DOENÇAS
NEUROPSICOLÓGICAS
o principal sintoma da epilepsia é a convulção epiléptica, mas isso não significa que todas as pessoas que sofrem covulsões
tenham epilepsia. Não é incomum que pessoas saudáveis tenham convulsões durante uma doença temporária ou após a exposição a agentes convulsivantes. O termo epilepsia é aplicado apenas aos pacientes cujas convulsões parecem ser geradas por uma disfunção cerebral crônica. Aproximadamente 1% da população é diagnosticada como epiléptica em algum
ponto de sua vida.
Em virtude do fato de a epilepsia caracterizar-se por ataques epilépticos - ou, mais precisamente, por ataques epilépticos espontâneos e recorrentes -, você pode pensar que a tarefa de diagnosticar essa doença seja fácil. Mas não é. Essa tarefa é dificultada pela diversidade e complexidade dos ataques epilépticos. Você provavelmente está familiarizado com ataques
que ocorrem na forma de convulsões (ataques motores). Eles freqüentemente envolvem tremores (espasmos clõnicos), rigidez (tônus) e perda do equilíbrio e da consciência. Porém, muitas convulsões não têm essa forma; em vez disso envolvem mudanças sutis de pensamento, de humor ou de comportamento que não são facilmente distinguíveis da atividade normal. Nesses casos, o diagnóstico de epilepsia baseiase amplamente em evidências eletroencefalográficas (EEG). O valor da eletroencefalografia em casos suspeitos de epilepsia origina-se do fato de que os ataques epilépticos são associados a surtos de picos de EEG de alta amplitude, que, muitas vezes, aparecem no EEG durante um ataque. Também derivam do fato de que picos individuais freqüentemente pontuam os EEGs de epilépticos entre ataques. Embora a observação de descargas epilépticas espontâneas seja evidência inquestionável da epilepsia, o fato de não serem observadas nem sempre significa que o paciente não seja epiléptico. Pode significar que ele é epiléptico, mas não está experimentando descargas epilépticas durante o exame ou que elas ocorreram durante o exame, mas não foram registradas pelos eletrodos instalados no couro cabeludo. Alguns epilépticos vivenciam mudanças psicológicas peculiares pouco antes de uma convulsão. Essas mudanças, as auras epilépticas, podem ter muitas formas - por exemplo, cheiro ruim, pensamento específico, sentimento vago de familiaridade, alucinação ou aperto no peito. As auras epilépticas são importantes por duas razões. Em primeiro lugar, sua natureza fornece pistas em relação à localização do foco epiléptico. Em segundo, como as auras epilépticas vivenciadas, muitas vezes, são semelhantes de um ataque para outro, elas avisam o paciente de uma convulsão iminente. Uma vez que um indivíduo tenha sido diagnosticado como epiléptico, é comum atribuir-se a epilepsia a uma de duas categorias gerais - epilepsia parcial ou generalizada. Então, atribui-se a uma de suas respectivas subcategorias. Os vários tipos de ataques são tão diferentes entre si que a epilepsia não é considerada uma doença única, mas várias doenças diferentes, porém relacionadas. Apoiando essa visão, há o fato de que a epilepsia não possui causa única, quase qualquer tipo de perturbação cerebral pode causar convulsões.
CONVULSÕES PARCIAIS
Uma convulsão parcial não envolve o cérebro todo. Por razões desconhecidas, os neurônios epilépticos em um foco começam a disparar em conjunto, e são esses surtos
sincronizados dos neurônios que produzem os picos epilépticos no EEG. A atividade sincronizada pode ficar restrita ao foco até que o ataque termine, ou espalhar-se para outras áreas do cérebro - porém, no caso de convulsões parciais, ela não se espalha para todo o cérebro. Os sintomas comportamentais específicos de uma
convulsão epiléptica parcial dependem de onde as descargas perturbadoras
começam e para que estruturas se espalham. Como as convulsões parciais não envolvem todo o cérebro, elas normalmente não são acompanhadas por perda total de consciência ou de equilíbrio. São duas as categorias principais de convulsões parciais: simples e complexas. As convulsões parciais simples são parciais com sintomas primariamente sensoriais ou motores,
ou ambos. Elas são chamadas, às vezes, de convulsões jacksonianas, devido ao famoso neurologista do século XIX, Hughlings Jackson. À medida que as descargas epilépticas se espalham pelas áreas sensoriais ou motoras do cérebro, os sintomas se espalham sistematicamente pelo corpo. Em contraste, as convulsões parciais complexas são frequentemente restritas aos lobos temporais; diz-se que aqueles que as apresentam têm epilepsia do lobo temporal. Durante ataque parcial complexo, o paciente tem comportamentos simples, compulsivos e repetitivos, automatismos (por exemplo, abotoar e desabotoar um botão) e comportamentos mais complexos que parecem quase normais. A diversidade de ataques parciais complexos é ilustrada pelos quatro casos seguintes relatados por Lennox (1960). Embora os pacientes pareçam estar conscientes durante seus ataques parciais complexos, eles, em geral, têm pouca ou nenhuma lembrança. Aproximadamente, metade de todos os casos de epilepsia são
da variedade parcial complexa – os lobos temporais são particularmente suscetíveis a descargas epilépticas.
CONVULSÕES GENERALIZADAS
As convulsões generalizadas envolvem todo o cérebro. Algumas começam como descargas pontuais que se espalham de forma gradual. Em outros casos, as descargas parecem começar quase simultaneamente em todas as partes do cérebro. Esses ataques generalizados repentinos podem resultar de patologias difusas ou
podem
se iniciar focalmente em uma estrutura, como o tálamo, que se projeta para muitas partes do cérebro. Assim como as convulsões parciais, as generalizadas ocorrem de
muitas formas. Uma delas é a convulsão
"grande mal", cujos sintomas principais são perda de consciência, perda de equilíbrio e violenta convulsão tônico-clônica - que envolvetônus e clônus. O ato de morder a língua, a incontinência urinária e a cianose (ficar azulado devido à saída
excessiva de oxigênio do sangue durante uma convulsão) são manifestações comuns de convulsões do tipo "grande mal". A hipoxia (falta de oxigênio para um tecido, como o cérebro) que acompanha uma convulsão "grande mal" pode causar lesões cerebrais, algumas das quais se desenvolvem lentamente após a convulsão e são mediadas pela liberação excessiva de aminoácidos neurotransmissores excitatórios. Uma segunda categoria importante das convulsões
generalizadas é a crise "pequeno
mal". Esta última não está associada a convulsões. Seu principal sintoma comportamental é a ausência pequeno mal - perturbação da consciência associada à cessação do comportamento
realizado, olhar vago e, às vezes, piscar das pálpebras. O EEG de uma convulsão "pequeno mal" é diferente dos outros. O padrão típico é de ponta-ondas
síncronas e simétricas com freqüência de três ciclos por segundo.
As convulsões "pequeno mal" são mais comuns em crianças, e freqüentemente cessam na puberdade. Muitas
vezes, passam sem ser diagnosticados e, assim, as crianças com
epilepsia do tipo "pequeno mal" são consideradas "sonhadoras" por seus pais e professores e "viajantes espaciais"
por seus colegas. Embora
não haja cura para a epilepsia, a freqüência e a gravidade dos ataques podem ser reduzidas por medicamentos anticonvulsivantes. A cirurgia cerebral, às vezes, é prescrita em situações de ameaça à vida.
Fonte:
Biopsicologia – John P. J. Pinel
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