Intrudução à Teoria de Erik Erikson
Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha,
em 1902 (vindo a falecer em 1994). Tento inicialmente optado pela carreira
artística, foi convidado a trabalhar em uma escola para pacientes submetidos à
psicanálise, entrando então em contato com o grupo de Anna Freud. Em 1933,
quando se casou com uma canadense, mudou-se para os Estados Unidos, continuando
seus estudos em Psicanálise, tornando-se o primeiro psicanalista infantil americano.
Sem negar a teoria freudiana sobre desenvolvimento
psicossexual, Erikson mudou o enfoque desta para o problema da identidade e das
crises do ego, ancorado em um contexto sociocultural. O estudo da identidade
tornou-se estratégico para o autor, que viveu em uma época onde a Psicanálise
deslocava o foco do id e das motivações inconscientes para os conflitos do ego.
Na verdade, é preciso considerar que as mudanças de
enfoque na teoria psicanalítica ocorreram antes da morte de Freud (Hall et.
al., 2000). O que havia de ser contestado e modificado foi feito por seus
discípulos em sua presença. Esta foi a causa de tantas dissidências em seu
círculo de estudos. Jung e Adler são exemplos daqueles que foram excluídos de
seu grupo ao discordarem de alguns pontos da teoria freudiana ou simplesmente
por terem mudado o foco de estudo. Após a morte de Freud, a Psicanálise sofreu
uma espécie de ampliação. Algumas idéias foram redefinidas, outras suprimidas,
mas, em sua maioria, até mesmo por decorrência do contato da Psicanálise com a
Psicologia, foram estendidas.
Um avanço da teoria freudiana que é, sem dúvida, da
maior importância para o estudo do humano no século XX, é o foco no ego. Em
Freud, o ego aparece como sistema muitas vezes subserviente ao id. Anna Freud,
filha de Sigmund Freud, dando continuidade aos seus estudos, atribuiu ao ego
uma característica de mais autonomia, com um maior poder de decisão e de
atuação. Anna também ampliou os mecanismos de defesa de sete para dez.,
atribuindo a eles um caráter menos patológico do que Freud o fizera. Com sua
teoria, Anna Freud também transformou os estágios psicossexuais de seu pai em
estágios de busca de domínio do ego, dando a base para os estudos de
Erik Erikson. Esta fase na Psicanálise ficou conhecida como época da
“Psicologia do Ego”, onde se diminuía a ênfase no inconsciente (Hall, et. al.,
2000).
Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua
teoria psicossocial do desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de
Freud, sempre considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um
ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste. A partir desta
consideração, Erikson formula sua teoria de forma a deixar duas importantes
contribuições à Psicanálise, segundo Hall e colaboradores (2000): deixa uma
teoria na qual o ego tem uma concepção ampliada e realiza estudos
psico-históricos, exemplificando sua teoria psicossocial no curso de vida de
algumas figuras famosas. Essa metodologia é totalmente nova para a Psicanálise
da época e na própria psicologia, pois estudos longitudinais eram muito raros e
complexos de serem realizados (ainda o são hoje), embora se mostrem como um
excelente método de validar teorias como a de Erikson, que trabalham o clico
vital como um contínuo onde cada fase influencia a seguinte.
Assim
como Freud, Piaget, Sullivan, entre ouras figuras da época, Erikson optou por
distribuir o desenvolvimento humano em fases. Porém, seu modelo detém algumas
características peculiares (Rabello, 2001):
·
Desviou-se o foco fundamental da
sexualidade para as relações sociais;
·
A proposta os estágios psicossociais
envolvem outras artes do ciclo vital além da infância, ampliando a proposta de
Freud. Não existe uma negação da importância dos estágios infantis (afinal,
neles se dá todo um desenvolvimento psicológico e motor), mas Erikson observa
que o que construímos na infância em termos de personalidade não é totalmente
fixo e pode ser parcialmente modificado por experiências posteriores;
·
A cada etapa, o indivíduo cresce a partir
das exigências internas de seu ego, mas também das exigências do meio em que
vive, sendo portanto essencial a análise
da cultura e da sociedade em que vive o sujeito em questão;
·
Em cada estágio o ego passa por uma crise
(que dá nome ao estágio). Esta crise pode ter um desfecho positivo
(ritualização) ou negativo (ritualismo);
·
Da solução positiva, da crise, surge um ego
mais rico e forte; da solução negativa temos um ego mais fragilizado;
·
A cada crise, a personalidade vai se
reestruturando e se reformulando de acordo com as experiências vividas,
enquanto o ego vai se adaptando a seus sucessos e fracassso.
Erikson criou alguns estágios, que ele chamou de
psicossociais, onde ele descreveu algumas crises pelas quais o ego passa, ao
longo do ciclo vital. Estas crises seriam estruturadas de forma que, ao sair
delas, o sujeito sairia com um ego (no sentido freudiano) mais fortalecido ou
mais frágil, de acordo com sua vivência do conflito, e este final de crise
influenciaria diretamente o próximo estágio, de forma que o crescimento e o
desenvolvimento do indivíduo estaria completamente imbricado no seu contexto
social, palco destas crises.
Crises do ego:
Confiança Básica x Desconfiança Básica
Esta
seria a fase da infância inicial, correspondendo ao estágio oral freudiano.A
atenção do bebê se volta à pessoa que provê seu conforto, que satisfaz suas
ansiedades e necessidades em um espaço do tempo suportável: a mãe. A mãe lhe dá
garantias de que não está abandonado à própria sorte no mundo.
Assim se
estabelece a primeira relação social do bebê. E justamente sentindo falta da
mãe que a criança começa a lidar com algo que Erikson chama de força básica
(cada fase tem a sua força característica). Nesta, a força que nasce é a esperança.
Quando o bebê se dá conta de que sua mãe não está ali, ou está demorando a
voltar, cria-se a esperança de sua volta. E quando a mãe volta, ele compreende
que é possível querer e esperar, porque isso vai se realizar; ele começa a
entender que objetos ou pessoas existem, embora esteja fora – temporariamente –
de seu campo de visão.
Quando o
bebê vivencia positivamente estas descobertas, e quando a mãe confirma suas
expectativas e esperanças, surge a confiança básica, ou seja, a criança
tem a sensação de que o mundo é bom, que as coisas podem ser reais e
confiáveis. Do contrário, surge a desconfiança básica, o sentimento de que
mundo não corresponde, que é mau ingrato. A partir daí, já podemos perceber
alguns traços da personalidade se formando, ainda que em tão tenra idade
(Erikson, 1987 e 1976). É importante que a criança conviva com pequenas
frustrações, pois é daí que ela vai aprender a definir quais esperanças são
possíveis de serem realizadas, dando a noção do que Erikson chamou de ordem
cósmica, ou seja, as regras que regem o mundo.
Nesta
fase também o bebê tem a idéia de sua mãe como um ser supremo, numinoso,
iluminado. Nesta mesma época, começam as identificações com a mãe, que é por
enquanto, a única referência social que a criança tem. Se esta identificação
for positiva, se a mãe corresponder, ele vai criar o seu primeiro e bom
conceito de si e do mundo (representado pela mãe). Se a identificação for
negativa, temos o idolismo, ou seja, o culto a um herói, onde o bebê acha que
nunca vai chegar ao nível de sua mãe, que ela é demasiadamente capaz e boa, e
que ele não se identifica assim. Inicialmente, a criança vai se tornar
agressiva e desconfiada; mais tarde, elas vão se tornar menos competentes,
menos entusiasmadas, menos persistentes.
A importância da confiança básica é
devida, segundo Erikson, ao fato de implicar a idéia de que a criança “não só
aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores externos,
mas também em si próprio e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente ao
seus impulsos e anseios” (1987, p.102).
Autonomia
x Vergonha e Dúvida
Nesta
fase eriksoniana, que corresponde ao estágio anal freudiano, a criança já tem
algum controle de seus movimentos musculares, então direciona sua energia às
experiências ligadas à atividade exploratória e à conquista da autonomia.
Porém, logo a criança começa a compreender que não pode usar sua energia
exploratória à vontade, que tem que respeitar certas regras sociais e
incorporá-las ao seu ser, fazendo assim uma equação entre manutenção muscular,
conservação e controle (Erikson, 1976).
A
aceitação deste controle social pela criança implica no aprendizado – ou no
início deste – do que se espera dela, quais são seus privilégios, obrigações e
limitações. Deste aprendizado surge também a capacidade e as atitudes
judiciosas, ou seja, surge o poder de julgamento a criança, já que ela está
aprendendo as regras.
A
questão é que os adultos, para fazerem as crianças aprenderem tais regras –
como a de ir ao banheiro, tão enfatizada por Freud – fazem uso da vergonha e ao
mesmo tempo do encorajamento para dar o nível certo de autonomia. Os pais,
muitas vezes, usam sua autoridade de forma a deixar a criança um pouco
envergonhada, para que ela aprenda determinadas regras. Porém, ao expor a criança
à vergonha constante, o adulto pode estimular o descaramento e a dissimulação,
como formas reativas de defesa, ou o sentimento permanente de vergonha e dúvida
de suas capacidades e potencialidades.
Em uma
explanação mais completa sobre a vergonha, Erikson ressalta que
trata-se, na verdade, de raiva dirigida a si mesmo, já que pretendia fazer algo
sem estar exposto aos outros, o que não aconteceu. A vergonha precederia a
culpa, sendo esta última derivada da vergonha avaliada pelo superego (Erikson, 1976).
De um sentimento de autocontrole sem perda
de auto-estima resulta um sentimento constante de boa vontade e orgulho; de um
sentimento de perda do autocontrole e de supercontrole exterior resulta uma
propensão duradoura para a dúvida e a vergonha. (Erikson, 1976, p.234)
Na aprendizagem do controle, seja do autocontrole o do
controle social, temos o nascimento da força básica da vontade, que,
manifestada na livre escolha, é o precedente essencial para o crescimento sadio
da autonomia. Essa vontade se manifesta em várias situações práticas, como a
manipulação de objetos, a verbalização eu se inicia, a locomoção que avança em
suas capacidades, tudo o que possibilite uma atividade exploratória mais
autônoma e independente.
Se ao invés da vontade o controle toma a forma de uma
regra a ser cumprida a qualquer preço, algo mau e perseguidor, a criança começa
a se tornar legalista, ou seja, ela começa a achar que a punição tem que ser
aplicada incondicionalmente quando uma regra não for respeitada. É quando a
punição vence a compaixão; se a criança se mobiliza com a punição do colega que
perdeu o controle de uma regra, ou então se sente aliviado quando é punido por
algo.
Neste estágio, o principal cuidado que os pais tem que
tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá
que não consegue dar conta e sua auto-estima vai baixar. Se ela é pouco
exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida de suas capacidades. Se a
criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e
envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas
capacidades. Vemos portanto que os pais tem que dar à criança a sensação de
autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxilia-la nos
momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades.
Se a criança se sentir envergonhada demais por não
conseguir dar conta de determinada coisa ou se os pais reprimem demais sua
autonomia, ela vai entender que todo o problema dela, toda a dúvida e a vergonha
vieram de seus pais, adultos, objetos externos.Com isso, começará a ficar tensa
na presença deles e de outros adultos, e poderá achar que somente pode se
expressar longe deles.
Iniciativa
x Culpa
Neste estágio, que corresponde à fase fálica freudiana,
a criança já conseguiu a confiança, com o contato inicial com a mãe, e a
autonomia, com a expansão motora e o controle. Agora, cabe associar á autonomia
e à confiança, a iniciativa, pela expansão intelectual.
A combinação confiança-autonomia dá à criança um
sentimento de determinação, alavanca para a iniciativa. Com a alfabetização e a
ampliação de seu círculo de contatos, a criança adquire o crescimento
intelectual necessário para apurar sua capacidade de planejamento e
realização(Erikson, 1987, p.116). Quando ela já se sente capaz de planejar e
realizar, ou seja, ela tem um propósito, ela tende a duas atitudes: numa delas,
a criança pode ficar fixada pela busca de determinadas metas. Freud descreveu
uma destas fixações a qual chamou de Complexo de Édipo, onde a criança nutre
expectativas genitais com o pai do sexo oposto. Geralmente, as metas que se
estabelecem – como no modelo freudiano – são impossíveis. Quando a criança se
empolga na busca de objetivos além de suas possibilidades, ela se sente culpada,
pois não consegue realizar o que desejou ou sabe que o que desejou não é
aceitável socialmente, e precisa de alguma forma conter e reinvestir a carga de
energia que mobilizou. Então, ela fantasia (muitas vezes magicamente) para
fugir da tensão. Geralmente tais objetivos se dão no plano sexual e na vida
adulta o não-resolvimento da falta de iniciativa pode causar patologias sexuais
(repressão, impotência) ou pode ser ainda expressos pela somatização do
conflito (doenças psicossomáticas). O
despertar de um sentimento de culpa, na mente da criança, poderá ficar atrelado
à sensação de fracasso, o que gera uma ansiedade em torno de atitudes futuras
(Erikson, 1987, p. 119). Novamente, o sentimento a respeito de si próprio pode
ser decisivo para que rackets não sejam fomentados.
O propósito e a iniciativa também podem ser
direcionados positivamente para a formação da responsabilidade, quando o
senso de obrigação e desempenho se encontram ligados à ansiedade para aprender.
Nesta fase, as crianças querem que os adultos lhes dêem responsabilidades, como
arrumar a casa, varrer o quintal ou ajudar a consertar algo. É muito importante
que os adultos lhes mostrem também que há certas coisas que ainda não podem
fazer, embora possam permitir ajudas em algumas atividades.
Quando a criança se dá conta de que realmente existem
coisas que estão fora de suas capacidades (ainda), ela se contenta, não em
fantasiar, mas sim em realizar uma espécie de “treino”, o que, na verdade, se
constitui num teste de personalidade que a criança aplica em si. Para isso, ela
utiliza jogos, testando sua capacidade mental, dramatizações, testando várias
personalidades nela mesma, e brinquedos, que proporcionam uma realidade
intermediária. Tudo isso é o que faz a conexão sadia do mundo interno e externo
da criança nesta fase.
Erikson alerta ainda para o perigo da personificação.
Quando a criança, tentando escapar da frustração de ser incapaz para algumas
coisas, exagera na fantasia de ter outras personalidades, de ser totalmente
diferente do que é várias vezes, ela pode se tornar compulsiva por esconder seu
verdadeiro “eu”; nesse caso, pode passar a sua vida desempenhando
“papéis”,e afastar-se cada vez mais do
contato consigo mesmo.
Diligência x Inferioridade
Erikson deu um destaque a esta fase que,
contraditoriamente, foi a menos explorada por Freud (no esquema freudiano,
corresponde à fase de Latência, por julgá-la um período de adormecimento
sexual). Podemos dizer que este período é marcado, para Erikson, pelo controle,
mas um controle diferente do que já discutimos. Aqui, trata-se do controle da
atividade, tanto física como intelectual, no sentido de equilibrá-la às regras
do método de aprendizado formal, já que o principal contato social se dá na
escola ou em outro meio de convívio mais amplo do que o familiar.
Com a educação formal, além do desempenho das funções
intelectuais, a criança aprende o que é valorizado no mundo adulto, e tenta se
adaptar a ele. Da idéia de propósito, ela passa à idéia de perseverança, ou
seja, a criança aprende a valorizar e, até mesmo, reconhece que podem existir
recompensas a longo prazo de suas atitudes atuais, fazendo surgir, portanto, um
interesse pelo futuro.
Nesta fase, começam os interesses por instrumentos de
trabalho, pois trabalho remete à questão da competência. A criança nesta
idade sente que adquiriu competência ao dedicar-se e concluir uma tarefa, e
sente que adquiriu habilidade se tal tarefa foi realizada
satisfatoriamente. Este prazer de realização é o que dá forças para o ego não
regredir nem se sentir inferior. Se falhas seguidas ocorrerem, seja por falta
de ajuda ou por excesso de exigência, o ego pode se sentir levemente inferior e
regredir, retornando às fantasias da fase anterior ou simplesmente entrando em
inércia.
Além disso, a criança agora precisa de uma forma ideal,
ou seja, regulada e metódica, para canalizar sua energia psíquica. Ela encontra
esta forma no trabalho/estudo, que lhe dá a sensação de conquista e de ordem,
preparando-o para o futuro, que, aos poucos, passa a ser uma das preocupações
da criança. É nesta fase que ela começa a dizer, com segurança aparente, o que
“quer ser quando crescer”, como uma iniciação no campo das responsabilidades e
dos planejamentos.
A ordem e as formas técnicas passam a ser importantes
para as crianças desta fase. Mas Erikson alerta para o formalismo, ou seja, a
repetição obsessiva de formalidades sem sentido algum para determinadas
ocasiões, o que empobrece a personalidade e prejudica as relações sociais da
criança.
Identidade
x Confusão de Identidade
Nos estudos de Erikson, esta é a fase onde ele
desenvolveu mais trabalhos, tendo dedicado um livro inteiro à questão da
chamada crise de identidade.
Em seus estudos, Erikson ressalta que o adolescente
precisa de segurança frente a todas as transformações – físicas e psicológicas
– do período. Essa segurança ele encontra na forma de sua identidade, que foi
construída por seu ego em todos os estágios anteriores.
Esse sentimento de identidade se expressa nas seguintes
questões, presentes para o adolescente: sou diferente dos meus pais? O que
sou? O que quero ser?. Respondendo a essas questões, o adolescente pretende
se encaixar em algum papel na sociedade. Daí vem a questão da escolha
vocacional, dos grupos que freqüenta, de suas metas para o futuro, da escolha
do par, etc.
Existe aí também o surgimento do envolvimento
ideológico, que é o que comanda a formação de grupos na adolescência, segundo
Erikson. O ser humano precisa sentir que determinado grupo apóia suas idéias e
sua identidade. Mas se o adolescente desenvolver uma forte identificação com
determinado grupo, surge o fanatismo, e ele passa a não mais defender suas
idéias com seus argumentos, mas defende cegamente algo que se apossou de suas
idéias próprias. Erikson discute a integração de adolescentes em grupos
nazistas e fascistas, por exemplo, em Erikson (1987).
Toda a preocupação do adolescente em encontrar um papel
social provoca uma confusão de identidade, afinal, a preocupação com a opinião
alheia faz com que o adolescente modifique o tempo todo suas atitudes,
remodelando sua personalidade muitas vezes em um período muito curto, seguindo
o mesmo ritmo das transformações físicas que acontecem com ele.
Erikson lembra que o se humano mantém suas defesas para
sobreviver. Ao sinal de qualquer problema, uma delas pode ser ativada. Nesta confusão de identidade, o adolescente
pode se sentir vazio, isolado, ansioso, sentindo-se também, muitas vezes,
incapaz de se encaixar no mundo adulto, o que pode muitas vezes levar a uma
regressão. Também pode acontecer de o jovem projetar suas tendências em outras
pessoas, por ele mesmo não suportar sua identidade. Aliás, este é um dos
mecanismos apontados por Erikson como base para a formação de preconceitos e
discriminações.
Porém, a confusão de identidade pode ter um bom
desfecho: em meio á crise, quanto melhor o adolescente tiver resolvido suas
crises anteriores, mais possibilidades terá de alcançar aqui a estabilização
da identidade. Quando esta identidade estiver firme, ele será capaz de ser
estável com os outros, conquistando, segundo Erikson, a lealdade e a
fidelidade consigo mesmo, com seus propósitos, conquistando o senso de
identidade contínua.
Intimidade x Isolamento
Ao estabelecer uma identidade definitiva e bem
fortalecida, o indivíduo estará pronto para uni-la à identidade de outra
pessoa, sem se sentir ameaçado. Esta união caracteriza esta fase. Existe agora
a possibilidade de associação com intimidade, parceira e colaboração. Podemos
agora falar na associação de um ego ao outro. Para que essa associação seja
positiva, é preciso que a pessoa tenha construído, ao longo dos ciclos
anteriores, um ego forte e autônomo o suficiente para aceitar o convívio com
outro ego sem se sentir anulado ou ameaçado.
Quando isso não acontece, ou seja, o ego não é
suficientemente seguro, a pessoa irá preferir o isolamento à união, pois terá
medo de compromissos, numa atitude de “preservar” seu ego frágil. Quando esse
isolamento ocorre por um período curto, não é negativo, pois todos precisam de
um tempo de isolamento para amadurecer o ego um pouco mais ou então para
certificar-se de que ele busca realmente uma associação. Porém, quando a pessoa
se recusa por um longo tempo a assumir qualquer tipo de compromisso, pode-se
dizer que é um desfecho negativo para sua crise.
Um risco apontado por Erikson para esta fase é o
elitismo, ou seja, quando há formação de grupos exclusivos que são uma forma de
narcisismo comunal. Um ego estável é minimamente flexível e consegue se
relacionar com um conjunto variável de personalidades diferentes. Quando se
forma um grupo fechado, onde se limita muito o tipo de ego com o qual se
relaciona, poderemos falar em elitismo.
Generatividade
x Estagnação
Nesta fase, o indivíduo tem a preocupação
com tudo o que pode ser gerado, desde filhos até idéias e produtos. Ele se
dedica à geração e ao cuidado com o que gerou, o que é muito visível na
transmissão dos valores sociais de pai para filho.
Esta é a
fase em que o ser humano sente que sua personalidade foi enriquecida – e não
modificada – com tais ensinamentos. Isso acontece porque existe uma necessidade
inerente ao homem de transmitir, de ensinar. É uma forma de fazer-se
sobreviver, de fazer valer todo o esforço de sua vida, de saber que tem um
pouco de si nos outros. Isso impede a absorção do ser em si mesmo e também a
transmissão de uma cultura.
Caso esta transmissão não ocorra, o indivíduo se dá
conta de que tudo o que fez e tudo o que construiu não valei a pena, não teve
um porquê, já que não existe como dar prosseguimento, seja em forma de um
filho, um sócio, uma empresa ou uma pesquisa.
Nesta fase também a pessoa tem um cuidado com a
tradição e, por ser “mais velho”, pensa que tem alguma autoridade sobre os mais
novos. Quando o indivíduo começa a pensar que pode se utilizar em excesso de
sua autoridade, em nome do cuidado, surge o autoritarismo.
Cada vez mais esta fase tem se ampliado. Até algumas
décadas atrás, a forma de viver esta fase era casando e criando filhos,
principalmente para a mulher. Hoje, com uma gama maior de escolhas a serem
feitas, as formas de expressar a generatividade também se ampliam, de forma que
as principais aquisições desta fase, como dar e receber, criar e manter, podem
ser vividas em diversos planos relacionais, não somente na família. Segundo os
autores, são diversas formas de não se cair no marasmo da lamentação, que
Erikson chama de estagnação.
Integridade
x desespero
Agora é tempo do ser humano refletir, rever sua vida, o
que fez, o que deixou de fazer. Pensa principalmente em termos de ordem e
significado de suas realizações. Essa retrospectiva pode ser vivenciada de
diferentes formas. A pessoa pode simplesmente entrar em desespero ao ver a
morte se aproximando. Surge um sentimento de que o tempo acabou, que agora
resta o fim de tudo, que nada mais pode fazer pela sociedade, pela família, por
nada. São aquelas pessoas que vivem em eterna nostalgia e tristeza por sua
velhice. A vivência também pode ser positiva. A pessoa sente a sensação de
dever cumprido, experimenta o sentimento de dignidade e integridade, e divide
sua experiência e sabedoria. Existe ainda o perigo do indivíduo se julgar o
mais sábio, e impor suas opiniões em nome de sua idade e experiência.
Erikson fala de duas principais possibilidades:
procurar novas formas de estruturar o tempo e utilizar sua experiência de vida
em prol de viver bem os últimos anos ou estagnar diante “do terrível fim”,
quando desaparecem pouco a pouco todas as fontes de carícia se vão e o
desespero toma conta da pessoa.
Erikson (1987), faz uma ressalva acerca das crises e de
suas conseqüências na construção da personalidade.
Em suas palavras,
“uma personalidade saudável domina
ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade
(...). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial
desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de
crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou,
por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação
às necessidades da vida – com alguma sobras de entusiasmo vital?”
(Erikson, 1987, p. 91)
Teoria
do Plano de Vida
Segundo
Erikson, durante o ciclo vital construiríamos o que ele denomina plano de
vida, um curso, um roteiro segundo o qual as crises do ego vão se
desenrolar de certa maneira, que parece ter sido determinada pela infância,
pelas primeiras crises do sujeito.
Percorrendo a literatura eriksoniana, é
possível identificar alguns marcos de passagem e montagem do plano de vida. Uma
delas é a construção da confiança básica, já discutida anteriormente neste
artigo. Outra fase importante é a iniciativa, onde ficam arraigados os
ideais e os propósitos, importante elemento da formação da identidade (Erikson,
1987), e montagem do plano certamente conta com esta convicção por parte da
criança.
A
indispensável contribuição da fase da iniciativa para o desenvolvimento
ulterior da identidade consiste, pois, obviamente, na libertação da iniciativa
e sentido de propósito da criança para as tarefas adultas que prometem (mas não
podem garantir) a realização plena da gama de capacidades do indivíduo. Isso é
preparado na convicção firmemente estabelecida e invariavelmente crescente, não
intimidada pela culpa, de que “Eu sou o que posso imaginar que serei”. Contudo,
é igualmente óbvio que um desapontamento geral dessa convicção por uma
discrepância entre os ideais infantis e a realidade adolescente só pode
conduzir a um desencadeamento do ciclo de culpa-e-violência, tão característico
do homem e, no estudo, tão perigoso para a sua própria existência”. (Erikson,
1987, p. 122)
Outro marco
fica na fase da diligência, período onde, pela escolarização,a criança
se insere no mundo social e lida com os papéis que este envolve. Neste processo
de socialização, importantes mensagens são passadas à criança, que, combinadas
com sua disposição interna, tornam-se mais um elemento na construção de um
plano de vida. “É neste período que a sociedade maior torna-se significativa
para a criança ao admiti-la em papéis preparatórios” (Erikson, 1987). Aqui
vemos a importância clara das relações sociais na montagem do plano de vida,
porque, é através da aprendizagem de determinados papéis, que a criança vai
antecipando e exercitando alguns características e habilidades para seus futuros
papéis.
Na fase da adolescência, cada vez mais
antecipada pelas culturas ocidentais, há a preocupação (mórbida, segundo
Erikson) com o que os outros estão pesando. Na teoria eriksoniana, a
importância desta etapa é crucial porque nela são revivenciados todos os
conflitos das fases anteriores, seus bons ou maus desfechos, e os sentimentos
gerados ao longo da infância pelas chamadas crises do ego. Ao definirmos quem
somos, pensamos juntamente o que faremos de nossa vida. Consolida-se
o plano de vida.
Outra etapa importante para o plano de
vida, desta vez para a passagem deste, é a fase da generatividade.
Para Erikson, “a própria natureza da generatividade sugere que a sua patologia,
minimamente circunscrita, deve ser agora procurada na geração seguinte” (1987,
p.139). Esta é a força propulsora da passagem da cultura humana, para Erikson,
ainda que com todas as patologias, pré-conceitos e preconceitos e também os
medos e as fantasias, que Erikson deposita no termo acima citado patologias.
Inovação
da Teoria Eriksoniana
Erikson (1987) fala da importância de se considerar o
contexto histórico e cultural, utilizando estas informações como instrumento de
análise, afinal, são elas que vão nos dar indicativos da formação de uma
identidade, que é construída e mantida pela sociedade, pelo que Erikson chama
de “ego grupal” (1987, p. 69). Aliás, esta é uma crítica feita constantemente
pelo autor: a falta de integração entre o social e o individual, ao estudar
qualquer assunto que se refira à subjetividade humana.
Naturalmente,
a negligência geral desses fatores na psicanálise não favoreceu uma aproximação
com as Ciências Sociais. Os estudiosos da sociedade e da história, por outro
lado, continuam ignorando alegremente o simples fato de que todos os indivíduos
nasceram de mães; de que todos nós já fomos crianças; de que as pessoas e os
povos começaram em seus berçários; e de que a sociedade consiste em gerações no
processo de desenvolvimento de filhos em pais, destinados a absorver as
mudanças históricas durante suas vidas e a continuar fazendo história para seus
descendentes. Somente a Psicanálise e as ciências sociais unidas poderão
finalmente proceder ao levantamento do curso de vida individual no contexto de
uma de uma comunidade em permanente mudança.
(Erikson, 1987,
p. 44)
Fontes:
ERIKSON, Erik H. Identidade: juventude e crise. Tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
ERIKSON, Erik H. O ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
KAPLAN & SADOCK. Compêndio de Psiquiatria. 9ª edição. Artmed. Porto Alegre. 2007.
Erikson e a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento
Elaine Rabello
José Silveira passos
<Disponível em:>
http://www.josesilveira.com/Artigo-Erikson%20e%20a%20teoria%20psicossocial%20do%20desenvolvimento.doc
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