A
etimologia da palavra trabalho sugere dor e sofrimento, deriva da palavra de
origem latina tripalium, instrumento
constituído de três paus, que eram cravados no chão e utilizados em fazendas e
quintas da Europa da Idade Média e nos quais eram amarrados os animais em
trabalho de parto, para a marcação a ferro e outras intervenções veterinárias.
Mais tarde passou a ser usado como instrumento de tortura onde o trabalhador
era o torturador. Caiu em desuso com a sofisticação da Inquisição da Igreja.
À
concepção social de sofrimento somou-se a crença religiosa de "castigo
pelo pecado original", sob a ótica e a fé protestante da sociedade ocidental, cujas crenças são, de que, pelo esforço sobre-humano as pessoas atingiriam "o reino do céus". O
sofrimento não está no trabalho em si, mas nas duras condições em que este
ocorre. Ainda hoje, em alguns lugares, o trabalho continua associado a algo
penoso e difícil, sinônimo de servidão, exploração, monotonia e degradação.
"Contudo,
o trabalho pode ser exaustivo e estressante, monótono e doloroso, mas também
pode ser divertido e pleno de significado [...] e emancipador." (ZANELLI,
2008)
Ainda segundo o mesmo autor, o trabalho
pode ser compreendido como todo esforço intencional que produz consequências em
seu ambiente. A compreensão do trabalho como emprego confere ao mesmo um
sentido de caráter instrumental. Sem outras características que confiram
sentido ao que é realizado, o trabalho se transforma em fonte de alienação,
estranhamento e deterioração.
O
trabalho constrói a identidade do indivíduo que deve compreender a finalidade
das atividades que são impostas para garantir a manutenção da sua sanidade
mental, do contrário, a exemplo do filme "Tempo Modernos" (Charles
Chaplin), onde o operário executa a tarefa de um trabalho segmentado, o sujeito
corre o risco de adoecimento por desconhecimento de qual seria o produto final
para o qual ele está colaborando.
Se
a tarefa for agradável se torna fonte de motivação no trabalho e refletirá em
seu rendimento e na sensação de bem-estar.
De
outro prisma, o conceito de saúde também está vinculado a uma adaptação ativa à
realidade e a qualidade de vida, por sua vez, implica satisfazer necessidades e
alcançar expectativas.
A
maior parte da vida é passada no trabalho e a qualidade de vida dependerá de
suas condições. Como bem diz Zanelli (2008), o desgaste físico leva à corrosão
da dignidade e da vontade do sujeito. As satisfações ou insatisfações
provenientes do ambiente psicossocial de trabalho refletem na vida pessoal, ao
mesmo tempo em que as realizações e problemas da vida pessoal refletem no
trabalho. (ZANELLI, 2008)
A
responsabilidade social de manter a saúde e o bem estar do trabalhador fica a
cargo da administração das empresas e instituições, na figura dos seus
gestores, que devem assumi-la com comprometimento dentro de valores éticos, oferecendo
aos seus colaboradores condições de trabalho e de vida dignos. A contratação de
psicólogos para atuar junto aos funcionários e garantir, na medida do possível,
seu bem-estar, não é somente necessária, mas sim imprescindível.
Deve-se
levar em conta melhor compreensão e controle por parte da Psicologia
Organizacional nas relações de trabalho: organização – trabalhador –
organização do trabalho, formas de gestão, supervisão, processos e sua
influência na forma de trabalhar.
O
psicólogo deve receber treinamento em segurança e saúde ocupacional. A
psicologia tem a responsabilidade de exercer papel pró-ativo, propondo e
desenvolvendo políticas e programas eficazes para um ambiente de trabalho
saudável, estabelecendo mecanismos que impeçam ou, pelo menos, diminuam
repercussões negativas na vida do trabalhador.
É na
interface entre a Saúde Mental e o Direito do Trabalho que surge a Psicologia e
Psiquiatria Ocupacional com intuito de amenizar as formas de psicopatologização
do trabalho, contribuindo com as empresas que empreenderão o modelo de
prevenção, saindo do modelo biomédico, diminuindo custos, tanto econômicos
quanto operacionais para o empregador, e consequentemente oferecendo maior
qualidade nas condições de trabalho para o funcionário, diminuindo assim, o
risco de adoecimento do trabalhador e o presenteísmo, que muitas vezes pode ser mais preocupante do
que o absenteísmo.
Desse
modo, e observados os fundamentos e ensinamentos alhures expostos, devemos
considerar que o trabalho não é só um gerador de psicopatologias, mas também uma
fonte de saúde e prazer.
Nos próximos oito textos tento fazer
uma associação entre Trabalho e Psicologia da Saúde Ocupacional, apresentando o resumo
do livro INTERAÇÃO HUMANA E GESTÃO – A
Construção Psicossocial Das Organizações De Trabalho, de José Carlos Zanelli e
expor questões como: psicopatologização no trabalho, estratégias de
enfrentamento, comprometimento, gestão
com pessoas, qualidade de vida, promoção de saúde e outros.
Obrigada,
Graciela
http://gtcomparin.blogspot.com.br/2012/12/a-organizacao-como-um-fenomeno.html
http://gtcomparin.blogspot.com.br/2012/12/valores-mudancas-e-acoes-na-construcao.html
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