidade e que, no instante em que atacou o marido, não estava controlada. John. então com 26 anos, negou haver molestado a própria mulher, embora tenha admitido casos extra conjugais. Estava Lorena apenas se vingando de sua infidelidade e certificando-se de que ele nunca mais pudesse traí-Ia sexualmente? O que diria Freud sobre tudo isso se estivesse vivo? De acordo com a teoria psicanalítica, há muito mais coisas ocorrendo na nossa frente do que nossos olhos podem ver: o comportamento de Lorena provavelmente teria sido atribuído a motivos inconscientes, influenciados por conflitos sexuais internos. Ela não era necessária e totalmente uma vítima porque, afirmam os freudianos, muitas mulheres têm o desejo inconsciente de sofrer (como comprovado pelas várias mulheres, machucadas que permanecem em relacionamentos deteriorados). Explicação mais provável seria a de que o problema de Lorena consistia na incapacidade de controlar o próprio id, o qual estava procurando liberar a sua tensão IibidinaI. Em poucas palavras, Lorena estava sofrendo de inveja do pênis, sentimento comum à maioria das garotas, mas poucas agem diretamente. Se Lorena tivesse podido ter seu bebê, isso poderia ter sido evitado. Dar à luz é uma das formas por meio da qual o ego tenta satisfazer o desejo da mulher quanto a sentimentos de força e auto-estima, que os homens tem em virtude da anatomia masculina. Em vez disso ela foi compeli da pelo marido a abortar. Talvez, por isso, ainda tenha procurado recapturar o pênis que lhe havia sido negado no nascimento. Esses sentimentos de desejo ajudam a explicar porque ela preservou cuidadosamente o órgão do marido em um saco fechado com gelo - o pênis era valioso para ela. O que é muito incomum nesse caso é Lorena ter sido de fato totalmente influenciada pela preocupação com o pênis do marido. De acordo com a teoria freudiana, esses conflitos são inconscientes e, portanto, em geral, se apresentam de outras formas.
Lorena afirmou que ela "queria apenas que ele desaparecesse". Mas é interessante que a maneira como ela o tirou da sua vida foi pela remoção do pênis, tornando-o, na visão freudiana, um homem sem valor e inferior. Além disso, esse golpe de vingança indiretamente lhe permitiu obter um pênis só seu.
Lorena foi julgada e absolvida porque suas pulsões foram consideradas irresistíveis. O júri chegou à conclusão de que ela não poderia ter tomado precauções para impedir que ela mesma praticasse esse ato. Portanto, de certa forma, a sociedade moderna aceita a ideia de conferir demasiado poder a motivações inconscientes. Freud teria dito que o ego e o superego de Lorena deixaram de controlar suas pulsões internas e o id venceu a batalha pelo que ele mais desejava. Na verdade, a teoria freudiana foi objeto de discussões acaloradas sobre a teoria do ponto de vista legal. Aos olhos da lei, se às vezes somos controlados pelo id, como podemos ser considerados responsáveis por nossas ações?
O caso Bobbitt é um bom exemplo para abrir uma discussão sobre os pontos positivos e as fragilidades das teorias de Freud. Por um lado, é quase impossível, algum dia, revelar, de maneira francamente científica, as verdadeiras motivações de Lorena. Por outro, a tremenda  fascinação por esse caso no mundo inteiro indica que algo muito importante do comportamento humano - algum segredo profundamente sombrio – foi tocado, da mesma maneira que o doutor de Viena teria  previsto.


Fonte:
Friedman & Shustack - Teorias da Personalidade