PENSAMENTO
OPERATÓRIO: CARêNCIA FANTASMÁTICA E REATIVIDADE ORGÂNICA - Psicossomática
Por Rodrigo
Sanches Peres
Em função dos
achados oriundos de seus trabalhos clínicos, Marty e M'Uzan (1962/1994)
apontaram que usualmente pacientes somáticos apresentam pensamentos
superficiais,... estreitamente vinculados à materialidade dos fatos... se
caracterizam por um comprometimento da capacidade de simbolização. ...o que
denota a existência de uma carência funcional do psiquismo (Horn & Almeida,
2003; Silva & Caldeira, 1993).
Condutas pouco elaboradas do ponto de
vista psíquico são então adotadas para minimizar o impacto causado pelas
excitações. Isso sugere que o inconsciente não consegue se comunicar mediante o
emprego de representações e tende a encontrar no comportamento sua única
possibilidade de expressão...
Marty (1998) salienta também que
pacientes somáticos geralmente estabelecem vínculos afetivos pouco
significativos e sustentam relacionamentos superficiais. Não obstante, em
contraste com o que se observa nos casos de neurose obsessiva, essa tendência
não se deve à manipulação do material psíquico, já que, como apontado
anteriormente, uma importante restrição da capacidade de simbolização os
acomete. A propensão ao distanciamento e à manutenção de "relações
brancas", portanto, se encontra associada às identificações esquemáticas
que amiúde são estabelecidas pelos indivíduos em pauta devido à escassez de
seus investimentos libidinais.
Tendo em
vista o que precede, Marty e M'Uzan (1962/1994) propuseram que pacientes
somáticos comumente apresentam um funcionamento psíquico que se situa entre as neuroses e as psicoses.
Entretanto,
os comportamentos podem, como propôs Freud (1913/1996), substituir a linguagem
e o pensamento e promover de forma relativamente satisfatória a descarga das
tensões. Por essa razão, não raro os indivíduos operatórios conseguem, graças à
orientação para a ação que apresentam, se proteger da eclosão de afecções
orgânicas. Ademais, muitos pacientes somáticos não demonstram qualquer indício
de funcionamento operatório. Isso acontece porque o adoecimento, como não se
pode perder de vista, é um processo complexo, cujo curso, determinado pela
interação de diversos fatores, é irredutível a um único padrão.
pensamento
operatório coloca em xeque a suposta capacidade
ilimitada de elaboração psíquica da qual, segundo Freud (1914/1996), o homem
pode se beneficiar às custas do processo de reprodução inconsciente de
experiências penosas desencadeado pela compulsão à repetição.
É preciso
reconhecer, por fim, que Marty e seus colaboradores não elaboraram hipóteses
suficientemente esclarecedoras acerca da etiologia do pensamento operatório. O
que se postula é que esse modo de funcionamento psíquico se encontra
intimamente relacionado a desarmonias afetivas ocorridas na primeira infância
em virtude do desempenho inapropriado — excessivo ou insuficiente — da função
materna (Marty, 1998). Nesse sentido, pode-se propor que, na maior parte dos
casos, indivíduos operatórios foram educados por mães autoritárias, deprimidas,
negligentes, superprotetoras ou que, devido a qualquer outro motivo, não se
mostraram capazes de proteger seus filhos das tensões que os acometeram no
início da vida.
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