Segundo
Foucalt (1961) a tradição de acolher os alienados em asilos tem origem na
cultura árabe.
A
reclusão dos loucos teve várias modalidades durante a história.
O
nome manicômio designa mais especialmente o hospital psiquiátrico existiam já antes do séc. XIX. Acolhiam
apenas doentes mentais e ofereciam tratamento médico especializado sistemático;
embora sua função hospitalar ou médica fosse, então, reduzida a bem pouco,
visto que a figura do médico especialista em tratar loucos, o alienista, surgiria apenas no séc. XIX.
Já
os hospícios, eram prédios, que faziam parte de hospitais gerais, exclusivos
para loucos, onde não se dava tratamento médico, apenas abrigavam os alienados
ou marginalizados sociais.
No
séc. XVII proliferaram os hospícios, abrigando loucos e outros marginalizados.
Quando
eram perigosos ou agressivos, eram trancafiados junto com delinquentes comuns,
se tranquilos eram deixados em suaspróprias casas ou perambulavam pelas
estradas,
Alguns
eram recolhidos por instituições de caridade, que crescia o número no final do
séc. XII.
Nas
últimas décadas desse século, os alienados passaram a ser recolhidos em
hospitais gerais, em locais separados, lúgubres e insalubres. De costume eram
presos a correntes e confiados a guardas rudes, munidos de chicote e bastão.
A
mudança na condição de louco é pequena,
o uso de correntes e violência permanece
inalterados.
“No
início do séc. XVIII começavam a aparecer alguns hospícios ais amplos, menos
feios, mais arejados, com melhores condições sanitárias e já organizados para a
função hospitalar.” (Pessotti, 1996, p. 155)
Ainda
nesse século e início do séc. XIX, surgem numerosas instituições na Itália.
Ao
longo do séc. XIX os manicômios proliferam na Europa, principalmente Itália e
França (Século dos manicômios).
As condições de vida no Manicômio
Os
novos manicômios quando instalados em velhos edifícios não tinham instalações
adequadas, nem mesmo quando construídos para essa função, frequentemente
conservavam vários aspectos negativos dos velhos hospícios como: mobiliário
pesado, janelas altas, tudo fechado, maciço, trancado, oprimente. Tudo feito
para lembrar a todos “esta é casa dos loucos” (Ugolotti, 1949, p.42)
Por
outro lado no manicômio, desaparecem os meios mais cruéis de contenção e
punição que eram a marca dos hospícios.
Após
a reforma de Pinel nos dois manicômios parisienses houve um grande progresso no
tratamento do louco.
A
mera condição de movimentar-se já os restituía à condição humana. Os casos
passaram a ser registrados cotidianamente.
Era
essencial libertar os movimentos, o quanto possível, a locomoção e as relações
interpessoais dentro do manicômio.
As
algemas, castigos, enclausuramento impediam as manifestações naturais da
looucura assim como possibilitava um diagnóstico verdadeiro das alienações de
cada paciente.
Em
caso de necessidade de contenção, nos acessos de fúria, adotou-se o uso das
“camisas de força”, menos dolorosa, mais transitória e menos excludente do que
a cela ou o acorrentamento.
“Foi
justamente a reforma de Pinel que introduziu alguma racionalidade na acomodação
dos pacientes em locais diversos, segundo as peculiaridades da patologia [...]
o paciente agora está limpo, alimentado adequadamente, diagnosticado e tratado
[...]. Está em ambientes amplos, sem aspectos tétricos [...] Desenvolve
relacionamentos afetivos ou sociais.” (Pessotti, 1996, p. 165).
A
equipe médica, agora, os trata com cortesia, ou com autoridade, se necessário.
Se institui a relação médico-paciente na psiquiatria nascente, onde deve haver
equilíbrio entre firmeza e gentileza.
Para
pinel o manicômio livre de correntes torna-se fator terapêutico decisivo,
funciona como projeto de reeducação do alienado, que implicará em respeito às
normas e o desencorajamento de condutas inconvenientes.
O
Manicômio como Instrumento de Cura
Estilo
organicista de pensar e trabalhar dava ao médico maior arbítrio, tanto no
diagnóstico como no tratamento.
Neste
modo de trabalhar com a loucura, qualquer conteúdo afetivo da situação
terapêutica passa a ser irrelevante para o tratamento, uma atitude bondosa ou
autoritária em nada afetaria o problema do paciente, bem como as instalações do
manicômio.
Esquirol
diverge desse pensamento em seu tratado de 1838. O manicômio ideal deveria ser
um conjunto de edificações no plano térreo, separadas uma das outras. Com a
presença e a participação do médico em todo processo terapêutico.
“A
super população dos manicômios e o custo de manutenção são um problema grave
que se complicará em toda a Europa a partir da segunda década do séc. XIX. O
lugar de reeducação tranquila das ideias e dos hábitos, com os quais Pinel
sonhara, ficará, a cada dia, mais distante da realidade.” (Pessotti, 1996, pg.
176).
Esquirol
lutou pela preservação dos manicômios nos moles que Pinel idealizou. Argumentou
com as autoridades (1838) a respeito da direção e administração e chegou a
projetar, desde construção a localização, escolhendo materiais menos
dispendiosos, com a intenção que fossem mantidos os manicômios sem qualquer
desvirtuamento e o “tratamento moral” mantido.
Duas
décadas depois, na França, começa um movimento no sentido de retirar os
pacientes dos manicômios, ficando lá apenas os pacientes mais perigosos.
O
movimento engajou vários setores da sociedade como: imprensa, sociedades científicas,
instituições civis e foi fomentado também pela administração pública. Começa o
movimento de desinstitucionalização.
Por
volta de 1860 começa a retirada dos pacientes dos manicômios. As alternativas
eram:
1. Os
doentes permaneceriam com as famílias o;
2. Seriam
colocados em casa particulares com famílias estranhas;
3. Criação
de aldeias de alienados;
4. Criação
de colônias agrícolas anexas aos manicômios.
Havia
uma urgência em esvaziar os manicômios, que estavam superlotados, o que
aumentava o custo de manutenção para os cofres públicos.
Não
se discutia a utilidade do manicômio a utilidade do manicômio, mas sim reduzir
os custos da assistência pública.
Há
um outro risco em restituir o louco à sociedade: logo que saem do manicômio
abandonam o tratamento e cometem, novamente atos irracionais.
A
família, por sua vez, não aceita o alienado de volta, fato este que conserva
muitos internados indevidamente, lotando os asilos.
Uma
outra alternativa seria a colocação desses pacientes em casas isoladas com
famílias estranhas. Assim os alienados terem, além da convivência, liberdade de
movimentos, e seria assistido e supervisionado pelo médico.
Apesar
do movimento de desinternação dos alienados e de outras formas de tratamento
que foram instalados a partis do séc. XIX, os manicômios continuaram como
principal sistema de tratamento da loucura.
O
que mudou foram os métodos de tratamento e as condições de vida dos alienados.
Os
manicômios continuavam a abrigar a maioria dos alienados.
Cargos
de médicos assistentes foram criados. Surge o médico alienista contratado
temporariamente. Mais tarde é criado o cargo de assistente interno que tem a
obrigação de residir nas dependências da instituição .
Nesta
época foi feito um levantamento sobre o
trabalho no manicômio de Roma. – o Rediconto. O relatório registra as
incidências de loucura no pessoal da custódia (funcionários). Segundo Tebaldi a vida no manicômio põe em risco
a razão. A loucura é contagiosa.
Em sete
anos foram curados 32,73% dos pacientes e morreram 25,59%. A porcentagem de
curas era calculada sobre a mesma população global, parece que a metade das
curas resultavam em reinternações, analisando os números, o que não é correto,
já que alguns paciente eram internados mais de uma vez.
O
retorno à vida normal não garantia a permanência das mudanças obtidas no
manicômio.
As
razões da não reintegração do paciente á vida normal aponta para a necessidade
e algum tratamento fora do manicômio.
O
Rediconto aponta recursos adequados para assegurar a adaptação dos egressos à
vida social. Por exemplo: sistema de patrocínio, altas provisórias, saídas
diurnas.
Formas
Frenopáticas, segundo Andrea Verga:
Frenoses simples:
mania, monomania, melancolia, demência, loucura moral e loucura cíclica.
Frenoses complicadas:
sensória, hipocondríaca, histérica, puerpueral, epilética, alcoólica, pelagrosa
e senil.
O
Rediconto registra diferentes causas para cada forma de frernose oou frenopatia.
A facilidade de enlouquecer deveria corresponder a uma grande variedade e
possíveis causas da loucura.
O
que determinaria toda forma de loucura não seriam as paixões e os maus hábitos,
mas os distúrbios orgânicos do ambiente físico.
As
causas morais são sete ao todo:
Desgostos
deprimentes e emoções, susto, ascetismo, ofensas ao pudor, amor desiludido,
ofensas ao amor próprio, desajustes financeiros e falsa posição social.
Entre
causas físicas (ambiente) estão:
Insolação, estudo excessivo, ananismo, abuso do
vinho e dos licores, abusos sensuais, vida dissipada, fadigas exageradas,
miséria, prisão, abuso de sulfato de quinino.
Reumatismo,
anemia, infecção por malária ou granulação no colo uterino podiam levar à
internação no manicômio. O perigo morava em algum desses pacientes possuírem um
fator hereditário para aquisição da loucura e acabarem contaminados.
Muitas
interações forma devidas a causas incógnitas, sem que se soubesse a verdaeira
causa da frenose, isso fica registrado no Rediconto.
Chamava-se
de Similar a primeira causa da hereditariedade, podendo ser direta ou indireta.
Direta:
ü Herdada
do pai – frenose
ü Herdada
da mãe – frenopatia
ü Dupla
– quando pai e mãe contribuem
Indireta:
ü Quando
algum avô transmite ou contribui.
Hereditariedade
de metamorfose:
ü Causa
vários tipos de alienação
Hereditariedade
dúbia:
ü Hereditariedade
não provada ou desconhecida.
O Rediconto revela o retorno da visão
organicista da loucura no séc. XIX em grande parte dos manicômios, o que nunca
esteve totalmente ausente da doutrina psicopatológica e da práxis alienística e
psiquiátrica.
Enquanto no manicômio de Roma servia-se a uma
população na maior parte urbana, o São Servolo (Veneza) atendia, principalmente
aos camponeses, geralmente, muito pobres e desnutridos. O que justifica a alta
incidência de pelagra (doença que afeta o sistema nervoso e comportamento,
consequência da subnutrição).
Em Veneza a maior parte das frenopatias eram
atribuídas as causas de natureza moral, paixões e sentimentos.
As altas provisórias ou saídas diurnas foram
adotadas como alternativa às internações permanentes, no último quarto século.
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