Para Pichon vínculo é definido como "uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua interelação com processos de comunicação e aprendizagem." (Pichon, 1988)
Ao elaborar a teoria do vínculo, Pichon a
diferencia da teoria das relações de objeto concebida pela Psicanálise (que
descreve as possíveis relações de um sujeito com o objeto sem levar em conta a
volta do objeto sobre o sujeito, isto é, uma relação linear), propondo, então,
o estudo da relação como uma espiral dialética onde tanto o sujeito como o
objeto se realimentam mutuamente.
É sempre uma situação em forma de espiral
contínua, onde o que se diz ao paciente por exemplo-interpretação, no caso de
um vínculo terapêutico- determina uma certa reação do paciente que é assimilada
pelo terapeuta que, por sua vez , a reintroduz em uma nova interpretação.
A teoria do vínculo também pode ser enunciada
como uma estrutura triangular, ou seja, todo o vínculo é bi-corporal, mas como
em toda a relação humana, há um terceiro interferindo, olhando, corrigindo e
vigiando (alguns aspectos do que Freud chamou como complexo superego). Esta
estrutura inclui no esquema de referência o conceito de um mundo interno em
interação contínua, origem das fantasias inconscientes.
" A fantasia inconsciente é então
produto de interações de vínculos entre os objetos do grupo interno, que pode
condicionar uma imagem distorcida em distintos graus do mundo exterior,
particularmente do papel do outro cuja percepção está portanto determinada por
situações de reencontro de objetos desse grupo interno."
À partir daí e do processo de interação
grupal que surgem as fantasias básicas universais do grupo, que segundo Pichon,
bloqueiam a atividade grupal no momento da pré-tarefa, determinando a
utilização de técnicas defensivas (à partir da presença dos medos básicos,
ansiedade de perda e ataques) que estruturam o que se denomina resistência à
mudança. É então no momento da tarefa que acontece a abordagem e elaboração das
ansiedades, e que se efetua um salto por somação quantitativa de insight
através do qual se personifica e se estabelece uma relação com o outro
(diferenciado).
O grupo operativo age então de forma a
fornecer aos participantes, através da técnica operativa, a possibilidade de
sedarem conta e explorar suas fantasias básicas, criando condições de mobilizar
e romper suas estruturas estereotipadas. Daí a importância da análise da
vínculo tanto em termos intersubjetivos como intra-subjetivos para permitir um
aprofundamento no estudo da interação grupal.
Pichon, concebe o vínculo como uma estrutura
dinâmica em contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito como o objeto e
afirma que está estrutura dinâmica apresenta características consideradas
normais e alterações interpretadas como patológicas. Considera um vínculo
normal aquele que se estabelece entre o sujeito e um objeto quando ambos têm
possibilidades de fazer uma escolha livre de um objeto, como resultado de uma
boa diferenciação entre ambos.
"Em nenhum paciente apresenta um tipo
único de vínculo: todas as relações de objeto e todas as relações estabelecidas
com o mundo são mistas. Existe uma divisão que é mais ou menos universal, no
sentido de que por um lado se estabelecem relações de um tipo, e por outro, de
um tipo diverso". ( Pichon-Riviére, 1991) Sendo assim, uma pessoa pode
estabelecer um vínculo paranóico por um lado, e por outro um vínculo normal ou
ainda um vínculo tendendo à hipocondria, isso porque as relações que o sujeito
estabelece com o mundo são variadas, bem como as estruturas vinculares que
utiliza.
O vínculo se expressa em dois campos
psicológicos: interno e externo. É o interno que condiciona muito dos aspectos
externos e visíveis da conduta do sujeito. O processo de aprendizagem da
realidade externa é determinado pelos aspectos ou características obtidas da
aprendizagem prévia da realidade interna, a qual se dá entre o sujeito e seus
objetos internos.
O vínculo não necessariamente se dá de forma
individual (duas pessoas), ele pode se dar de forma grupal, chegando a se
estender a uma nação, o qual pode ser influenciado pelas mesmas características
as quais influenciam um vínculo estabelecido com duas pessoas ( vínculo
individual ).
A respeito dos conceitos de papel e vínculo,
Pichon (1991) afirma que esses conceitos se entrecruzam e por isso uma terapia
centrada nesse sentido deve abordar tanto a estrutura do vínculo, como os
diversos papéis, os quais terapeuta e paciente se atribuem. Logo, o papel se
inclui na situação do vínculo. Ele se caracteriza por ser transitório e possuir
uma função determinada, a qual pode aparecer em um determinada situação e em
cada pessoa de forma particular. Ou seja, a forma como lidamos com determinados
contextos concretos influenciará a nossa atitude; de uma maneira mais simples
as várias formas de lidarmos com os problemas, a isso Pichon atribui a
denominação de papéis. Dessa forma, para Pichon o papel do coordenador no grupo
operativo é o de " coopensor", isto é aquele que pensa junto com o
grupo, ao mesmo tempo que integra o pensamento grupal, facilitando a dinâmica
da comunicação grupal.
Dessa forma, com a Teoria do Vínculo, Pichon
considera o indivíduo como uma resultante dinâmica, não da ação dos instintos e
objetos interiorizados, mas sim do interjogo estabelecido entre sujeito e os
objetos internos e externos por meio de uma interação dialética, a qual pode
ser observada através de certas condutas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário