“
A ideia de que a essência da loucura é alguma tipo de desarranjo de funções
psíquicas ou mentais, mesmo eventualmente causado por fatores orgânicos, começa
a tornar-se um princípio explicativo no final do sé. XVIII. E só se apresenta
como teoria médica na obra de Pinel.” (Pessotti, 1993, p.67)
Com
Pinel o manicômio se torna “instrumento de cura” e não mais um local de
recolhimento, um asilo, segundo Esquirol.
As
classificações do séc. XVIII não dão importância aos aspectos comportamentais.
Pinel
trouxe duas inovações importantes.
Ø Classificação
nosográfica da alienação
Ø E a
reavaliacão das paixões como fatores de cura.
Na
época não havia interesse pela observação dos pacientes levando a filiação
doutrinária ou filosófica dos autores e não as diferenças ou semelhanças reais
entre os vários tipos de loucura.
No
séc. XVIII não há uma classificação nosográfica da loucura, esta vai aparecer
no Traité de Pinel graças a precisão
do diagnóstico.
Pinel
adota o método da observação demorada dos pacientes e o registro fiel sem
distorções.
Esquirol
desenvolveu o trabalho de Pinel e o espalhou pela Europa de forma fragmentada.
O método de Pinel ensejaria um progresso na progressão do diagnóstico.
Pinel
rejeita as teorias da moda em seu tratado, principalmente a de Darwin que usava
como critério de diagnóstico da loucura os distúrbios na associação de ideias e
a teoria de John Brown – vitalismo simplista.
Pinel
defendia que a observação demorada da conduta dos pacientes era o método mais
eficiente para diagnosticar, ordenar e catalogar os sintomas e os distúrbios
mentais. Um método como o dos naturalistas.
“A alienação mental exige o trabalho atento
de autênticos observadores para sanar a desordem em que se encontram”
(Pinel, 1801, apud, Pessotti, 1996,
71)
Para
Pinel o conceito mentalista de loucura é definido como lesão do intelecto e/ou
da vontade, não considera alterações funcionais no encéfalo.
Postura
que trata a loucura como condição passível de correções, uma possibilidade
humana de qualquer ser racional.
A
doença a partir de agora será tratada como desordem, desequilíbrio, a
intervenção terapêutica deverá restituir o equilíbrio.
Na
fisiologia de Descartes é uma espécie de limbo, onde há separação da loucura e
da razão, que são dois estados totalmente incompatíveis.
A
observação:
Segundo
o Tratado:
O
homem alienado deve ser observado com objetividade, sem preconceito, sem
antecipar qualquer avaliação sobre a loucura. Deve haver gentileza e elegância
no falar com doentes. A observação demanda tempo, não pode ser apressada,
precisa de ambiente adequado. “Ambiente” uma outra finalidade para o manicômio.
Pinel
ainda generaliza melancolia, mania,
juntamente com a demência e a idiotia como alienação mental ..
São
características físicas e morais da alienação mental, segundo Pinel: sensação
de fraqueza, dor, cuja natureza varia segundo as várias afecções.
A fase aguda da mania pode provocar movimentos
convulsivos, loquacidade ou mutismo, gritos agudos, ímpetos de ira; sensação de
calor interno, excitação nervosa, manifestada pelo falta de sono e o aumento de
força muscular; mudanças no apetite 9que vai de voracidade até inapetência
total).
No
Tratado de Pinel repete-se com frequência uma certa confusão entre aspectos
físicos e desempenhos comportamentais, estes misturados.
O
autor mencionava comportamentos como sintomas físicos ou características
físicas da loucura: a masturbação e as relações homossexuais entre os
internados – características essas, agora recebem o nome de vício.
A
função terapêutica de Pinel devia reformar os hábitos e tendências dos
pacientes (função reeducativa). Se a tarefa educativa se torna inviável a
clínica cessa, não havia alternativa médica. Só resta o confinamento
definitivo.
“Considerar
que as ideias delirantes resultam de um domínio hegemônico da memória sobre as
funções mentais (implicando uma certa abstração da realidade circunstante ou
presente) é uma contribuição importante da semiologia de Pinel” (Pessotti,
1996, p.82)
Loucura parcial ou mania lúcida:
Não
há perda total da razão, o que torna possível o tratamento moral, segundo
Pinel.
Idéia fixa ou delírio exclusivo:
Atenção
exclusivo a um determinado objeto – característica da mania, devastação do
delírio geral.
Melancolia:
Parcialidade do delírio.
Pinel diz:
“Loucura é um distúrbio das
funções mentais e que as lesões mentais se traduzem em manifestações objetivas
como distúrbios no comportamento.”
“Entre os distúrbios da
imaginação o Tratado aponta: as ideias fantásticas dos hipocondríacos, os
delírios de perseguição, dos melancólicos, as visões noturnas que alguns deles
referem e alguns tipos de fanatismos religiosos”. (Pessotti, 1996, p.89).
Segundo
Pinel a loucura é um desarranjo essencialmente mental. A sua causa é a
imoralidade. É possível tratar as funções lesadas através de um tratamento
moral (reeducação), pela mudança de costumes e de hábitos. E que ainda existe
uma loucura lúcida, sem distorção do julgamento, sem delírio.
As causas são numerosas:
· *Situações que envolvem condições sociais,
emocionais, fisiológicas.
· * Lesões orgânicas
· *Disposições hereditárias
· * Paixões
·* *Influências de uma educação corrompida.
· *Desregramentos no modo de viver
· * Excessiva religiosidade
O texto de Pinel não esconde
seu viés moralista:
A postura teórica mais geral
do tratado de Pinel retrata a natureza das alienações como orgânicas ou
“morais” e sob esse termo se agrupam, paixões, conflitos, frustrações, hábitos,
gostos, vícios. A representação do desejo pode induzir à alienação, mas não
como causa determinante e sim como predisposição para hábitos e inquietações
que podem, essas sim, conduzir à mania ou à melancolia.
A loucura pode ser qualquer
erro de imaginação ou de julgamento, tudo que provoca desejos fantásticos.
A mania é essencialmente
agitação com delírio geral que pode ter como objeto qualquer coisa.
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