Uma compreensão clara da
formação da personalidade humana e da sua psicodinâmica, requer um entendimento
do que seja ego ou self, o Eu.
O conceito de self vem sendo trabalhado pelos teóricos das relações objetais e da Psicologia do Self. Dentre os autores, Daniel Stern (1985) é o autor que apresenta os estágios normais de desenvolvimento do senso de self. Ele afirma que o senso de self se desenvolve na matriz do relacionamento, através das diferentes capacidades que emergem ao longo da infância.
Os estágios são os seguintes:
Senso de si mesmo que inclui a experiência de auto-direcionamento – “Eu faço meu pé chutar, eu posso fazer isto”.
Senso de auto-coesão – “tenho fronteiras, há uma parte que sou eu e outra que não sou eu”.
Senso de self de que eu sinto coisas, eu sinto algo.
Senso de continuidade no tempo – mesmo que as coisas mudem, algo permanece no tempo.
8 meses a 15 meses: Self Intersubjetivo – a criança percebe que tem uma mente e os outros também têm uma mente. Senso de partilhar estados internos. A criança percebe que tem sua própria intenção e sua mãe tem intenções também. As vezes são bem diferentes, mas podem ser comunicadas. Uma pequena palavra como “banho” significa uma série de ações.
Descobre que podem partilhar sentimentos; a criança cai, olha para a mãe e encontra uma expressão de dor em seu rosto. Então, ela descobre que sentimentos podem ser partilhados. O bebê depende do afeto compartilhado com a mãe para orientar-se e decidir sobre sua experiência. Mãe/pai têm um grande poder de influenciar seus bebês através do afeto que partilham. Afeto não compartilhado ou transformado em outro, deixa o bebê sem referência para compreender e ter um senso de self adequado sobre aquela experiência.
Compartilhar atenção, sentimentos, motivações, tudo em um nível pré-verbal, é fundamental para a organização saudável do self. São respostas sociais que constroem o senso de pertencimento.
A experiência intersubjetiva compartilhada também traz o senso de conhecer e ser conhecido. O compartilhar dessa fase estimula a motivação para desenvolver a linguagem – “quero poder partilhar mais e então quero aprender a falar para poder comunicar meus estados internos”.
16
meses a 3 anos: Self Verbal – o eu que conheço através da comunicação verbal. O
desenvolvimento da linguagem é, de certa forma, uma “faca de dois gumes”. Ao
mesmo tempo que aumenta a capacidade de comunicar, traz a experiência de
isolamento, na medida em que as palavras não conseguem expressar plenamente a
experiência interior. A linguagem é, simultaneamente, uma forma de estar mais
próximo, uma forma de experienciar nossa independência e também uma experiência
de isolamento.
3 anos: Self Narrativo – como as crianças constroem uma narrativa sobre seu próprio self. Como constroem suas próprias histórias. As histórias não são contadas de forma cronológica (“Aconteceu isto, e depois aconteceu isto...”) e sim através de uma ordenação pelo valor emocional. Sendo capaz de criar sua própria história, o que a criança faz é criar significado para sua própria experiência.
Senso de Eu
Emergente, definida por Daniel Stern como sendo a primeira dimensão subjetiva
em que a o mundo é apreendido através de percepções das variações de
intensidades afetivas que dão densidade a nossos gestos e expressões, as quais
denomina afetos de vitalidade (Stern, 1987). Os afetos de vitalidade não são
sentimentos, mas o que dá a tonalidade à expressão dos sentimentos. Podemos
apreendê-los melhor utilizando termos dinâmicos como “explosivo”, “lento”,
“iniciando”, “acelerando” (Idem). Segundo Stern, a emergência da relação do
bebê com o mundo depende de uma certa constância nas variações dessas
intensidades no atos das pessoas que cuidam dele em suas primeiras semanas de
vida. A percepção dessas variações e de suas constâncias cria as condições de
sintonia afetiva e de sentimento de continuidade, aspectos fundamentais para
que a criança tenha uma experiência de acolhimento. Rupturas muito intensas,
ausência de sintonia ou sintonia excessiva, tais como são descritas pelo autor,
teriam o efeito traumático, que aproximamos do que foi sinalizado por Ferenczi
sobre a tendência ao adoecimento e à expressão do sofrimento pelo corpo,
percebida em certos pacientes cuja história revela o não acolhimento ao nascer
(Ferenczi; 1929).
Fontes:
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