Pensamento
Filosófico Moderno
A Origem Da Psicologia Científica
No
século 19, destaca-se o papel da ciência, e seu avanço torna-se necessário. O
crescimento da nova ordem econômica - o capitalismo - traz consigo o processo
de industrialização, para o qual a ciência deveria dar respostas e soluções
práticas no campo da técnica. Há, então, um impulso muito grande para o
desenvolvimento da ciência, enquanto um sustentáculo da nova ordem econômica e
social, e dos problemas colocados por ela.
Para
uma melhor compreensão, retomemos algumas características da sociedade feudal e
capitalista emergente, sendo esta responsável por mudanças que marcariam a
história da humanidade. Nesse mundo vivia um homem que tinha seu lugar social
definido a partir do nascimento. A razão estava submetida à fé como garantia de
centralização do poder. A autoridade era o critério de verdade. Esse mundo
fechado e esse universo finito refletiam e justificavam a hierarquia social
inquestionável do feudo. O capitalismo pôs esse mundo em movimento, com a
necessidade de abastecer mercados e produzir cada vez mais: buscou novas
matérias-primas na Natureza; criou necessidades; contratou o trabalho de muitos
que, por sua vez, tornavam-se consumidores das mercadorias produzidas;
questionou as hierarquias para derrubar a nobreza e o clero de seus lugares há
tantos séculos estabilizados. O universo também foi posto em movimento. O Sol
tornou-se o centro do universo, que passou a ser visto sem hierárquizaçôes. O
homem, por sua vez, deixou de ser o centro do universo (antropocentrismo), passando
a ser concebido como um ser livre, capaz de construir seu futuro. O servo,
liberto de seu vínculo com a terra, pôde escolher seu trabalho e seu lugar
social. Com isso, o capitalismo tornou todos os homens consumidores, em
potencial, das mercadorias produzidas. O conhecimento tornou-se independente da
fé. Os dogmas da Igreja foram questionados. O mundo se moveu. A racionalidade do
homem apareceu, então, como a grande possibilidade de construção do
conhecimento. A burguesia, que disputava o poder e surgia como nova classe social
e econômica, defendia a emancipação do homem para emancipar-se também. Era
preciso quebrar a idéia de universo estável para poder transformá-lo. Era
preciso questionar a Natureza como algo dado para viabilizar a sua exploração
em busca de matérias-primas.
Estavam
dadas as condições materiais para o desenvolvimento da ciência moderna. As ideias
dominantes fermentaram essa construção: o conhecimento como fruto da razão; a
possibilidade de desvendar a Natureza e suas leis pela observação rigorosa e
objetiva. A busca de um método rigoroso, que possibilitasse a observação para a
descoberta dessas leis, apontava a necessidade de os homens construírem novas
formas de produzir conhecimento - que não era mais estabelecido pelos dogmas religiosos
e/ou pela autoridade eclesial. Sentiu-se necessidade da ciência. Nesse período,
surgem homens como Hegel, que demonstra a importância da História para a
compreensão do homem, e Darwin, que enterra o antropocentrismo com sua tese evolucionista.
A ciência avança tanto, que se torna um referencial para a visão de mundo. A
partir dessa época, a noção de verdade passa, necessariamente, a contar com o
aval da ciência. A própria Filosofia
adapta-se aos novos tempos, com o surgimento do Positivismo de Augusto
Comte, que postulava a necessidade de maior rigor científico na construção dos
conhecimentos nas ciências humanas. Para Comte, na experiência científica, tudo
deveria ser medido, pesado, mensurado, quantificado, passível de confirmação,
várias vezes, e se, o resultado não se repetisse, sendo tolerado uma pequena margem
de erro, não seria ciência e, tudo que não é ciência se esvai no tempo.
Desta
forma, propunha o método da ciência natural, a Física, como modelo de construção.
É em
meados do século 19 que os problemas e temas da Psicologia, até então estudados
exclusivamente pelos filósofos, passam a ser, também, investigados pela
Fisiologia e _pela Neurofisiologia em particular. Os avanços que atingiram
também essa área levaram
à
formulação de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o
pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram produtos desse sistema.
É preciso lembrar que esse mundo capitalista trouxe consigo a máquina. Que
criação fantástica do homem! E foi tão fantástica que passou a determinar a
forma de ver o fundo. O mundo como uma
máquina; o mundo como um relógio. Todo o universo passou a ser pensado como uma
máquina, isto é, podemos conhecer o seu funcionamento, a sua regularidade, o
que nos possibilita o conhecimento de suas leis. Esta forma de pensar atingiu também
as ciências do homem. Para se conhecer o psiquismo humano passa a ser
necessário compreender os mecanismos e o funcionamento da máquina de pensar do
homem - seu cérebro. Assim, a Psicologia começa a trilhar os caminhos da
Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia. Algumas descobertas são
extremamente relevantes para a Psicologia. Por exemplo, por volta de 1846, a
Neurologia descobre que a doença mental é fruto da ação direta ou indireta de
diversos fatores sobre as células cerebrais. A Neuroanatomia descobre que a atividade
motora nem sempre está ligada à consciência, por não estar necessariamente na
dependência dos centros cerebrais superiores. Por exemplo, quando alguém queima
a mão em uma chapa quente, primeiro tira-a da chapa para depois perceber o que
aconteceu. Esse fenômeno chama-se reflexo, e o estímulo que chega à medula
espinhal, antes de chegar aos centros cerebrais superiores, recebe uma ordem
para a resposta, que é tirar a mão. O caminho natural que os fisiologistas da
época seguiam, quando passavam a se interessar pelo fenômeno psicológico
enquanto estudo científico, era a Psicofísica. Estudavam, por exemplo, a
fisiologia do olho e a percepção das cores. As cores eram estudadas como
fenômeno da Física, e a percepção, como fenômeno da Psicologia. Por volta de
1860, temos a formulação de uma importante lei no campo da Psicofísica. É a Lei
de Fechner-Weber, que estabelece a relação entre estímulo e sensação,
permitindo a sua mensuração. Segundo Fechner e Weber, a diferença que sentimos
ao aumentarmos a intensidade de iluminação de uma lâmpada de 100 para 110 watts
será a mesma sentida quando aumentamos a intensidade de iluminação de 1000 para
1100 watts, isto é, a percepção aumenta em progressão aritmética, enquanto o
estímulo varia em progressão geométrica. Essa lei teve muita importância na história da
Psicologia porque instaurou a possibilidade de medida do fenômeno psicológico, o
que até então era considerado impossível. Dessa forma, os fenômenos psicológicos
vão adquirindo status de científicos, porque, para a concepção de ciência da
época, o que não era mensurável não era passível de estudo científico. Outra
contribuição muito importante nesses primórdios da Psicologia científica é a de
Wilhelm Wundt (1832-1926). Wundt cria na Universidade de Leipzig, na Alemanha,
o primeiro laboratório para realizar experimentos na área de Psicofisiologia.
Por esse fato e por sua extensa produção teórica na área, ele é considerado o
pai da Psicologia moderna ou científica. Wundt desenvolve a concepção do
paralelismo psicofísico, segundo a qual aos fenômenos mentais correspondem
fenômenos orgânicos. Por exemplo, uma estimulação física, como uma picada de
agulha na pele de um indivíduo, teria uma correspondência na mente deste
indivíduo. Para explorar a mente ou consciência do indivíduo, Wundt cria um
método que denomina introspeccionísmo. Nesse método, o experimentador pergunta
ao sujeito, especialmente treinado para a auto-observação, os caminhos
percorridos no seu interior por uma estimulação sensorial (a picada da agulha,
por exemplo).
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