O Fazer e a Consciência - RESENHA
CRÍTICA
O Fazer e a Consciência - O homem
em movimento.
Lehninger, em seu tratado de
Bioquímica, diferencia a matéria viva da matéria não-viva pelo fato de o
organismo extrair e transformar a energia do seu meio ambiente em "uma
relação funcional". (Codo, 1987, p. 48). Relação de dupla
apropriação - a energia é retirada do meio para construir e manter a própria
estrutura do organismo vivo.
“A sobrevivência de um organismo depende em
última instância da capacidade física, biológica e psicológica de transformar o
meio à sua imagem e semelhança e, portanto, de autotransformar-se à imagem e
semelhança do meio. " (Codo, 1987, p. 49)
“A Psicologia enquanto nos interessa mais
de perto se preocupa com os mecanismos de sobrevivência do organismo em termos
de percepção, aprendizagem, motivação, etc.” (Codo, 1987, p. 49)
O Homem produz sua própria
existência. Para tanto se relaciona com os outros, produzindo e sendo
produzido pelo outro.
“Ao comer um tomate, por exemplo, o homem
entra em relação de dupla apropriação com todo o planeta e com toda a história
da Humanidade literalmente. " (Codo, 1987, p. 49)
O homem não encontra o tomate pronto na
natureza, tem que plantá-lo, para isso necessita da técnica e de um projeto.
Necessita do outro.
A técnica pressupõe uma divisão de trabalho tanto longitudinal quanto
transversal. Transversalmente, o homem se divide para produzir,
longitudinalmente, cada geração aperfeiçoa parte da técnica que o homem
aprendeu.
“No cerne desta questão está o problema da
divisão de trabalho, e é esta divisão de trabalho que permeia a linguagem, os
instrumentos, o pensamento, a consciência.” (Codo, 1987, p. 51)
“Além das sensações, a apropriação da
natureza produz a ação do homem, estabelece relações de contingência entre os
comportamentos, dispõe o reforçamento... o fruto fornece um significado ao
gesto e incorpora a ele uma finalidade.” (Codo, 1987, p. 51)
O homem mantém uma relação dialética com a natureza, ele é transformado por ela
enquanto a transforma a sua imagem e semelhança. Ao plantar o homem modifica
para si o meio externo conforme sua necessidade e vontade.
O uso de instrumentos de trabalho
O instrumento de trabalho tem um caráter mediador, funciona como extensão do
homem, ampliando seus gestos enquanto o eterniza.
O instrumento representa também um projeto, transformando uma
reflexão em ação materializada, transcendente.
“Os meios de trabalho exercem a mediação entre a reflexão e a História...
através do instrumento de trabalho o homem transforma a história dos homens e é
transformado por ela... o instrumento é produtor e produto da abstração” (Codo,
1987, p. 53)
“Em suma, o instrumento de trabalho transforma o homem de animal
em ser transcendente: através da ação mediatizada o homem transcende a si
mesmo, em direção ao seu projeto, portanto em relação ao outro, portanto em
direção à História”. (Codo, 1987, p. 54)
O homem e o outro
O
trabalho exigiu do homem a convivência em grupos, o desenvolvimento da
linguagem e a própria divisão do trabalho.
A divisão de trabalho une e separa os
homens ao mesmo tempo.
“Se a caça é grande e perigosa o suficiente para que o homem não
possa abate-Ia sozinho,se organizam grupos encarregados de abate-Ia e outros
encarregados de espantá-Ia.” (Codo, 1987, p. 54)
Esta divisão de trabalho tende a se
cristalizar, o que implica que percepções, abstrações e também consciências
diferentes da realidade se estabeleçam em homens diferentes. Esses homens que,
separados pelas atividades diferenciadas, acabam por se unir na execução do
projeto e obtenção dos objetivos. O produto do seu trabalho fará a interligação
entre os indivíduos para que possam sobreviver. Necessário se faz que cada um
ceda a seus instintos imediatos para juntos executarem o projeto do grupo.
A dialética união-separação é fundamental para o processo de conscientização.
“A construção de instrumentos imbricada com
a linguagem permite que o engenho, a criatividade, a competência de um
trabalhador em particular transcenda a si mesmo e passe a pertencer a toda a
humanidade.”(Codo, 1987, p.55)
O instrumento é uma via de consciência do
mundo e do social, pois, representa o homem, a história e toda a sociedade.
Quanto mais a técnica é aperfeiçoada mais humano se torna o ambiente natural do
homem. Hoje encontramos homens operando máquinas produzidas por máquinas
através de eletricidades que não sabemos quando foi produzida pela primeira vez.
“Assim se promove um “afastamento” aparente
que se concretiza por um poder cada vez maior sobre a natureza pela via social,
vale dizer, histórica.” (Codo, 1987, p.55)
O fenômeno da consciência se revela através da atividade humana, pela via do
desenvolvimento da linguagem, dos instrumentos, do trabalho e da divisão do
trabalho.
Segundo Marx o trabalho é alienado, dividido entre trabalho intelectual e
braçal, o gesto é expropriado da criação. O operário viverá o tempo todo entre
a apropriação de si pelo mundo e a repropriação do mundo. Promovendo a ruptura
da produção alienada (greve, por exemplo) há, também, a ruptura do isolamento
de um indivíduo para com o outro. “A não produção produz um produtor ativo, de
si, do outro, do mundo.” (Codo, 1987, p.56). Pelo outro o sujeito
reencontra a si mesmo e o existir coletivo reencontra o sujeito individual.
Os homens transformam a natureza e são
transformados na mesma medida, refletindo a cerca de sua forma de agir.
Comunicando-se e sistematizando as suas experiências o homem produz sua própria
existência. Para tanto se relaciona com os outros, produzindo e sendo
produzido pelo outro.
Desta forma os homens fazem a sua
história e a transformam. A herança material e cultural das gerações
anteriores é o ponto de partida para tal transformação. O registro
transforma-se em herança, base para tal criação. Possibilita projetar
novas formas culturais e materiais, superiores àquelas que já possui.
Os instrumentos de trabalho além de ser uma
extensão do homem, são produto de uma herança cultural. Em um determinado
momento da história surgiu o primeiro utensílio, que foi sendo aperfeiçoado a
partir da experiência das necessidades dos indivíduos.
No centro de toda evolução (de simples
instrumentos de trabalho até a atual tecnologia) sempre esteve a necessidade de
sobrevivência do homem. O que impulsiona o avanço, as melhorias de um projeto,
é a urgência que o homem tem de garantir sua sobrevivência, suprir suas
necessidades (ou até mesmo conforto), que mudam com o tempo, conforme a
cultura, a sociedade, os costumes, e as construções e representações que vão
surgindo enquanto indivíduo e/ou grupo.
O trabalho exigiu do homem um tipo de
organização social, a convivência em grupos, o desenvolvimento da linguagem e a
própria divisão do trabalho. A partir do trabalho o homem construiu sua própria
subjetividade.
A divisão do trabalho produziu homens
diferentes, com percepções, abstrações e também consciências diferentes da
realidade. Separados pelas atividades, acabam por se unir na realização do
projeto e obtenção de um objetivo – a garantia da sobrevivência de todos. A dialética
união-separação é fundamental para o processo de conscientização.
O instrumento de trabalho é uma via de
consciência do mundo - representa o homem e sua a história.
Quanto mais a técnica é aperfeiçoada mais
humano se torna o ambiente natural do homem.
A consciência se revela através da
atividade humana, que se dá pelo desenvolvimento da linguagem, dos
instrumentos, do trabalho e da divisão do trabalho.
Segundo Marx o trabalho é alienado:
dividido entre intelectual e braçal, o gesto é expropriado da criação.
Essa divisão é decorrente, provavelmente,
da hierarquização de classes da sociedade, agravada pela imensa diferença
social. Os trabalhadores pobres em termos materiais e culturais foram excluídos
do acesso à educação formal. O trabalho torna-se segmentado e dividido -
separado o intelectual do manual, sem que essa separação se dê por completo,
obviamente, já que um não funciona sem o outro.
O trabalhador alienado que, por um motivo qualquer (greve, por exemplo),
interrompe a produção, interrompe também a alienação para com o
outro. Pelo outro o sujeito reencontra a si mesmo e o existir
coletivo reencontra o sujeito individual.
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