sábado, 16 de março de 2013

O caso Lorena Bobbitt






Era apenas mais um dia na vida de Lorena Bobbitt. Seu marido, John Wayne Bobbitt, chegou em casa tarde e, de forma grosseira, a abordou sexualmente. Dessa vez ela o recusara por estar bêbado. Embora ela o tenha recusado, John dominou o seu 1,55 m de altura e a estuprou. Às quatro horas da madrugada, Lorena,de posse de uma faca de cozinha trinchante, mutilou o marido enquanto ele dormia. Em seguida, colocou o pênis, com gelo, dentro de um saco com fecho de correr e saiu de carro, levando-o na mão, enquanto dirigia pela cidade. Por fim, acabou jogando o saco pela janela do carro e seguiu em direção à casa de uma amiga. Lorena, uma manicure, então com 24 anos, até essa noite parecia viver uma vida normal e monótona. O que poderia te-Ia levado a praticar um ato tão agressivo? De acordo com o que Lorena relatou posteriormente, John a havia maltratado emocional, física e sexualmente durante todo o tempo em que estiveram casados. Em algumas ocasiões ele a surrou, obrigou-a a ter-relações anais e chegou a forçá-Ia a praticar aborto.Ela reclamou, também, que ele nunca, jamais, a esperou chegar ao orgasmo. Contudo, se isso tivesse continuado por mais quatro anos, o que seria diferente em relação a essa noite em particular? Lorena disse que naquela noite, depois de ser agredida começou a ter lembranças de todos os outros momentos em que seu marido a havia aterrorizado. Disse que, a partir daquele momento, havia perdido a noção da realidade e que, no instante em que atacou o marido, não estava controlada. John. então com 26 anos, negou haver molestado a própria mulher, embora tenha admitido casos extra conjugais. Estava Lorena apenas se vingando de sua infidelidade e certificando-se de que ele nunca mais pudesse traí-Ia sexualmente? O que diria Freud sobre tudo isso se estivesse vivo? De acordo com a teoria psicanalítica, há muito mais coisas ocorrendo na nossa frente do que nossos olhos podem ver: o comportamento de Lorena provavelmente teria sido atribuído a motivos inconscientes, influenciados por conflitos sexuais internos. Ela não era necessária e totalmente uma vítima porque, afirmam os freudianos, muitas mulheres têm o desejo inconsciente de sofrer (como comprovado pelas várias mulheres, machucadas que permanecem em relacionamentos deteriorados). Explicação mais provável seria a de que o problema de Lorena consistia na incapacidade de controlar o próprio id, o qual estava procurando liberar a sua tensão IibidinaI. Em poucas palavras, Lorena estava sofrendo de inveja do pênis, sentimento comum à maioria das garotas, mas poucas agem diretamente. Se Lorena tivesse podido ter seu bebê, isso poderia ter sido evitado. Dar à luz é uma das formas por meio da qual o ego tenta satisfazer o desejo da mulher quanto a sentimentos de força e auto-estima, que os homens tem em virtude da anatomia masculina. Em vez disso ela foi compeli da pelo marido a abortar. Talvez, por isso, ainda tenha procurado recapturar o pênis que lhe havia sido negado no nascimento. Esses sentimentos de desejo ajudam a explicar porque ela preservou cuidadosamente o órgão do marido em um saco fechado com gelo - o pênis era valioso para ela. O que é muito incomum nesse caso é Lorena ter sido de fato totalmente influenciada pela preocupação com o pênis do marido. De acordo com a teoria freudiana, esses conflitos são inconscientes e, portanto, em geral, se apresentam de outras formas.
Lorena afirmou que ela "queria apenas que ele desaparecesse". Mas é interessante que a maneira como ela o tirou da sua vida foi pela remoção do pênis, tornando-o, na visão freudiana, um homem sem valor e inferior. Além disso, esse golpe de vingança indiretamente lhe permitiu obter um pênis só seu.
Lorena foi julgada e absolvida porque suas pulsões foram consideradas irresistíveis. O júri chegou à conclusão de que ela não poderia ter tomado precauções para impedir que ela mesma praticasse esse ato. Portanto, de certa forma, a sociedade moderna aceita a ideia de conferir demasiado poder a motivações inconscientes. Freud teria dito que o ego e o superego de Lorena deixaram de controlar suas pulsões internas e o id venceu a batalha pelo que ele mais desejava. Na verdade, a teoria freudiana foi objeto de discussões acaloradas sobre a teoria do ponto de vista legal. Aos olhos da lei, se às vezes somos controlados pelo id, como podemos ser considerados responsáveis por nossas ações?
O caso Bobbitt é um bom exemplo para abrir uma discussão sobre os pontos positivos e as fragilidades das teorias de Freud. Por um lado, é quase impossível, algum dia, revelar, de maneira francamente científica, as verdadeiras motivações de Lorena. Por outro, a tremenda  fascinação por esse caso no mundo inteiro indica que algo muito importante do comportamento humano - algum segredo profundamente sombrio – foi tocado, da mesma maneira que o doutor de Viena teria  previsto.


Fonte:
Friedman & Shustack - Teorias da Personalidade

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