sábado, 12 de janeiro de 2013

AS ESTRUTURAS CEREBRAIS DE NÍVEL INFERIOR




Se você pudesse abrir o crânio e olhar dentro dele, a primeira coisa que notaria é o tamanho do cérebro. Nos dinossauros, o cérebro representava 1/100.000 do peso do corpo, nas baleias, 1/10.000, nos elefantes, 1/600, nos humanos, 1/45. Parece que um princípio está surgindo. Mas continue lendo. Nos camundongos, o cérebro é 1/40 do peso do corpo, e em micos, 1/25. Então, há exceções à regra geral de que a proporção entre cérebro e peso corporal fornece uma pista para a inteligência de uma espécie.
Pistas mais úteis das capacidades de um animal vêm das estruturas do cérebro. Nos animais vertebrados (com coluna vertebral) primitivos, tal como os tubarões, o cérebro regula principalmente as funções de sobrevivência básicas: respiração, descanso e alimentação. Nos mamíferos inferiores, como roedores.
Um cérebro mais complexo possibilita emoção e maior memória. Nos mamíferos superiores, como humanos, o cérebro processa mais informações, permitindo que ajamos com previsão A história biológica não alterou muito os mecanismos básicos de sobrevivência. Em vez disso, espécies elaboraram novos sistemas cerebrais por cima dos antigos, assim como paisagem da Terra cobre a antiga com a nova. Escavando uma região mais profunda, descobrem-se os vestígios fósseis do passado - componentes do tronco encefálico que ainda funcionam muito como o faziam para nossos distantes ancestrais. Vamos agora explorar o cérebro, começando pelo tronco encefálico e subindo.

O TRONCO ENCEFÁLICO

 O tronco encefálico   é a área mais antiga do cérebro. Começa na inserção  da medula espinhal no crânio e se expande ligeiramen te formando o bulbo (medula oblonga). Aí ficam os controles dos nossos  batimentos cardíacos e da nossa respiração. Se a parte superior  do tronco encefálico de um gato for separada da região do  cérebro situada acima dela, o animal ainda respirará e viverá  e até correrá, subirá e limpará seu pêlo (Klemm, 1990). Mas, com  o tronco encefálico separado da região superior do cérebro,  ele  não correrá nem subirá para obter intencionalmente alimento. O tronco encefálico é também o ponto de interseção onde a maioria dos nervos do cérebro, e para cada lado dele, se conecta com o lado oposto do corpo. Essa fiação cruzada peculiar é apenas uma das muitas surpresas que o cérebro tem a oferecer. Dentro, a formação reticular ("semelhante a rede"), uma rede de neurônios em forma de dedos, estende-se da medula espinhal até o tálamo. À medida que o input sensorial da medula espinhal movimenta-se para o tálamo, parte dele ramaifica-se para a formação reticular, que filtra os estímulos de entrada e retransmite informações importantes para outras áreas do cérebro. Entre suas outras funções, a formação reticular ajuda a controlar a excitação. Em 1949, Giuseppe Moruzzi e Horace Magoun descobriram que estimular eletricamente a formação reticular de um gato adormecido fazia com que instantaneamente o animal despertasse e ficasse alerta. Magoun também separou a formação reticular do gato de regiões cerebrais superiores sem danificar as vias sensoriais vizinhas.
O efeito? O gato entrou em coma, e jamais acordou.

O TÁLAMO

Acima da base do cérebro situa-se o painel de controle sensorial do cérebro, um par unido de estruturas ovaladas denominado tálamo. O tálamo recebe informações de todos os sentidos, menos do olfato, e as conduz para as regiões cerebrais superiores que lidam com a visão, a audição, o paladar e o tato. Pense no tálamo estando para o input sensorial como Londres está para os trens da Inglaterra: o ponto central pelo qual o tráfego passa a caminho de vários destinos. O tálamo também recebe algumas das respostas superiores do cérebro, as quais depois  direciona para o cerebelo e a medula.

O CEREBELO

Estendendo-se da parte posterior da base do cérebro encontrasse o cerebelo, palavra que significa "pequeno cérebro", que é com o que seus dois hemisférios enrugados se parecem. O cerebelo possibilita um tipo de aprendizagem não-verbal e a memória, mas sua função mais evidente é a coordenação do movimento voluntário. Quando o grande jogador de beisebol
Sammy Sosa rebate uma bola de home run com o balanço do taco perfeitamente cronometrado, dê ao cerebelo dele algum crédito. Se você sofresse uma lesão no cerebelo, provavelmente teria dificuldade para andar, manter o equilíbrio ou apertar as seus movimentos seriam espasmódicos e exagerados.

Observação: essas funções inferiores do cérebro ocorrem sem qualquer esforço consciente. Isso ilustra outro dos nossos temas recorrentes: nosso cérebro processa a maior parte das informações fora da nossa consciência. Estamos conscientes dos resultados do trabalho do nosso cérebro (digamos, nossa experiência visual atual), mas não de como construímos a imagem visual. Da mesma maneira, estejamos dormindo ou acordados, a base do nosso cérebro administra suas funções de sustentação da vida, liberando as regiões superiores do cérebro para sonhar ou pensar, falar ou saborear uma lembrança.

O SISTEMA LÍMBICO


Na fronteira (limbus) das partes mais antigas do cérebro e dos hemisférios cerebrais está um sistema neural em forma de argola, o sistema límbico. Um componente do sistema límbico, o hipocampo, é essencial para o processamento da memória. Se animais ou humanos perdem o hipocampos devido a cirurgia ou lesão, eles ficam impossibilitados de estabelecer novas memórias de fatos e episódios. O sistema límbico também tem ligações importantes com as emoções como é o caso do medo e da raiva, e com as motivações básicas como por alimento e por sexo. Como você verá na discussão sobre o sistema endócrino neste capítulo, a influência do sistema límbico sobre as emoções e as motivações ocorre em parte através do controle
que ele exerce sobre os hormônios do corpo.

A AMÍGDALA

 Dois agrupamentos neurais em forma de amêndoa situados no sistema límbico, denominados amígdala, influenciam a agressividade e o medo. Em 1939, o psicólogo Heinrich Klüver e o neurocirurgião Paul Bucy lesionaram cirurgicamente a região do cérebro de um macaco rhesus que incluía a amígdala. O resultado? O macaco, que normalmente apresentava um temperamento difícil, transformou-se na mais dócil das criaturas. Podiam cutucá-lo, beliscá-Io, fazer-lhe praticamente qualquer coisa que normalmente desencadeasse uma reação feroz e ainda assim o animal permanecia plácido. Em estudos posteriores com outros animais selvagens, incluindo o lince, o carcaju e o rato selvagem, os pesquisadores observaram o mesmo efeito. O que então aconteceria se estimulássemos eletricamente a amígdala em um animal doméstico normalmente plácido como um gato? Faça isso em um ponto e o gato se preparará para atacar, sibilando, com as costas arqueadas,  as pupilas dilatadas, o pelo eriçado. Mova o eletrodo apenas ligeiramente dentro da amígdala, prenda o gato em uma gaiola com um camundongo, e o gato se encolherá de terror. Esses experimentos verificam o papel da amígdala na raiva e no medo, para não falar da percepção de tais emoções em outros (Adolphs e outros, 1994). Mas devemos ser cuidadosos para não considerar a amígdala como o centro de controle da agressividade e do medo. O cérebro não está organizado em estruturas ordenadas que correspondam às nossas categorias de comportamentos. Na verdade, tanto comportamentos de agressividade como de medo envolvem atividade neural em todos os níveis do cérebro. Mesmo dentro do sistema límbico, estimular estruturas neurais diferentes da amígdala pode evocar tais comportamentos. Se você der uma carga na bateria descarregada do seu carro, poderá ativar o motor do carro. Isso não significa que a bateria em si faz o carro andar. Ela é somente um elo em um sistema integrado.

O HIPOTÁLAMO

 Outra das estruturas fascinantes do sistema límbico situa-se logo abaixo (hipo) do tálamo, e, por isso, é denominada hipotálamo. Ao lesionar ou estimular diferentes áreas no hipotálamo, os neurocientistas isolaram em seu interior  redes neurais que cumprem serviços de manutenção específicos para o corpo. Alguns agrupamentos neurais influenciam a fome; outros regulam a sede, a temperatura corporal e o comportamento sexual.
O hipotálamo tanto monitora a química do sangue como recebe ordens de outras partes do cérebro. Por exemplo, pensar em sexo (no córtex cerebral do seu cérebro) pode estimular seu hipotálamo a secretar hormônios. Através desses hormônios, hipotálamo controla a "glândula mestre" adjacente, a hipotálamo que, por sua vez, influencia a liberação de hormônios por outras glândulas, que o hipotálamo monitora. Observe a interação entre os sistemas nervoso e hormonal: o cérebro influencia o sistema hormonal, que, por sua vez, influencia o cérebro. O potente e pequeno hipotálamo também exerce controle ao disparar a atividade do sistema nervoso autônomo. A história de uma notável descoberta sobre o hipotálamo ilustra como em geral se dão os avanços na pesquisa científica - quando investigadores curiosos e de mente aberta fazem uma observação inesperada. Dois jovens neuropsicólogos da McGill University, James Olds e Peter Milner (1954), estavam tentando implantar eletrodos nas formações reticulares de ratos brancos quando cometeram um erro impressionante. Eles posicionaram incorretamente,  em um rato, um eletrodo no que mais tarde se descobriu
ser uma região do hipotálamo (Olds, 1975). Curiosamente, o rato continuava retomando ao local em sua câmara onde tinha sido estimulado por esse eletrodo (mal posicionado), como se buscasse mais estimulação. Ao descobrir seu erro, eles prontamente reconheceram que haviam se defrontado com um centro do cérebro que fornecia uma recompensa prazerosa. Numa meticulosa série de experimentos,  Olds (1958) continuou
a localizar outros "centros de prazer", como os denominou. (O que os ratos sentiram na verdade só eles sabem. E eles não relataram. Os cientistas de hoje não querem atribuir
sentimentos humanos a ratos, por isso se referem a centros de recompensa, e não "centros de prazer".) Quando permitia que os ratos acionassem sua própria estimulação nessas áreas ao pressionar uma alavanca, Olds percebeu que eles às vezes faziam isso a um ritmo alucinante - até 7.000 vezes por hora - até caírem de exaustão. Além disso, fariam qualquer coisa para conseguir essa estimulação, mesmo atravessar o piso eletrificadoque um rato faminto não atravessaria para alcançar alimento. Centros de recompensa semelhantes no hipotálamo ou próximos a ele foram mais tarde descobertos em muitas outras espécies, incluindo peixinhos dourados, golfinhos e macacos. Na
verdade, a pesquisa animal revelou tanto um sistema de recompensa geral que dispara a liberação do neurotransmissor dopamina quanto centros específicos associados aos prazeres de comer, beber e do sexo. Os animais, ao que parece, vêm equipados com sistemas embutidos que recompensam atividades essenciais à sobrevivência. Essas foram descobertas fantásticas. Elas fizeram as pessoas imaginarem se também os humanos poderiam ter centros límbicos para o prazer. De fato os temos. Um neurocirurgião utilizou eletrodos para acalmar pacientes violentos. Pacientes estimulados relatam prazer moderado; porém, diferentemente dos ratos, eles não foram levados a uma exaltação por isso (Deutsch, 1972; Hooper e Teresi, 1986). Alguns pesquisadores acreditam que transtornos relacionados a vícios, como é o caso do alcoolismo, do abuso de drogas e da compulsão alimentar, possam ter origem em uma síndrome de deficiência de recompensa - uma deficiência geneticamente determinada
nos sistemas cerebrais naturais para o prazer e o bem-estar que leva as pessoas a ansiar por qualquer coisa que forneça aquele prazer ausente ou alivie os sentimentos negativos (Blum e outros, 1996).


Fonte:
Explorando a Psicologia -  David G. Myers.

Nenhum comentário:

Postar um comentário