sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

VOCE SABE O QUE É UM "SAVANT"?





E como fica a questão genialidade x loucura?


Por Graciela Comparin




Muitas vezes confundida uma com a outra, as pessoas ditas comuns não conseguem alcançar a grandeza, a altura, a profundidade (qual seria o termo apropriado?) do pensamento dessas pessoas consideradas gênios.

Mozart aos 4 anos se apresentava para o público, ao piano, suas próprias composições, assim cresceu, abandonou os estudos condicionais e dedicou-se só a música. Já adulto tinha comportamentos excêntricos, oscilações de humor e fixação nas funções excretórias, não escondia seu fascínio por fezes, colocando-as, inclusive em suas óperas. Em uma sociedade tão recatada e cheia de pudores, pelo menos na aparência, era considerado “louco   “.

Beethoven tinha dificuldade em aprender aritmética, era egocêntrico, retraído, depressivo, mas a surdez foi seu grande problema, o levou por vezes a ideação suicida. Mesmo assim, em meio a constantes alterações de humor, queixumes, dores abdominais, colite, stress, hipocondria, crises depressivas, se lança em um grandioso processo de criação musical, onde imprime seu estilo pessoal, produzido claramente pelo seu psiquismo somático e atormentado.

Van Gogh, o pintor dos tons amarelos e vermelhos, das telas empasteladas de tinta, pintou mais de quatrocentas, talvez seja o melhor exemplo de “gênio louco” da nossa história. Sofria de crises agudas de paranoia, viva às expensas de um irmão mais novo, cortou uma orelha em meio ao desespero do não reconhecimento do seu talento e suicidou-se com um tiro no peito. 

Mas, vamos falar de gênios  atuais e histórias não trágicas, eu diria que de sucesso. Afinal na contemporaneidade, a loucura não existe, ela é apenas um ponto de vista.

Não poderia deixar de falar em Einstein, criador da Teoria da Relatividade, que começou sua jornada com estudos de Física Ótica, velocidade da luz, pessoas viajando em raios, e outros devaneios.
Não fosse seus estudos não estaríamos usando células fotoelétricas em  portas de repartições públicas, bancos, shoppings, que se abrem automaticamente  com o simples aproximar de uma pessoa. E Einstein foi reprovado na prova de admissão da  Escola Politécnica de Zurique, aos dezesseis anos. Por muito tempo foi considerado aluno medíocre e desajustado, por um erro de avaliação de seus boletins, quando na verdade era um prodígio em física. E por que será o uso daquele cabelo? Seria loucura, genialidade ou apenas excentricidade? Ou não sabia para que servia um pente de cabelo?

Vindo mais para perto na linha do tempo, lendo uma reportagem de 2008, tomei conhecimento da existência de duas mentes brilhantes – Kim Peek e Daniel Tamet.

Peek, americano, 57, anos, lê um livro de 300 páginas em 40 minutos. Já leu 9 mil livros em toda sua vida. Detalhe – não esquece e, nem esqueceu nada do que leu. Sabe contar todas as histórias, recita trechos da bíblia, alcorão, o nome dos presidentes americanos (todos) e suas esposas, datas.

Tamet, inglês, 29 anos, muito tímido, tem sua própria matemática. Faz contas inacreditáveis. Qualquer conta, com números estratosféricos,  que se peça para ele resolver, o faz na hora, sem decorar, ou usar calculadora ou coisa do tipo. Perguntado o resultado de 27 elevado à 5ª potência, respondeu prontamente - 10 460 353 203. E não é só com números que Daniel Tamet é hábil, com línguas também. Fala fluentemente 11 idiomas. Desafiado a aprender islandês em uma semana, em um talkshow, uma semana depois se apresentou falando a tal língua com perfeição.

O que esse dois habilidosos cidadãos tem em comum além de suas altas habilidades, são, também, um diagnóstico de autismo.

Kim não sabe abotoar a camisa e Tamet não consegue pegar um ônibus sem se perder.

Combinar uma deficiência intelectual com algum tipo de genialidade ou alta habilidade é conhecido como Síndrome de Savant. Essas pessoas são chamadas de “savants”.

O savantismo envolve uma forma diferente de memorização, é uma forma inconsciente de raciocinar. Fazem contas com 20 algarismos mas não conseguem fazer contas simples com 4 ou 5 algarismos. É inconcebível fazer conscientemente operações matemáticas com tantos algarismos.

Em geral esses indivíduos são 10 % dos autistas. Podem também ser diagnosticados com síndrome de Asperger, como é o caso de Tamet.

Estamos diante de casos diagnosticados e acompanhados pela ciência, o intuito é evitar danos maiores a esses indivíduos, psicológicos e sociais.

A sociedade os vê com curiosidade e muitas vezes a família os exibe como atração circense.

O cuidado no trato de pessoas especiais se faz necessário para não as perde-las e não se repetir a história já vista, a exemplo de Van Gogh, Beethoven e outros.

Será que temos um savant adormecido em nós?

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