Resumo
Onde quer que estejamos,
qualquer que seja o momento da nossa vida, estamos sempre nos deparando com o
fato de pertencermos a unidades ou coletivos sociais, de diferentes portes. Ou seja, nunca
estamos sozinhos, isolados ou fora de alguma rede social.
Compreender como
interagem ou que processos articulam ou não, pessoas e coletividades que
chamamos de grupos, equipes e organizações, é, certamente, um dos principais
desafios dos Estudos Organizacionais. Embora sejam múltiplas as definições e
diferenciadas as ênfases, qualquer tentativa de se conceituar organização incorpora a ideia de um agrupamento social ou a
de indivíduos em interação. Organizações, assim, são criações ou ferramentas
sociais, produtos de ações individuais e coletivas; sua dinâmica e seus
processos entrelaçam-se com processos e dinâmicas de indivíduos e de grupos em
um espaço e tempo que delimitam e circunscrevem suas interações.
Tal fato é que torna tão
central a questão sobre até que ponto o eu, o self, meu comportamento,
minhas atitudes, meus valores, minha forma de ser, de sentir, de perceber o
mundo, minha personalidade são determinadas ou não por estes coletivos maiores em que me insiro. Tal questão traz,
acoplada, o outro lado da polaridade: até que ponto as características, o
funcionamento, a estrutura, as normas, os valores dessas coletividades maiores
em que me insiro são produtos daquilo que eu sou, penso e e ajo.
As organizações são
vistas como construções sociais, como significados intersubjetivamente
partilhados. A passagem do plano individual para o coletivo ocorre porque
pensamentos e ações das pessoas vão se tornando determinados por produtos de
pensamentos e ações que vão se tornando compartilhados coletivamente. Assim, os
processos que unem e desunem pessoas e grupos é que geram o fenômeno
organizativo.
Esta perspectiva exige,
portanto, que seja dada atenção especial às interações humanas, e como as inter-relações são construídas e
reconstruídas pelos indivíduos. Em síntese, a preocupação com os processos
de organizar implica assumir que o comportamento social está na base da
própria gênese da organização e é crítico na determinação de seus resultados.
As práticas de interação social configuram um sistema de atividades no qual os
atores contribuem para a sua criação, manutenção, ao mesmo tempo em que seu
comportamento se subordina ao padrão de relações estabelecido. A organização
deixa de ser vista como algo estático, como uma entidade racionalmente
estruturada.
A ordem é imposta sobre
condições de interesses divergentes, competição nas carreiras, rotatividade,
definições mutantes do self, sendo que recursos incertos são instáveis e
precisam ser continuamente restabelecidos. A reestruturação do significado de
'organização' tem, como não poderia
deixar de ser, impacto sobre a forma como vários outros fenômenos
organizacionais são compreendidos, investigados e gerenciados. Possivelmente
não há um só conceito no campo dos estudos organizacionais que tenha sido
revisto, reinterpretado e re-analisado à luz desta nova perspectiva. Essas
mudanças coincidem com as transformações que estão reconfigurando o mundo do
trabalho, as arquiteturas organizacionais e os modelos de gestão.
Os fenômenos psicológicos
desencadeados pelas interações entre as pessoas podem ser identificados em
muitos contextos: familiares, amigos, colegas de trabalho, prestadores de
serviços e tantas outras pessoas fazem parte direta do nosso cotidiano.
As organizações são
sistemas que incluem variados níveis, procedimentos e tecnologias, mas são
sistemas sociais, acima de tudo. Compreendê-Ias requer analisar as complexas
interações que ocorrem nós múltiplos níveis interligados aos seus subsistemas e
os sistemas de seu entorno. De outra maneira, revelam uma enredada interação
entre o social, o cultural e o psicológico na construção da realidade.
As interações humanas
estão na base das configurações que se estabelecem, difundem-se e acabam,
muitas vezes, caracterizadas sob o rótulo específico de "estilo de
gestão".
As abordagens
culturalistas, estão na Antropologia,
focalizam os elementos simbólicos, os sistemas de significados compartilhados e
os esquemas interpretativos, entre outros aspectos, considerados essenciais à
compreensão da realidade social nessas organizações.
Também agregando
contribuições da Psicologia e da Sociologia entre outras áreas de conhecimento,
as organizações de trabalho são percebidas como realidades socialmente
construídas. A definição da visão, missão, objetivos, valores, estrutura
organizacional, políticas, normas, cargos e o estabelecimento de procedimentos
operacionais padronizados são entendidos como funções interpretativas e,
portanto, existentes muito mais na mente dos participantes de cada organização
de trabalho do que nos seus elementos formais e objetivos.
Na perspectiva
psicossocial, a realidade que se constitui é resultado do compartilhamento que
ocorre na interação humana. A realidade da vida cotidiana é apreendida com base
em esquemas tipificadores a partir dos quais os outros são interpretados. Essas tipificações estão na
base do processo de interação humana em organizações de trabalhos.
Do ponto de vista
individual, o conceito de identidade é elemento chave de compreensão da
realidade subjetiva e se encontra em relação dialógica com a sociedades.
Identidade pessoal significa o entendimento, o sentimento e a consciência da
posse de um eu uma realidade exclusiva que torna cada um de nós distintos dos
outros quem nos relacionamos ou não.
A construção social da realidade organizacional – revelada em sua
cultura - é produto da estrutura de jogos dos segmentos de poder que compõem
tal comunidade.
Visão, missão, objetivos, estratégias e tarefas necessárias ao
funcionamento da organização de trabalho são definidos e direcionados com base
em valores, crenças, experiências e conhecimentos dos dirigentes. No início, o compartilhamento
da visão de mundo do empreendedor ou fundador e de seus principais colaboradores
pode ser
incipiente, mas, pelo menos nas áreas sob seu
controle direto, conduz o funcionamento organizacional na direção que almejam.
A história da organização
é fonte de informações para que se compreenda o presente e o futuro. As
interações que se formam nas organizações de trabalho são complexas, dinâmicas
e interdependentes. Uma organização não surge desde sua origem, como uma
cultura, transforma-se ao longo do tempo, através de sua história, em uma
cultura, é socialmente construída. São caracterizadas como sistemas sociais,
tem início desde que começam as atividades organizacionais, com regras e
políticas, estratégias, dentro do contexto onde está inserida. É edificada no tempo, influenciada pelo
fundador, com base nos valores e crenças são difundidos e fortalecidos pelas
coalizões dominantes internas e externas.
A formação de identidade
organizacional como individual é formada
pela rede de interação e se desenvolve continuamente. O indivíduo é produto e
produtor do sistema.
A Organização Como Um Fenômeno Socialmente
construído - IN -ZANELLI, José Carlos. Interação Humana e Gestão: a construção psicossocial das organizações de trabalho. São Paulo. Casa do Psicólogo. 2008.
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