A antropologia nos dá
elementos para entender que a Natureza nunca foi soberana, ou seja, não é a
maneira determinante de constituir laços na humanidade; ao contrário,
acompanhando o quão criativas as diferentes culturas podem ser no encontro de
soluções para os problemas que se colocam, podemos reconhecer que o laço social
e simbólico sempre prevalece sobre o dado biológico.
As noções de maternidade
e paternidade são freqüentemente confundidas com um funcionamento supostamente
“natural” da reprodução humana, uma vez que se apresentam sustentadas por um
sistema de valores e idéias que tem velada a sua natureza de construção
cultural.
A
maternidade, categoria também presente nas discussões acerca do “ser feminino”
é entendida aqui como uma construção social. Como tal, está diretamente
associada às modificações pela qual a família tem passado a partir de
transformações que permitiram, entre outras questões, a organização dos Estados
modernos e a instalação da ordem econômica burguesa, principalmente do século
XVII em diante, em um movimento de constituição das chamadas sociedades
disciplinares.
Temática
bastante abordada nos diversos campos do saber, a maternidade carece ainda de
discussões que tenham uma perspectiva mais refutadora, dada a ‘sacralidade’ que
a cerca. Diria que nas sociedades ocidentais essa ênfase é ainda mais evidente.
A maternidade parece permanecer como um valor, sendo função social da mulher.
Permanece ainda um ranço herdado das ciências biológicas que associa o corpo
biológico da mulher ao corpo social. Há que se pensar a maternidade como
componente preponderante das estruturas do tecido social. Ainda que existam
variações de interpretações sobre a posição da mulher nas diferentes culturas
que assinalam sua condição como de maior ou menor exclusão da esfera pública ou
política das sociedades, o gênero significa nesse texto a distinção entre
atributos culturais assinalados a cada um dos sexos e a dimensão biológica dos
seres humanos.
A
ordem simbólica que se origina do gênero diz respeito, antes da descontinuidade
do que de qualquer outra propriedade intrínseca ao objeto; as categorias de
gênero são sempre culturalmente determinadas. Por conseguinte, é de
significativa importância retirar o ranço de ‘natural’ que existe nos discursos
correntes sobre posturas ‘de homem e de mulher’, suas posturas, atitudes,
valores. Essas identidades socialmente construídas acabam enfatizando uma
perspectiva relacional e sistêmica que prevalece nas construções de papéis e
identidades para ambos os sexos. É preciso retirar-lhes esse ‘traço natural’,
sobretudo na caso da mulher, cuja vinculação biológica do corpo a remete ao
lugar de maternidade por sua associação ao trabalho de cuidado com a prole. Há
uma carga simbólica de
atributo
pré-social da condição feminina ao papel reprodutivo.
As
raízes das ações que são explicadas como ‘instintivas’ ou ‘naturais’ para
algumas correntes do pensamento, podem ser localizadas no repertório das
práticas que as mulheres acumulam desde a tenra infância e são eivados de
valores muito específicos, de cada agrupamento culturalmente estabelecido. O
que pode se desdobrar num conflito, como pode ser escutado no cotidiano, por
exemplo: “toda mulher possui um instinto maternal”; “toda mulher nasce com o
dom de ser mãe”; entre outras das muitas frases que estão espalhadas por todos
os lados na sociedade e no imaginário feminino, como simples, inofensivas, mas
que acabam por se desdobrar em sofrimento. Nos mais diversos cenários. A
‘necessidade de ser mãe’, portanto, aparece sem questionamento, como ‘natural’.
Fonte:
Construção Social Da
Maternidade E Infância
http://74.125.47.132/search?q=cache:IfiMXQ7Jw6IJ:www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/ST37/Fontenele-Tanaka_37.pdf+constru%C3%A7%C3%A3o+social+da+maternidade+e+inf%C3%A2ncia&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&lr=lang_pt
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