Um
marco importante no estudo do estresse e da saúde adveio da descoberta de que o
estresse pode reduzir a resisistência a infecções. Esse achado teve grande
impacto sobre o campo da psicologia, pois mostrou que o estresse desempenha papel em doenças infecciosas que, até
então, eram consideradas "estritamente físicas".
Dessa forma, abriu-se vasta área da medicina
ao estímulo de entrada psicológico. As
implicações teóricas e clínicas do achado de que o estresse aumenta a suscetibilidade
a infecções foram tão grandes que a descoberta contribuiu, no começo da década de
1980, para o surgimento de novo campo de pesquisas biopsicológicas. Esse campo
é a psiconeuroimunologia – estudo de interações entre fatores psicológicos, o
sistema nervoso e o sistema imunológico, Maier, Watkins e Fleshner, (1994).
A pesquisa psiconeuroimunológica concentra-se em questões importantes, discutidas
mais adiante nesta seção. Em primeiro
lugar, apresentaremos introdução ao sistema imunológico.
O Sistema
Imunológico
Microrganismos de todos os tipos deleitam-se no
clima quente, úmido e nutritivo do seu corpo. O seu sistema
imunológico impede que o corpo seja dominado por esses invasores. Antes que ele
possa tomar qualquer atitude contra o microrganismo invasor, o sistema imunológico
deve ter algum modo de distinguir células estranhas das células do corpo. E por
isso que os antígenos - moléculas protéicas na superfície de cada célula a identificam
como nativa ou estranha desempenham papel importante em certas reações imunológicas
(ver Beck e Habicht, 1996; Nossal, 1993).
As
barreiras do sistema imunológico às infecções são de dois tipos. Em primeiro lugar,
estão as barreiras não-específicas, que agem de forma rápida e geral contra a
maioria dos invasores. Essas barreiras incluem membranas mucosas. Elas destroem
muitos microrganismos estranhos e a fagocitose – o processo no qual microrganismos
estranhos e resíduos são consumidos e destruídos por [agôcitos (células
corporais especializadas que consomem microrganismos estranhos e resíduos).
Em segundo,
existem barreiras específicas, que agem de maneira específica contra certas
formas de invasores, divididas em dois tipos - mediadas por células e por anticorpos
- cada um defendido por um tipo diferente de linfócitos. Os linfócitos são glóbulos
brancos especializados produzidos na medula óssea e armazenados no sistema linfático.
A imunidade mediada por células é dirigida pelas células T (linfócitos T), e a imunidade
mediada por anticorpos é dirigida pelas células B (linfócitos B). A reação imunológica
mediada pelas células começa quando um macrófago - tipo de fagócito grande -
ingere algum microrganismo estranho. O macrófago, então, apresenta os antígenos
do microrganismo na superfície de sua membrana celular.
Isso atrai células T. Cada célula T tem dois tipos de receptores em sua superfície,
um para moléculas encontradas na superfície de macrófagos e em outros corpos celulares,
e uma para determinado antígeno estranho. Existem milhões de receptores diferentes
para antígenos estranhos nas células T, mas apenas um em cada célula T e apenas
algumas células T para cada tipo de receptor. Após o microrganismo ter sido ingerido
e seus antígenos apresentados, uma célula T com um receptor para o antígeno estranho
se liga à superfície do macrófago infectado. Inicia-se, então, uma série de
reações. Entre essas reações, está a multiplicação
da célula T que se liga ao macrófago, criando mais células T com receptores específicos
necessários para destruir todos os invasores que contiverem os antígenos-alvo e
as células corporais infectadas pelos invasores.
A
reação imunológica mediada por anticorpos começa quando uma célula B liga-se a um
antígeno estranho, para o qual contém o receptor apropriado. Isso faz com que a
célula B se multiplique e sintetize uma forma letal de suas moléculas receptoras.
Essas moléculas receptoras letais, os anticorpos, são liberadas no fluido intracelular,
onde se ligam aos antígenos estranhos e destroem ou desativam os microrganismos
que os contiverem. Células B com memória para o antígeno específico também são
produzidas durante o processo. Essas células têm vida longa e imunidade mediada
por anti-corpos acelerada, se houver infecção subseqüente pelo mesmo organismo.
Ambos
os processos levam vários dias na primeira vez em que determinado antígeno
estranho é reconhecido, mas respostas a invasões subsequentes de microrganismos
com o mesmo antígeno são muito mais rápidas, graças às células T e B que possuem
memória para eles. É por isso que a inoculação (injeção de pequenas amostras de
microrganismo infeccioso em indivíduos saudáveis) muitas vezes funciona como medida
preventiva eficaz contra os efeitos de infecções subsequentes (vacina). Agora que
já apresentamos o sistema imunológico a você, é chegada a hora de examinarmos a
pesquisa neuroimunológica. Ela se concentra nas três questões seguintes.
(continua)
(continua)
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