Estudos pré-clínicos em animais têm demonstrado uma mediação de sintomas
hipersexuais pelo Sistema Temporolímbico. Têm sido desencadeadas
ereções em primatas por estimulação direta do Sistema Límbico. A
hipersexualidade tem sido documentada em ratos depois de crises límbicas
crônica e artificialmente induzidas. Verificou-se que lesões bilaterais dos
lobos temporais resultam na síndrome de Klüver-Bucy, caracterizada
por comportamento hipersexual e outros desequilíbrios do comportamento social.
Lesões específicas do Sistema Límbico, como lesões da área septal,
também têm demonstrado levar a aumento do comportamento sexual.
Estudos de
estimulação elétrica têm confirmado que estruturas límbicas, particularmente a
área septal, associam-se a intenso prazer. A síndrome de Klüver-Bucy tem
sido relatada no homem (Duggal, 2000). Nela, contudo, podem ocorrer
alterações da preferência sexual mais comumente do que hipersexualidade
isolada. Relata-se hipersexualidade depois de tumores do lobo temporal, de
lesão septal ou de AVC do lobo temporal. Relatou-se erotomania em pacientes com
disfunção frontal e temporal.
Sexualidade
e Lobo Frontal
A relação entre transtorno cerebral disrítmico e transtornos sexuais tem sido estudada há muito tempo. Muitos estudos verificaram uma associação entre Epilepsia do Lobo Temporal e hipoatividade sexual, enquanto foi menos comumente relatada uma associação com hiperatividade sexual ou parafilia. Todavia, em vários casos mais antigos, notaram-se parafilias em pacientes com Epilepsia do Lobo Temporal e um estudo antigo de pacientes com Epilepsia do Lobo Temporal verificou que as parafilias associavam-se a lesão do lobo temporal.
Demerdash e cols.
verificaram que, em mulheres com Epilepsia do Lobo Temporal, eram
comuns a hipossexualidade e o exibicionismo, associando-se a anormalidades
eletroencefalográficas do lobo temporal (Demerdash, 1991). Também pode
ser visto aumento do comportamento sexual logo depois da convulsão, sugerindo a
desinibição de outras estruturas na Epilepsia do Lobo Temporal.
Mas, se existe
alguma dificuldade em associar disritmia cerebral e alterações sexuais, o
inverso é verdadeiro, ou seja, pacientes com parafilias e alterações da
sexualidade podem apresentar anormalidades do lobo temporal. Alguns estudos no
travestismo relacionam essa parafilia a um aumento das anormalidades do lobo
temporal no eletroencefalograma. Uma série de estudos com tomografia
computadorizada sugeriu anormalidades do lobo temporal no sadismo sexual e nas
agressões sexuais, mas não na pedofilia e no exibicionismo. Raine analisou
estudos de imagens estruturais e funcionais do cérebro em agressores sexuais e
sugeriu que as agressões violentas podem associar-se à disfunção frontal,
enquanto as agressões sexuais podem associar-se à disfunção temporal (Raine,1998,
2000).
No contexto
sexual-cerebral, é interessante observar que pacientes com sintomas
hipersexuais são relacionados dinamicamente como tendo história de abuso sexual
na infância mas, na ausência de estudos mais acurados, qualquer ligação causal
entre esses dois fatos deve permanecer apenas na esfera especulativa.
Complicações
Clínicas
As pessoas com Comportamento Sexual Compulsivo podem desenvolver complicações clínicas em decorrência direta de seu comportamento sexual. As complicações, em potencial, incluem lesões genitais (contusões) e doenças sexualmente transmissíveis (hepatite B, herpes simples ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana).
Podem ocorrer
lesões físicas nos comportamentos sexuais de alto risco ou na atividade
sadomasoquista. Nas mulheres, podem ocorrer gestações não desejadas e
complicações de aborto. Alguns pacientes podem ser submetidos a cirurgias
desnecessárias, particularmente cirurgia plástica, para aumentar o apelo sexual
(implantes de mama, transplantes capilares e lipoaspiração).
Existem muito
poucos estudos da psicobiologia da hipersexualidade. Todavia, a literatura
realmente sugere a possibilidade de uma neurobiologia para a hipersexualidade.
Há evidências de diferentes sistemas cerebrais que podem desempenhar um papel
neste transtorno.
Lesões frontais,
por exemplo, podem ser acompanhadas por desinibição, por resposta hipersexual
impulsiva, enquanto lesões estriatais podem ser acompanhadas por
desencadeamento repetitivo de padrões de resposta gerados internamente. Lesões
límbicas temporais podem ser acompanhadas por desequilíbrios do próprio apetite
sexual, inclusive alteração do direcionamento do impulso sexual.
Complicações
Sociais
As pessoas com Comportamento Sexual Compulsivo podem ser responsáveis por algumas complicações sociais sérias. Desafetos com amigos e familiares, envolvimentos policiais, perda de empregos, perda da reputação moral e toda sorte de desadaptação social e familiar em decorrência direta de investidas, assédios e relacionamentos sexuais.
Os valores mais
permissivos da sociedade moderna favorecem, sobremaneira, a desenvoltura sexual
dos portadores de Comportamento Sexual Compulsivo. Essas
pessoas não titubeiam em ceder às facilidades sexuais atuais e não costumam
estabelecer limites para sua atividade, podendo envolver-se com menores de
idade, prostitutas, homossexuais, enfim, expondo-se a um risco social muito
grande.
Complicações
Familiares
Os portadores de Comportamento Sexual Compulsivo costumam ser cônjuges complicados. Primeiramente devido ao apetite sexual maior que do(a) parceiro(a), submetendo este(a) à uma atividade nem sempre prazerosa ou desejada. Em segundo, devido às maiores probabilidades à infidelidade e, em terceiro, devido maiores possibilidades de envolvimentos sexuais com amigos ou familiares, aumentando mais ainda o constrangimento.
Complicações
Pessoais
O Comportamento Sexual Compulsivo poderá ser egosintônico, como vimos, na eventualidade da pessoa estar consoante ao seu comportamento ou, egodistônico, caso discorde de suas atitudes e se recrimine de sua sexualidade. Essa situação, entretanto, não é fixa e definitiva, isto é, poderá ser egosintônico numa fase da vida ou num momento e egodistônico em outro.
Nas fases mais
precoces da vida (adolescente ou adulto jovem), normalmente a pessoa mantém-se
de forma egosintônica, com auto-estima elevada devido à aceitação cultura de
sua performance e devido ao próprio prazer (mais ou menos inconseqüente) que
essa hiperatividade resulta.
Em fases mais
tardias a tendência é haver um sentimento egodistônico retroativo, ou seja, com
arrependimentos sobre a conduta anterior, lamentações sobre eventuais condições
melhores de vida caso fosse mais comedido sexualmente e coisas assim.
Conclusões
Pensa-se sobre a existência de uma síndrome caracterizada por fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos ou comportamentos sexuais envolvendo padrões que não são suficientemente anômalos para se encaixar na definição de parafilia.
Essa condição
parece se associar a morbidade significativa na medida em que produz
sofrimento, ansiedade e/ou arrependimento, portanto, sendo mórbida, há quem vê
nisso boas razões para colocá-la junto aos transtornos sexuais do DSM-IV
(havendo já uma classificação no CID.10 como F52 - Apetite Sexual
Excessivo).
Os termos
compulsivo, aditivo e impulsivo têm proporcionado um certo valor semiológico à
compreensão e diagnóstico de pacientes com hipersexualidade patológica.
Entretanto, devemos ter um cuidado especial sobre a possibilidade de se atrelar
um rótulo psiquiátrico a toda e qualquer variação do comportamento humano, sob
o risco de eximir quaisquer responsabilidades ao arbítrio da pessoa.
Conclui-se, também,
haver uma sobreposição ou concomitância entre atitudes de hipersexualidade e
outras afecções psiquiátricas, tais como e principalmente, o Transtorno
Obsessivo Compulsivo, o Transtorno por Abuso de Substâncias e Transtorno
do Controle dos Impulsos, assim como uma sobreposição ou concomitância com
algunsTranstornos da Personalidade, notadamente do tipo Histérico e Obsessivo-Compulsivo.
Há ainda
possibilidades da hipersexualidade ser apenas um sintoma de outras alterações
neuro-psiquiátricas subjacentes, como algumas epilepsias fronto-temporais,
disfunções frontais, seqüelas neurológicas de lesões vasculares, demência ou
outros quadros organomentais.
Existem autores
sugerindo que o Comportamento Sexual Compulsivo possa
aparecer de 2 formas; com ou sem Parafilia, obviamente mais
patológico quando com Parafilia. Entretanto, em nossa opinião, nada impede que
o diagnóstico correto seja de Parafilia com Comportamento Sexual
Compulsivo, o que não justificaria “idealizarmos” uma outra patologia
nova para um comportamento hipersexual.
Não está claro
ainda se a denominação mais correta seria Transtorno Hipersexual,
Hipersexualidade Patológica ou Comportamento Sexual
Compulsivo, assim como não está perfeitamente estabelecido se existe,
de fato, uma doença com essas características. Há dúvidas ainda sobre o fato do
comportamento hipersexualizado ser um sintoma de outra patologia psiquiátrica
ou, temerariamente, ser apenas uma tendência de psiquiatrizarmos atitudes e
comportamentos humanos variantes.
Fonte:
Ballone GJ, Moura EC - Comportamento Sexual Compulsivo
Ballone GJ, Moura EC - Comportamento Sexual Compulsivo
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