Se
você pudesse abrir o crânio e olhar dentro dele, a primeira coisa que notaria é
o tamanho do cérebro. Nos dinossauros, o cérebro representava 1/100.000 do peso
do corpo, nas baleias, 1/10.000, nos elefantes, 1/600, nos humanos, 1/45.
Parece que um princípio está surgindo. Mas continue lendo. Nos camundongos, o
cérebro é 1/40 do peso do corpo, e em micos, 1/25. Então, há exceções à regra
geral de que a proporção entre cérebro e peso corporal fornece uma
pista para a inteligência de uma espécie.
Pistas
mais úteis das capacidades de um animal vêm das estruturas do cérebro. Nos
animais vertebrados (com coluna vertebral) primitivos, tal como os tubarões, o
cérebro regula principalmente as funções de sobrevivência básicas: respiração,
descanso e alimentação. Nos mamíferos inferiores, como roedores.
Um
cérebro mais complexo possibilita emoção e maior memória. Nos mamíferos
superiores, como humanos, o cérebro processa mais informações, permitindo que
ajamos com previsão A história biológica não alterou muito os mecanismos
básicos de sobrevivência. Em vez disso, espécies elaboraram novos sistemas
cerebrais por cima dos antigos, assim como paisagem da Terra cobre a antiga
com a nova. Escavando uma região mais profunda, descobrem-se os vestígios
fósseis do passado - componentes do tronco encefálico que ainda funcionam
muito como o faziam para nossos distantes ancestrais. Vamos agora explorar o
cérebro, começando pelo tronco encefálico e subindo.
O TRONCO ENCEFÁLICO
O tronco encefálico é a área mais antiga do cérebro. Começa na
inserção da medula espinhal no crânio e
se expande ligeiramen te formando o bulbo (medula oblonga). Aí ficam os
controles dos nossos batimentos
cardíacos e da nossa respiração. Se a parte superior do tronco encefálico de um gato for separada
da região do cérebro situada acima dela,
o animal ainda respirará e viverá e até
correrá, subirá e limpará seu pêlo (Klemm, 1990). Mas, com o tronco encefálico separado da região
superior do cérebro, ele não correrá nem subirá para obter
intencionalmente alimento. O tronco encefálico é também o ponto de interseção
onde a maioria dos nervos do cérebro, e para cada lado dele, se conecta com o
lado oposto do corpo. Essa fiação cruzada peculiar é apenas uma das muitas
surpresas que o cérebro tem a oferecer. Dentro, a formação reticular
("semelhante a rede"), uma rede de neurônios em forma de dedos,
estende-se da medula espinhal até o tálamo. À medida que o input sensorial da
medula espinhal movimenta-se para o tálamo, parte dele ramaifica-se para a
formação reticular, que filtra os estímulos de entrada e retransmite
informações importantes para outras áreas do cérebro. Entre suas outras
funções, a formação reticular ajuda a controlar a excitação. Em 1949, Giuseppe
Moruzzi e Horace Magoun descobriram que estimular eletricamente a formação
reticular de um gato adormecido fazia com que instantaneamente o animal
despertasse e ficasse alerta. Magoun também separou a formação reticular do
gato de regiões cerebrais superiores sem danificar as vias sensoriais vizinhas.
O
efeito? O gato entrou em coma, e jamais acordou.
O TÁLAMO
Acima
da base do cérebro situa-se o painel de controle sensorial do cérebro, um par
unido de estruturas ovaladas denominado tálamo. O tálamo recebe informações de
todos os sentidos, menos do olfato, e as conduz para as regiões cerebrais
superiores que lidam com a visão, a audição, o paladar e o tato. Pense no
tálamo estando para o input sensorial como Londres está para os trens da
Inglaterra: o ponto central pelo qual o tráfego passa a caminho de vários
destinos. O tálamo também recebe algumas das respostas superiores do cérebro,
as quais depois direciona para o
cerebelo e a medula.
O CEREBELO
Estendendo-se
da parte posterior da base do cérebro encontrasse o cerebelo, palavra que
significa "pequeno cérebro", que é com o que seus dois hemisférios
enrugados se parecem. O cerebelo possibilita um tipo de aprendizagem não-verbal
e a memória, mas sua função mais evidente é a coordenação do movimento
voluntário. Quando o grande jogador de beisebol
Sammy
Sosa rebate uma bola de home run com o balanço do taco perfeitamente
cronometrado, dê ao cerebelo dele algum crédito. Se você sofresse uma lesão no
cerebelo, provavelmente teria dificuldade para andar, manter o equilíbrio ou
apertar as seus movimentos seriam espasmódicos e exagerados.
Observação:
essas
funções inferiores do cérebro ocorrem sem qualquer esforço consciente. Isso
ilustra outro dos nossos temas recorrentes: nosso cérebro processa a maior
parte das informações fora da nossa consciência. Estamos conscientes dos resultados
do trabalho do nosso cérebro (digamos, nossa experiência visual atual), mas
não de como construímos a imagem visual. Da mesma maneira, estejamos
dormindo ou acordados, a base do nosso cérebro administra suas funções de
sustentação da vida, liberando as regiões superiores do cérebro para sonhar ou
pensar, falar ou saborear uma lembrança.
O SISTEMA LÍMBICO
Na
fronteira (limbus) das partes mais antigas do cérebro e dos hemisférios
cerebrais está um sistema neural em forma de argola, o sistema límbico.
Um componente do sistema límbico, o hipocampo, é essencial para o
processamento da memória. Se animais ou humanos perdem o hipocampos devido a
cirurgia ou lesão, eles ficam impossibilitados de estabelecer novas memórias de
fatos e episódios. O sistema límbico também tem ligações importantes com as
emoções como é o caso do medo e da raiva, e com as motivações básicas como por
alimento e por sexo. Como você verá na discussão sobre o sistema endócrino
neste capítulo, a influência do sistema límbico sobre as emoções e as
motivações ocorre em parte através do controle
que
ele exerce sobre os hormônios do corpo.
A
AMÍGDALA
Dois agrupamentos neurais em forma de amêndoa situados
no sistema límbico, denominados amígdala, influenciam a agressividade e o medo.
Em 1939, o psicólogo Heinrich Klüver e o neurocirurgião Paul Bucy lesionaram
cirurgicamente a região do cérebro de um macaco rhesus que incluía a amígdala. O
resultado? O macaco, que normalmente apresentava um temperamento difícil,
transformou-se na mais dócil das criaturas. Podiam cutucá-lo, beliscá-Io,
fazer-lhe praticamente qualquer coisa que normalmente desencadeasse uma reação
feroz e ainda assim o animal permanecia plácido. Em estudos posteriores com
outros animais selvagens, incluindo o lince, o carcaju e o rato selvagem, os
pesquisadores observaram o mesmo efeito. O que então aconteceria se
estimulássemos eletricamente a amígdala em um animal doméstico normalmente
plácido como um gato? Faça isso em um ponto e o gato se preparará para atacar, sibilando,
com as costas arqueadas, as pupilas
dilatadas, o pelo eriçado. Mova o eletrodo apenas ligeiramente dentro da
amígdala, prenda o gato em uma gaiola com um camundongo, e o gato se encolherá
de terror. Esses experimentos verificam o papel da amígdala na raiva e no medo,
para não falar da percepção de tais emoções em outros (Adolphs e outros, 1994).
Mas devemos ser cuidadosos para não considerar a amígdala como o centro
de controle da agressividade e do medo. O cérebro não está organizado em
estruturas ordenadas que correspondam às nossas categorias de comportamentos. Na
verdade, tanto comportamentos de agressividade como de medo envolvem atividade
neural em todos os níveis do cérebro. Mesmo dentro do sistema límbico,
estimular estruturas neurais diferentes da amígdala pode evocar tais
comportamentos. Se você der uma carga na bateria descarregada do seu carro,
poderá ativar o motor do carro. Isso não significa que a bateria em si faz o
carro andar. Ela é somente um elo em um sistema integrado.
O
HIPOTÁLAMO
Outra das estruturas
fascinantes do sistema límbico situa-se logo abaixo (hipo) do tálamo, e,
por isso, é denominada hipotálamo. Ao lesionar ou estimular diferentes
áreas no hipotálamo, os neurocientistas isolaram em seu interior redes neurais que cumprem serviços de
manutenção específicos para o corpo. Alguns agrupamentos neurais influenciam a
fome; outros regulam a sede, a temperatura corporal e o comportamento sexual.
O
hipotálamo tanto monitora a química do sangue como recebe ordens de outras
partes do cérebro. Por exemplo, pensar em sexo (no córtex cerebral do seu
cérebro) pode estimular seu hipotálamo a secretar hormônios. Através desses
hormônios, hipotálamo controla a "glândula mestre" adjacente, a
hipotálamo que, por sua vez, influencia a liberação de hormônios por outras
glândulas, que o hipotálamo monitora. Observe a interação entre os sistemas
nervoso e hormonal: o cérebro influencia o sistema hormonal, que, por sua vez,
influencia o cérebro. O potente e pequeno hipotálamo também exerce controle ao
disparar a atividade do sistema nervoso autônomo. A história de uma notável
descoberta sobre o hipotálamo ilustra como em geral se dão os avanços na
pesquisa científica - quando investigadores curiosos e de mente aberta fazem
uma observação inesperada. Dois jovens neuropsicólogos da McGill University,
James Olds e Peter Milner (1954), estavam tentando implantar eletrodos nas
formações reticulares de ratos brancos quando cometeram um erro impressionante.
Eles posicionaram incorretamente, em um
rato, um eletrodo no que mais tarde se descobriu
ser
uma região do hipotálamo (Olds, 1975). Curiosamente, o rato continuava
retomando ao local em sua câmara onde tinha sido estimulado por esse eletrodo
(mal posicionado), como se buscasse mais estimulação. Ao descobrir seu erro,
eles prontamente reconheceram que haviam se defrontado com um centro do cérebro
que fornecia uma recompensa prazerosa. Numa meticulosa série de experimentos, Olds (1958) continuou
a
localizar outros "centros de prazer", como os denominou. (O que os
ratos sentiram na verdade só eles sabem. E eles não relataram. Os cientistas de
hoje não querem atribuir
sentimentos
humanos a ratos, por isso se referem a centros de recompensa, e não
"centros de prazer".) Quando permitia que os ratos acionassem sua própria
estimulação nessas áreas ao pressionar uma alavanca, Olds percebeu que eles às
vezes faziam isso a um ritmo alucinante - até 7.000 vezes por hora - até caírem
de exaustão. Além disso, fariam qualquer coisa para conseguir essa estimulação,
mesmo atravessar o piso eletrificadoque um rato faminto não atravessaria para
alcançar alimento. Centros de recompensa semelhantes no hipotálamo ou próximos
a ele foram mais tarde descobertos em muitas outras espécies, incluindo
peixinhos dourados, golfinhos e macacos. Na
verdade,
a pesquisa animal revelou tanto um sistema de recompensa geral que dispara a
liberação do neurotransmissor dopamina quanto centros específicos associados
aos prazeres de comer, beber e do sexo. Os animais, ao que parece, vêm
equipados com sistemas embutidos que recompensam atividades essenciais à
sobrevivência. Essas foram descobertas fantásticas. Elas fizeram as pessoas
imaginarem se também os humanos poderiam ter centros límbicos para o prazer. De
fato os temos. Um neurocirurgião utilizou eletrodos para acalmar pacientes
violentos. Pacientes estimulados relatam prazer moderado; porém, diferentemente
dos ratos, eles não foram levados a uma exaltação por isso (Deutsch, 1972;
Hooper e Teresi, 1986). Alguns pesquisadores acreditam que transtornos
relacionados a vícios, como é o caso do alcoolismo, do abuso de drogas e da
compulsão alimentar, possam ter origem em uma síndrome de deficiência de
recompensa - uma deficiência geneticamente determinada
nos
sistemas cerebrais naturais para o prazer e o bem-estar que leva as pessoas a
ansiar por qualquer coisa que forneça aquele prazer ausente ou alivie os
sentimentos negativos (Blum e outros, 1996).
Fonte:
Explorando
a Psicologia - David G. Myers.
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