Desenvolvimento
Psicológico Na Infância
Henry Wallon nasceu na França em 1879. Antes de
chegar à psicologia passou pela filosofia e medicina e ao longo de sua
carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a educação. Em 1902, com
23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior, cursou também
medicina, formando-se em 1908. Viveu num período marcado por instabilidade social e turbulência
política. As duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), o avanço do fascismo no
período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação
das colônias na África atingiram boa parte da Europa e, em especial, a França.
Em 1914 atuou como médico do exército
francês, permanecendo vários meses no front de combate. O contato com lesões
cerebrais de ex-combatentes fez com que revisse posições neurológicas.
Até 1931 atuou como médico de
instituições psiquiátricas.
Paralelamente à atuação de médico e
psiquiatra consolida-se seu interesse pela psicologia da criança.
Na 2a guerra atuou na Resistência
Francesa contra os alemães, foi perseguido pela Gestapo, teve que viver na
clandestinidade.
De 1920 a 1937, é o encarregado de
conferências sobre a psicologia da criança na Sorbonne e outras instituições de
ensino superior.
Em 1925 funda um laboratório destinado
à pesquisa e ao atendimento de crianças ditas deficientes.
Ainda em 1925 publica sua tese de
doutorado “A Criança Turbulenta”. Inicia um período de intensa produção com
todos os livros voltados para a psicologia da criança. O último livro “Origens
do pensamento na criança’, em 1945.
Em 1931 viaja para Moscou e é convidado
para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se
reuniam com o objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e de
examinar as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da
ciência.
Neste grupo o marxismo que se discutia
não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica.
Em 1942, filiou-se ao Partido
Comunista, do qual já era simpatizante. Manteve ligação com o partido até o
final da vida.
Em 1948 cria a revista ‘Enfance”. Neste
periódico, que ainda hoje tenta seguir a linha editorial inicial, as
publicações servem como instrumento de pesquisa para os pesquisadores em psicologia
e fonte de informação para os educadores.
Faleceu em 1962.
A
ABORDAGEM DE HENRI WALLON
A gênese da inteligência para Wallon é genética e
organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente social e sua
estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar"
(Dantas, 1992). Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon
é centrada na psicogênese da pessoa completa.
Henri Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no
desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da
criança. Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por
contradições e conflitos, resultado da maturação e das condições ambientais,
provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral.
Wallon realiza um estudo que é centrado
na criança contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do
desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e
reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores.
Nesse sentido, a passagem dos estágios
de desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação,
instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a
conduta da criança.
Conflitos se instalam nesse processo e
são de origem exógena quando resultantes dos desencontros entre as ações da
criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura e
endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa (Galvão, 1995).
Esses conflitos são propulsores do desenvolvimento.
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:
Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. A
predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas,
às quais intermediam sua relação com o mundo físico;
Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A aquisição
da marcha e da prensão, dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos
e na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da
função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do
pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental
"projeta-se" em atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o
ato mental se desenvolve a partir do ato motor;
Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse
estágio desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações
sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas;
Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o
interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo
exterior;
Predominância funcional. Ocorre nova definição dos contornos
da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes
da ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
Na sucessão de estágios há uma
alternância entre as formas de atividades e de interesses da criança,
denominada de "alternância funcional", onde cada fase predominante
(de dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas pela
outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de
integração e diferenciação.
Wallon enfatiza o papel da emoção no
desenvolvimento humano, pois, todo o contato que a criança estabelece com as
pessoas que cuidam dela desde o nascimento, são feito de emoções e não apenas
cognições.
Baseou suas idéias em quatro elementos
básicos que estão todo o tempo em comunicação: afetividade, emoções, movimento
e formação do eu.
AFETIVIDADE- possui papel fundamental
no desenvolvimento da pessoa pois é por meio delas que o ser humano demonstra
seus desejos e vontades. As transformações fisiológicas de uma criança (nas
palavras de Wallon, em seu sistema neurovegetativo) revelam importantes traços
de caráter e personalidade.
EMOÇÕES- é altamente orgânica, ajuda o ser
humano a se conhecer. A raiva, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos
mais profundos possuem uma função de grande relevância no relacionamento da
criança com o meio.
MOVIMENTO- as emoções da organização
dos espaços para se movimentarem. Deste modo, a motricidade tem um caráter
pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento, quanto pela maneira
com que ele é representado. A escola ao insistir em manter a criança
imobilizada acaba por limitar o fluir de fatores necessários e importantes para
o desenvolvimento completo da pessoa.
FORMAÇÃO DO EU- a construção do eu
depende essencialmente do outro. Com maior ênfase a partir de quando a criança
começa a vivenciar a "crise de oposição", na qual a negação do outro
funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso
acontece mais ou menos em torno dos 3 anos, quando é a hora de saber que
"eu" sou. Imitação, manipulação e sedução em relação ao outro são
características comuns nesta fase.
Wallon, deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia infantil e reformular os seus problemas.
Fonte:
LA TAILLE, Yves. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas
em discussão. Summus, São Pualo, 1992
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