quinta-feira, 15 de outubro de 2015

TRABALHO E SAUDE MENTAL – UMA INTRODUÇÃO



As doenças laborais, síndromes e transtornos mentais relacionados ao trabalho sempre estiverem presentes no histórico da saúde do trabalhador. A partir dos novos modelos de gestão houve uma maior demanda por parte dos indivíduos, como aumento de ritmo de trabalho e de responsabilidades, polivalência, atividades antes não exercidas. Consequentemente houve, também, aumento de exigências físicas e mentais impostas pelo desempenho em seu trabalho, muitas vezes, além do que o sujeito suporta levando-o a rápida degeneração física e psicológica.
A saúde do trabalhador, tanto física quanto mental, está diretamente ligada ao ambiente laboral do indivíduo, onde se busca a realização pessoal através do trabalho. Quando esse trabalhador vê suas expectativas frustradas, após investimento de recursos físicos e afetivos, passa a ter uma sensação de despersonalização, exaustão emocional crônica e diminuição da capacidade de relacionar-se interpessoalmente, afetando significativamente a relação subjetiva com o labor. São várias as categorias profissionais afetadas por esta síndrome e entre elas algumas se destacam tais como professores, enfermeiros, policiais e funcionário públicos.
Segundo as estatísticas do INSS, os transtornos mentais ocupam a 3ª posição entre as causas de concessão de beneficio previdenciário como auxilio doença, afastamento do trabalho por mais de 15 dias e aposentadorias por invalidez (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2001). Números estes apontados em levantamento realizado com base no trabalhado formal, ou seja, com anotação do contrato de trabalho na CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social).
Com o crescente aumento das doenças laborais e transtornos mentais relacionados ao trabalho tornou-se necessário aprofundamento nos estudos na área da Saúde do Trabalhador e uniformização de conceitos, havendo um enfoque, então, para os transtornos mentais, tratados pela Psicologia e Psiquiatria, como pode ser visto em trabalhos de Zanelli (2008), Glina (2013) e Sauter (2005).
Os estudos sobre esse tema se justificam, pelo grande número de pessoas que são acometidas pelas síndromes laborais, por causar grandes prejuízos aos trabalhadores, às instituições/empresas e à previdência social, bem como, corroborar a necessidade da inserção do psicólogo nas organizações com intuito de prevenção, promoção de saúde junto aos trabalhadores e identificação das doenças associadas ao trabalho.

A compreensão do trabalho como emprego, confere ao mesmo um sentido de caráter instrumental. Sem outras características que confiram sentido ao que é realizado, o trabalho se transforma em fonte de alienação, estranhamento e deterioração. .Nesse contexto, a satisfação e o prazer por meio do trabalho não existem. O indivíduo está sempre passível de ser, sob diversas formas, ameaçado no trabalho, seja pela repercussão de seu desempenho, seja pelo desemprego (CIMBALISTA, 2006).
Dado ao crescente aumento de transtornos mentais nas atividades laborais e às novas leis de proteção à saúde do trabalhador, surgem  nos campos da Psicologia e da Psiquiatria, novas especialidades  que, amparadas pelos conhecimentos da área da Saúde Mental e do Trabalho, vêm atender às necessidades dessa parcela da população, tais como psicólogo da saúde ocupacional.
No Brasil, segundo as estatísticas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), de 2001, os distúrbios psíquicos ocupam o terceiro lugar entre as causas de concessão de benefício Previdenciário, com afastamento do trabalho em tempo superior a 15 dias e de auxílio doença por invalidez (DUARTE, 2010).
O conceito de saúde também está vinculado a uma adaptação ativa à realidade e, qualidade de vida implica em satisfazer necessidades e alcançar expectativas. Como passamos no trabalho a maior parte de nossas vidas será da qualidade de suas condições que decorrerá uma vida melhor, com menos desgaste físico e emocional que, quando acentuados, podem levar à corrosão da dignidade e da vontade. As satisfações ou insatisfações provenientes do ambiente psicossocial do trabalho refletem na vida pessoal, ao mesmo tempo em que as realizações e problemas da vida pessoal refletem no trabalho. Gestores preocupados com valores humanos dignos assumem a responsabilidade de manter a saúde e o bem-estar da comunidade organizacional (ZANELLI, 2008).
Com o intuito de amenizar as formas de psicopatologização do trabalho, as empresas que empregam o modelo de prevenção, saindo do modelo biomédico, diminuem custos, tanto econômicos quanto operacionais para o empregador, e consequentemente oferecem maior qualidade nas condições de trabalho para o funcionário, diminuindo assim, o risco de adoecimento do trabalhador que pode resultar  no presenteísmo, o que muitas vezes pode ser mais preocupante do que o absenteísmo.


Os Transtornos mentais laborais são uma das consequências decorrentes das mudanças da pós-modernidade ocorridas no mundo do trabalho.
 Novas modalidades de organização do trabalho mais flexíveis, porém, não menos severas, impõe impacto ao aparelho psíquico refletindo sofrimento ao corpo físico.
Corpo e mente são rapidamente absorvidos por avanços tecnológicos, pela velocidade das transformações e informações, por esse mundo do trabalho que exige rápida e contínua adaptação onde, a cada mudança, a ideia anterior tornou-se obsoleta.

O adoecimento do trabalhador na ontemporaneidade necessita, ainda, de muitos estudos, devido a sua relevância e motilidade.  Por um lado as exigências da dinâmica organizacional, independente do modelo adotado, causando tensão ao trabalhador, em busca da excelência nos serviços e, por  outro,  a  expectativa do mesmo por prazer imediato, altos salários, status social, relações interpessoais perfeitas. O sucesso ou o fracasso do trabalhador determinará o desfecho desse impasse.

As medidas mais efetivas para amenizar os efeitos deletérios de longas jornadas de trabalho, tarefas estressantes e a busca incessante pela perfeição ainda giram em torno de mudanças no estilo de vida do trabalhador e  mudanças dentro das organizações, no sentido de melhorar as condições de trabalho permitindo ao indivíduo usufruir sua liberdade de escolha a fim de construir sua identidade, não apenas a partir de sua performance mas a partir de sua subjetividade.