Estresse
e Úlceras Gástricas
Hans
Selye foi o primeiro a descrever a resposta de estresse, na década de 1950, e logo
reconheceu a sua natureza dual. A curto prazo, ela produz mudanças adaptativas
que ajudam o animal a responder ao estressor (a mobilização de recursos energéticos,
a inibição de inflamação e a resistência a infecções). A longo prazo, contudo, ela
produz mudanças mal adaptativas (o aumento das glândulas adrenais). Selye
atribuiu a resposta de estresse à ativação do sistema córtex supra-renal-adeno-hipôfise.
Ele concluiu que os estressores que agem sobre os circuitos neurais estimulam a liberação do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH)
da hipófise anterior. O ACTH, por sua vez, desencadeia a liberação de glicocorticóides
do córtex suprarenal. Ambos produzem muitos dos efeitos da resposta de estresse.
O nível de glicocorticóides circulantes é a medida fisiológica do estresse utilizada com mais freqüência. Com sua ênfase no papel do sistema córtex supra-renal -adeno-hipofisário sobre o estresse, Selye ignorou as contribuições do sistema nervoso simpático.
Os estressores também ativam o sistema nervoso simpático, aumentando a quantidade
de adrenalina (ou epinefrina) e noreadrenalina (ou noraepinefrina) liberadas pela medula supra-renal. A maioria das
teorias modernas do estresse (Stanford e Salmon, 1993) reconhece as influências
importantes dos dois sistemas (ver Figura abaixo).
A intensidade
da resposta de estresse não depende apenas do estressor e do indivíduo, mas
também das estratégias que o indivíduo adota para enfrentá-Io (McEwen, 1994).
Por exemplo, em estudo entre mulheres esperando por cirurgia para possível câncer
de mama, os níveis de estresse foram mais baixos naquelas que se convenceram a pensar
sobre o problema de determinadas maneiras.
As que se convenceram de que poderiam não ter câncer ou de que seria contraproducente
preocupar-se com ele experimentaram menos estresse (Katz e cols., 1970).
Do
ponto de vista da ciência psicológica, a principal contribuição da resposta de
estresse de Selye foi propiciar um mecanismo pelo qual os fatores psicológicos podem
influenciar o estresse físico. Todos os tipos de estressores psicológicos comuns
(como perder o emprego, preparar-se para um exame, terminar um relacionamento)
estão associados a níveis circulantes elevados de glicocorticóides, de epinefrina e de norepinefrina, os quais, por sua vez, estão
implicados em muitos transtornos físicos (Salovey e cols., 2000). Por exemplo,
o medo ou o estresse antes de uma cirurgia foram associados à recuperação pós-cirúrgica
mais lenta, incluindo atrasos na cura de ferimentos (Kiecolt- Glaser e cols., 1998).
A relação
entre o medo crônico, o estresse e a saúde deficiente é facilmente visível em animais
submetidos a estresse por subordinação. Praticamente, todos os mamíferos – particularmente
os machos - experimentam ameaças de co-especificos (membros da mesma espécie) em
certos pontos de suas vidas. Quando uma ameaça co-específica torna-se permanente
na vida cotidiana, o resultado é o estresse por subordinação. Ele é estudado com
mais facilidade em espécies sociais que formam hierarquias de dominação (lei do
galinheiro) estáveis.
O que
você acha que acontece com roedores machos subordinados atacados continuamente
por machos mais dominantes? Vários estudos relataram que animais expostos ao estresse por subordinação
têm mais propensão a atacar jovens, de ter testículos de tamanho reduzido, de
ter vidas mais curtas e de ter níveis mais baixos de testosterona e mais altos
de corticosterona (um glicocorticoide).
Estresse e
úlceras gástricas
O estresse
há muito foi implicado no desenvolvimento de úlceras gástricas. As úlceras gástricas
são lesões dolorasas no revestimento do estômago e do duodeno que, em casos extremos,
podem ser fatais. Somente nos Estados Unidos cerca de 500 mil novos casos são
registrados a cada ano (ver Livingston e Guth, 1992). As úlceras gástricas, em
geral, atingem pessoas que vivem em condições estressantes. Os estressores (como
o confinamento em tubo de restrição por algumas horas) pode produzi-las em
animais de laboratório.
Durante
décadas, as úlceras gástricas foram consideradas o protótipo das doenças
psicossomáticas (doenças físicas com evidências incontestáveis de causa
psicológica). Contudo, essa visão parece ter mudado com o relato de que as úlceras
gástricas seriam causadas por bactérias. De fato, afirmou-se que as bactérias
causadoras de úlceras (Helicobacter pylori) são responsáveis por todos os casos
de úlcera gástrica, exceto os causados por agentes antiinflamatórios não-esteróides,
como a aspirina (Blaser, 1996). Isso parece excluir o estresse como fator
causal desse tipo de úlceras, mas avaliação minuciosa das evidências sugere o
contrário (Overmier e Murison, 1997).
Os
fatos não negam que a bactéria H. pylori provoca lesões na parede do estômago
ou que o tratamento antibiótico de úlceras gástricas ajuda muitas de suas
vítimas. Contudo, eles sugerem que apenas a infecção por H. pylori é insuficiente
para produzir a doença na maioria das pessoas. Embora seja verdade que a
maioria dos pacientes com úlceras gástricas apresente sinais de infecções por H.
pylori, 75% dos sujeitos-controle também apresentam. Além disso, embora seja
verdade que os antibióticos melhorem a condição de muitos pacientes com úlceras
gástricas, os tratamentos psicológicos também ajudam - sem reduzir os sinais da
infecção por Helicobacter pylori. Aparentemente, há outro fator que aumenta a suscetibilidade
da parede do estômago a lesões por H. pylori, provavelmente seja o estresse.
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