Trabalho e Saúde Mental – uma introdução
As doenças laborais, síndromes e transtornos mentais relacionados ao
trabalho sempre estiverem presentes no histórico da saúde do trabalhador. A
partir dos novos modelos de gestão houve uma maior demanda por parte dos
indivíduos, como aumento de ritmo de trabalho e de responsabilidades,
polivalência, atividades antes não exercidas. Consequentemente houve, também,
aumento de exigências físicas e mentais impostas pelo desempenho em seu
trabalho, muitas vezes, além do que o sujeito suporta levando-o a rápida
degeneração física e psicológica.
A saúde do
trabalhador, tanto física quanto mental, está diretamente ligada
ao
ambiente laboral do indivíduo, onde se busca a realização pessoal através do
trabalho. Quando esse trabalhador vê suas expectativas frustradas, após investimento
de recursos físicos e afetivos, passa a ter uma sensação de despersonalização,
exaustão emocional crônica e diminuição da capacidade de relacionar-se
interpessoalmente, afetando significativamente a relação subjetiva com o labor.
São várias as categorias profissionais afetadas por esta síndrome e entre elas
algumas se destacam tais como professores, enfermeiros, policiais e funcionário públicos.
Segundo as estatísticas do INSS, os transtornos mentais ocupam a 3ª
posição entre as causas de concessão de beneficio previdenciário como auxilio
doença, afastamento do trabalho por mais de 15 dias e aposentadorias por
invalidez (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2001). Números estes apontados em
levantamento realizado com base no trabalhado formal, ou seja, com anotação do
contrato de trabalho na CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social).
Com o crescente aumento
das doenças laborais e transtornos mentais relacionados ao trabalho tornou-se
necessário aprofundamento nos estudos na área da Saúde do Trabalhador e
uniformização de conceitos, havendo um enfoque, então, para os transtornos
mentais, tratados pela Psicologia e Psiquiatria, como pode ser visto em
trabalhos de Zanelli (2008), Glina (2013) e Sauter (2005).
Os estudos sobre esse tema se justificam, pelo grande número de
pessoas que são acometidas pelas síndromes laborais, por causar grandes
prejuízos aos trabalhadores, às instituições/empresas
e à previdência social, bem como, corroborar a necessidade da inserção do psicólogo nas
organizações com intuito de prevenção, promoção de saúde junto aos trabalhadores
e identificação das doenças associadas ao trabalho.
A
compreensão do trabalho como emprego, confere ao mesmo um sentido de caráter
instrumental. Sem outras características que confiram sentido ao que é
realizado, o trabalho se transforma em fonte de alienação, estranhamento e
deterioração. .Nesse contexto, a satisfação e o prazer por meio do trabalho não
existem. O indivíduo está sempre passível de ser, sob diversas formas, ameaçado
no trabalho, seja pela repercussão de seu desempenho, seja pelo desemprego (CIMBALISTA,
2006).
Dado
ao crescente aumento de transtornos mentais nas atividades laborais e às novas
leis de proteção à saúde do trabalhador, surgem nos campos da Psicologia e da Psiquiatria, novas
especialidades que, amparadas pelos
conhecimentos da área da Saúde Mental e do Trabalho, vêm atender às
necessidades dessa parcela da população, tais como psicólogo da saúde
ocupacional.
No
Brasil, segundo as estatísticas do Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS), de 2001, os distúrbios psíquicos ocupam o terceiro lugar entre as
causas de concessão de benefício Previdenciário, com afastamento do trabalho em
tempo superior a 15 dias e de auxílio doença por invalidez (DUARTE, 2010).
O
conceito de saúde também está vinculado a uma adaptação ativa à realidade e,
qualidade de vida implica em satisfazer necessidades e alcançar expectativas.
Como passamos no trabalho a maior parte de nossas vidas será da qualidade de
suas condições que decorrerá uma vida melhor, com menos desgaste físico e
emocional que, quando acentuados, podem levar à corrosão da dignidade e da
vontade. As satisfações ou insatisfações provenientes do ambiente psicossocial
do trabalho refletem na vida pessoal, ao mesmo tempo em que as realizações e
problemas da vida pessoal refletem no trabalho. Gestores preocupados com
valores humanos dignos assumem a responsabilidade de manter a saúde e o
bem-estar da comunidade organizacional (ZANELLI, 2008).
Com
o intuito de amenizar as formas de psicopatologização do trabalho, as empresas
que empregam o modelo de prevenção, saindo do modelo biomédico, diminuem
custos, tanto econômicos quanto operacionais para o empregador, e
consequentemente oferecem maior qualidade nas condições de trabalho para o
funcionário, diminuindo assim, o risco de adoecimento do trabalhador que pode resultar no presenteísmo, o que muitas vezes pode ser
mais preocupante do que o absenteísmo.
Para
Silva (2007) as relações do indivíduo com o trabalho influenciam sua saúde e,
dependendo de seu nível de envolvimento com o trabalho, impõem adaptações ao
estilo de vida e mecanismos de enfrentamento que podem interferir em sua saúde
mental.
As
condições de trabalho e os transtornos mentais estão relacionados, conforme
relata Silva (2007, p. 31), mas nem sempre são identificados:
[...] quando
os trabalhadores procuram esta assistência, são subdiagnosticados, podendo,
desta forma, não receberem o tratamento adequado. [...] ou na prática médica
não psiquiátrica, isto se torna ainda mais relevante, se levar em consideração
a presença de comorbidades, que acabam por agravar o prognóstico de ambos os
problemas, tanto por piora do quadro clínico principal, quanto por adesão
inadequada aos tratamentos propostos.
Chor
et al (2003, p. 888) verificam, também, a associação dos TMCs a eventos
vitais produtores de estresse, como o baixo apoio social e com variáveis
relativas às condições de vida e trabalho, tais como,
baixa
escolaridade [...] condições precárias de moradia, baixas relações de trabalho.
O apoio social e o suporte emocional dado pela família e/ou amigos na
forma de afeto, companhia, assistência e informação, tudo que faz o indivíduo
sentir-se amado, estimado, cuidado, valorizado e seguro.
A
cronificação dos sintomas dos TMCs ou a exposição do indivíduo a estressores de
forma sistemática pode leva-lo ao adoecimento mental, incluindo-se a Síndrome
de Burnout.1
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