O ego de Hugh Grant
Eram 1h30 da madrugada em Los Angeles. Um homem voltava para casa após um demorado
jantar. Descendo a Sunset Strip em sua BMW branca, viu uma mulher caminhando. Parou o carro e deu-lhe
45 dólares. Ela entrou no carro e em seguida ele o estacionou em uma rua secundária.
Quando já estavam no banco de trás, um carro da polícia aproximou-se; o policial
fez algumas perguntas e imediatamente prendeu o casal. Essa teria sido uma noite
comum em Los Angeles, não fosse o fato de o homem na fotografia de identificação
tirada pela polícia ser o ator Hugh Grant. Uma celebridade naquele momento, Grant
já havia estrelado uma série de filmes de sucesso. Não apenas sua carreira de ator
chegava ao ponto máximo tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, mas sua
vida pessoal igualmente estava no ápice; Grant estava noivo de sua namorada de
vários
anos, Elizabeth Hurley, porta-voz da
Estée Lauder. Então, por que esse indivíduo, de 34 anos, que alcançara o estrelato
e estava noivo de uma top model arriscaria sua imagem de homem, no topo da carreira,
para usar uma prostituta na rua? Para Grant, Stella Thompson (também conhecida por
"Divine Brown"). segundo boatos, era a imagem de suas fantasias sexuais.
Ela era morena, sensual e ilegal. Como fantasia, Divine Brown pode ter simbolizado
algo que Grant, ao crescer, sentiu que não podia ter. Por ser visto pela mãe, uma
professora de inglês, como um adolescente educado que mais tarde faria um curso
superior, em Oxford, Grant provavelmente era controlado e guiado por valores socialmente conservadores. Ele
chegou a admitir que havia crescido desejando algo que não podia ter, ou, mais
exatamente, alguém ou um tipo de pessoa. Isso foi ilustrado pela lembrança de que
ele sempre tinha intensa e passageira paixão por líderes de torcida, principalmente
as católicas. Os psicanalistas possivelmente diriam que Grant cresceu com o conflito
interno entre o id, que deseja fantasias proibidas, e o superego, que (normalmente)
reprimiu nele esse arquétipo de fruto proibido. O ego de Grant não estava
apto a negociar uma conciliação perfeita
para o id (a despeito de Elizabeth Hurley) porque não é possível ter essas
mulheres proibidas de maneira social e moralmente aceitável. Porém, à medida que
Grant foi ficando mais famoso, o id, ainda disposto a conseguir tudo, passou a
exercer influência ainda maior. Além disso, Grant não havia tido nenhum problema
de comportamento nos últimos tempos portanto, talvez seu superego estivesse desarmado;
para ele, as restrições da sociedade não eram proeminentes. Mas foi seu ego que
o desamparou. Vários atores de sucesso de Hollywood desenvolvem problemas de
ego. Em vez de lidar com os desafios para atingir a maturidade
e a sabedoria, eles nadam em adulações falsas e superficiais de um público
afetuoso que vê a imagem deles, mas não enxergam a verdadeira personalidade.
Alguns anos depois desse incidente, Grant
afirmou em uma entrevista que detesta atuar e queria ter escolhido o que considera,
honestamente, um caminho mais criativo como escrever roteiros ou livros. Contudo,
como ele mesmo admitiu, acha que lhe falta a auto disciplina para
assumir essa tarefa. E, a despeito de sua separação pública de Elizabeth Hurley,
Grant acredita que eles mantêm uma relação de dependência mútua,e que ele realmente
não consegue atuar sem ela. Essa insatisfação, tanto com a carreira quanto com
o amor, encaixa-se no conceito de deficiência do ego. Quando estava descendo a
Sunset Boulevard, Hugh Grant foi seduzido pelo antigo desejo de ter o que era
moral e socialmente inaceitável – a mulher proibida, mas sexualmente atraente.
Ele tinha dinheiro, era importante, admirado por todos, então, por que não? Com
um ego bem desenvolvido que analisasse a realidade e dissesse para ele que sua
indulgência era irracional, desleal com sua noiva, ilegal, perigosa e maluca, ele
não teria parado o carro. A teoria psicanalítica defenderia que todo esse fiasco
podia ser remontado a um dos primeiros desejos do id de Grant, reprimido pelo superego.
No entanto, os neo-analistas focalizam mais o ego de Hugh Grant - sua percepção
de quem ele era e do que deveria estar fazendo. Grant tinha tudo e estava
habituado a conseguir o que desejava. Por que não parar?
Fonte:
Friedman & Shustack - Teorias da Personalidade
Fonte:
Friedman & Shustack - Teorias da Personalidade
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