A
fisiologia da dor de cabeça
Atualmente,
um grande número de pesquisas vem sendo realizado no mundo todo com o intuito de
elucidar os mecanismos fisiopatológicos da enxaqueca, ainda não totalmente esclarecidos.
Uma
série de fatores interagem para o desencadeamento das crises:
a. Predisposição e transmissão genéticas:
• alta
incidência em parentes de lº grau;
• alta
incidência em gêmeos.
b. Predisposição ambiental:
• hormônios
femininos: a partir da puberdade a enxaqueca ou migrânea é mais comum no sexo feminino;
• estresse
psicossocial;
• alimentos,
álcool, fatores miogênicos.
c. Anormalidades bioquímicas:
• o
cérebro do migranoso possui algumas peculiaridades, tais como a assimetria do
fluxo sanguíneo cerebral entre as crises e o SNV (Variações do Contingente
Negativo) aumentado, o que significa que o cérebro está hipersensível;
• plaquetas:
o fator liberador plaquetário libera serotonina das plaquetas;
• aminoácidos
excitatórios aumentados, como o glutamato e o aspartato;
• magnésio
central diminuído.
A. SUBSTÂNCIAS
IMPORTANTES NESSE MECANISMO
a. Serotonina
(5 HT)
Desde
a década de 60 a serotonina é conhecida como um dos protagonistas no mecanismo
da migrânea, com base nas seguintes evidências dos migranosos:
• o
5HIAA, metabólito 5HT, está aumentado na urina;
• os
níveis de 5HT estão diminuídos na jugular;
• fator
liberador de 5HT das plaquetas;
• reserpina,
por provocar a liberação de serotonina, causa crise de migrânea;
• m-CCP,agonista
5HT1C, causa migrânea;
• antagonistas
do 5HT2 são usados no tratamento profilático da migrânea;
• agonistas
5HTlD são usados como abortivos da crise de migrânea.
A
serotonina potencializa os efeitos álgicos da bradicinina. Em determinados
receptores é hiperalgésica e em outros, hipoalgésica, embora ainda não se
conheça detalhes deste mecanismo.
b. Peptídeos
Vasoativos
Como
exemplos temos as taquicininas (substância P, neurocinina A e VIP-Peptídeo
Intestinal Vasoativo) e o CGRP.
• a
substância P e o CGRP estão aumentados na jugular durante a crise de migrânea;
• seu
efeito nociceptivo a nível central, por estimulação dos nociceptores, é questionável.
Tanto
a substância P como o CGRPe a neurocinina A produzem somente hipotensão
arterial pela vasodilatação e conseqüente aumento da permeabilidade vascular,
não causando dor. Portanto, têm efeito apenas mantenedor da crise de migrânea
(não desencadeiam a crise dolorosa, apenas a mantém uma vez iniciada).
c. Óxido
Nítrico (NO)
Há
50 anos já se sabia da importância do NO no mecanismo da migrânea, de acordo
com algumas observações:
• a
NTG(nitroglicerina) pode causar cefaléia;
• a
histamina leva à cefaléia via NO;
•
efeito vasodilatador:
•
efeito nociceptivo duvidoso.
Isoladamente,
a exemplo dos peptídeos, é apenas mantenedor da crise pelo efeito vasodilatador.
Já
os seus derivados são substâncias com um efeito nociceptivo importante, sendo
formados pelo NO ligado aos radicais de enxofre no organismo.
d.
Catecolaminas ( Adrenalina, Noradrenalina, Dopamina )
O
sistema catecolaminérgico central está hiperativado (CNV aumentado) nos pacientes
migranosos, levando a uma hiperexcitabilidade cerebral; daí a explicação para o
efeito positivo dos B-bloqueadores no tratamento da migrânea.
e.
Histamina
Possui
um efeito hiperalgésico a medida que libera NO.
f.
Prostaglandinas
Estão
envolvidas nos processos inflamatórios e potencializam a resposta nociceptiva.
B)TEORIAS
Existem
algumas teorias que tentam explicar a fisiopatologia da migrânea.
a. Teoria
vascular de Wolff – 1940
Preconiza
que a migrânea seja causada pela dilatação dos vasos arteriais.
b. Teoria
de Heick – 1960
Infelizmente
essas duas teorias não explicam os fenômenos autonômicos que acompanham a crise
migranosa.
Acredita-se
que a migrânea seja causada pela dilatação das anastomoses arteriovenosas. É apoiada
pelo fato de o Sumatriptano (droga usada no tratamento da migrânea) ter ação vasoconstritora
nessas anastomoses.
c.
Teoria Neural
Propõe
que a causa da migrânea seja a distensão, inflamação ou compressão de estruturas
sensíveis à dor nos segmentos cranianos. Essa teoria pode ser bem aplicada às cefaleias
secundárias, mas falha em relação às primárias.
d.
Teoria Neurovascular de Moscovis
Atualmente
é a mais aceita. Haveria um estímulo desconhecido na terminação aferente do nervo
trigêmeo, localizada nas proximidades de um vaso, que causaria a liberação de
CGRP, substância P e outros peptídeos vasoativos, os quais levariam a uma dilatação
arteriolar. Em consequência ocorreria um aumento da permeabilidade vascular com
extravasamento plasmático e inflamação da parede arteriolar. Esse estímulo, então,
seguiria pelo nervo trigêmeo, passaria pelo tronco cerebral causando os efeitos
autonômicos da migrânea e chegaria ao córtex onde seria finalmente reconhecida
a dor.
Em
primeiro lugar o paciente recebe os estímulos (fatores precipitantes). A partir
daí alguns irão desenvolver a migrânea com aura e outros a migrânea sem aura. Na
crise de migrânea com aura há uma diminuição do metabolismo cerebral, que geralmente
se inicia na região occipital (o que explicaria os fenômenos visuais) e se espalha
para as regiões mais anteriores do cérebro (é a chamada "depressão alastrante"
ou aura). Durante essa fase ocorrem alterações metabólicas como o aumento do
potássio e a diminuição do cálcio extracelulares e alterações do glutamato. Além
disso, alguns indícios sugerem que a depressão alastrante pode estimular os aferentes
sensoriais diretamente.
Na crise
de migrânea sem aura o quadro é mais subjetivo. Acredita-se que sintomas premonitórios,
na maioria das vezes de origem hipotalâmica, causariam alterações no sistema autonômico
cerebrovascular. Tal fato levaria a alterações e estímulos nas terminações
sensoriais. Tanto o estímulo da depressão alastrante da migrânea com aura quanto
o dos fatores premonitórios da migrânea sem aura levariam à liberação da
serotonina plaquetária. Esta, agindo sobre o endotélio vascular, promove o
aumento do cálcio intracelular e, consequentemente, a liberação de NO. O óxido
nítrico levaria a um aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação e
extravasamento de substâncias para dentro da adventícia da arteríola. O incremento
do cálcio também acarretaria a liberação de peptídeos vasoativos e, desta
forma, haveria a manutenção do processo doloroso. Este estímulo passaria,
então, via nervo trigêmeo, pelo tronco cerebral e chegaria ao córtex onde seria
reconhecida a dor.
Fonte:
http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=SOl02-31lX1999000300023
http://www.famema.br/ligas/cefaleia/migranea.htm
http://www..sbce.rned.br/dof_
cabeca/ enxaqueca _mulher.asp
http://www.scielo.br/pdf/psoc/v15n1/v15n1a09.pdf
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