DIFERENÇA
ALZHEIMER / DEMÊNCIA
As demências são caracterizadas por deterioração da
capacidade intelectual previa suficiente para interferir com a convivência
social e a vida profissional. Na síndrome plenamente desenvolvida são evidentes
a alteração da memória e pensamento abstrato e a dificuldade de julgamento.
Ocorre modificação da personalidade com mudança ou acentuação de traços
prévios. A evolução é lentamente progressiva, embora possam haver flutuações.
Tipicamente, o que se observa na Doença de Alzheimer (DA) é um indivíduo com
mais de 60 anos com progressiva dificuldade de memória e julgamento e com
alteração de afeto: recados e compromissos são esquecidos; ocorrem equívocos na
atividade profissional, com perda de competência e dificuldades em tomar
decisões; observa-se irritabilidade e perda de interesse, com retraimento
social; interesses pessoais e hobbies são abandonados; pode haver negligência
com a higiene e cuidados pessoais. Embora esta seja a apresentação mais comum,
não se deve esquecer que a DA pode iniciar como alterações cognitivas focais,
das quais as mais frequentes são a alteração de fala, em geral com progressiva
dificuldade de expressão, com dificuldade para vestir-se, usar talheres e
escrever, desproporcional à deterioração global.
O
diagnóstico de certeza de DA só pode ser feito pela demonstração de alterações
patológicas compatíveis, em material de biopsia ou necropsia. Como a biópsia
cerebral não é um exame de rotina e implica em riscos, alternativamente pode
ser feito o diagnóstico clínico de provável DA, na presença de sintomas
compatíveis (déficit de memória e em duas ou mais áreas cognitivas, com caráter
progressivo), desde que excluídas outras causas de demência. Atualmente métodos
não invasivos modernos foram desenvolvidos e podem ser poderosos instrumentos
que facilitam o diagnóstico como a Tomografia transitorizada comum ou com
emissão de positron, ressonância nuclear magnética etc. O quadro anteriormente
mostrado indica alguns dos diagnósticos diferenciais mais comuns e como podem
ser pesquisados. Desde que se utilizem critérios rigorosos, a chance de acerto
no diagnóstico de DA, baseado apenas neste tipo de investigação é superior a
80%.
A
dificuldade de memória no idoso não significa necessariamente demência, menos
ainda DA. Deve ser lembrado que é extremamente comum a perda benigna limitada
apenas à memória, diferente do acometimento global encontrado na DA. Caberia
aqui lembrar que a velhice não implica deterioração mental, apesar de muito
mais freqüente em idosos, a DA afeta apenas uma minoria, no máximo 15% das
pessoas com mais de 65 anos. Para a maioria, o envelhecimento é o período em
que a experiência adquirida, ou aquilo que poderíamos chamar de sabedoria,
compensa o natural declínio da capacidade física permitindo que a vida continue
aproveitada em sua plenitude. Devem ser lembradas outras causas de quadro
sugestivo de DA. Na depressão as alterações encontradas no exame são
predominantemente de humor, orientação e memória. A cognição não costuma
mostrar as alterações encontradas na DA. A demência multi-infarto ocorre em
hipertensos.
Na
hidrocefalia de pressão normal podem ser observadas [além da demência]
incontinência urinária, que só aparece tardiamente na DA e descoordenação da
marcha. Na doença de Parkinson e na Coréia de Huntington a demência está
associada a distúrbios de movimento evidenciáveis ao exame neurológico. Na
neurosífilis é descrita paranóia com delírios de grandeza como parte das
alterações mentais e o exame de líquor serve para diagnóstico. Para outras
causas de demência como as alterações endócrinas, é necessária a suspeita
clínica seguida pela investigação laboratorial. Na DA ocorrem alterações
principalmente nos córtices associativo frontal
têmporo-parietal e occipital e no hipocarnpo, o que explica distúrbios
de fala, coordenação, cognição, e memória. O exame anatomopatológico mostra placas
senis, degeneração neurofibrilar e angiopatia amilóide ao lado do
desaparecimento dos grandes neurônios piramidais. As placas senis são compostas
de um núcleo de material amorfo, rodeado por neurônios em degeneração e por
astrócitos, as células responsáveis pela "cicatrização "do tecido
cerebral. As placas senis aumentam com a idade e o que diferencia um indivíduo
normal de um com DA é a maior quantidade nesta doença. Apesar das alterações
tão marcadas no córtex, uma importante modificação na DA ocorre profundamente
no cérebro. Há perda de neurônios em uma estrutura chamada núcleo basal de
Mevnert, de onde se projetam para todo o córtex, neurônios que usam a
acetilcolina como neurotransmissor. Como resultado na DA existe diminuição da
atividade colinérgica. A importância disto ainda está por ser completamente
explicada, mas em jovens a administração de drogas que antagonizam a atividade
da acetilcolina provoca dificuldade de memória. Embora seja a mais consistente
a deficiência de acetilcolina não é a única alteração neuroquímica na DA.
Verificaram-se, por exemplo alterações em aminoácidos excitatórios que em
animais estão envolvidos no processo
de
aprendizado. Estes déficits podem ser importantes ao tratamento da DA.
Critérios Diagnósticos do DSM.IV para
Demência do Tipo Alzheimer
A.
Desenvolvimento de múltiplos déficits
cognitivos manifestados tanto por (1) quanto por (2):
(1)
comprometimento da memória (capacidade
prejudicada de aprender novas informações ou recordar informações anteriormente
aprendidas)
(2)
uma (ou mais) das seguintes perturbações
cognitivas:
(a) afasia (perturbação da linguagem)
(b)
apraxia (capacidade prejudicada de executar atividades motoras, apesar de um
funcionamento motor intacto)
(c) agnosia (incapacidade de
reconhecer ou identificar objetos) apesar de um funcionamento sensorial
intacto.
(d) perturbação do
funcionamento executivo, isto é, planejamento organização, sequenciamento e
abstração.
(e) O curso caracteriza-se por um início
gradual e um declínio cognitivo contínuo.
B.
Os déficits cognitivos nos Critérios A1 e A2
não se
devem a quaisquer dos seguintes fatores:
(1)
outras condições do sistema nervoso central
que causam déficits progressivos na memória e cognição (por ex., doença
cerebrovascular, doença de Parkinson, doença de Huntington, hematoma subdural,
hidrocefalia de pressão normal, tumor cerebral)
(2)
condições sistêmicas que comprovada mente
causam demência (por ex., hipotiroidismo, deficiência de vitamina B12 ou ácido
fólico, deficiência de niacina, hipercalcemia, neurossífilis, infecção com HIV)
(3)
condições induzidas por substâncias
C
.Os déficits não ocorrem exclusivamente durante o curso de um delirium.
C.
A perturbação não é melhor explicada por um
outro transtorno do Eixo I (por ex., Transtorno
Depressivo Maior, Esquizofrenia).
Codificar com base no tipo
de início e características predominantes.
Com Início Precoce se o
início ocorre aos 65 anos ou antes.
Fonte:
SADOCK, Benjamin James. Compêndio de Psiquiatria-
Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 9ª ed. Ed. Artmed. Porto Alegre.
http://www.alzheimermed.com.br/m3 sp?cod_pagina=1053
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