FERIMENTOS
INTERNOS
Não
é necessário que haja penetração no crânio para que o cérebro sofra lesão grave.
De fato, qualquer golpe na cabeça deve ser tratado com extremo cuidado, particularmente
diante de confusão, perturbações sensório-motoras ou perda de consciência. Os ferimentos
cerebrais produzidos por golpes que não penetram no crânio são ferimentos internos.
As contusões são ferimentos internos que envolvem lesões no sistema circulatório
cerebral. Essas lesões produzem hemorragias internas, que resultam em hematomas.
O hematoma é um aglomerado de sangue coagulado em determinado órgão ou tecido -
em outras palavras, uma mancha roxa. É paradoxal que a própria solidez do crânio,
que protege o cérebro de ferimentos penetrantes, seja o principal fator no desenvolvimento
de contusões. Contusões advindas de ferimen interna do crânio.O sangue desses ferimentos pode se acumular no espaço subdural -
entre a dura-máter e a membrana aracnóide - e deformou gravemente o tecido neural
adjacente. Talvez, você se surpreenda ao saber que as contusões ocorrem freqüentemente
no lado do cérebro oposto à parte que levou o golpe. A razão para essas chamadas
lesões de contragolpe é que o golpe faz com que o cérebro bata no interior do crânio
do outro lado da cabeça. Quando há uma perturbação da consciência após um golpe
na cabeça, e não há evidências de contusão ou de outro dano estrutural, o diagnóstico
é de concussão. Em geral, supõe-se que as concussões impliquem em perturbação temporária
do funcionamento cerebral normal sem lesões de longa duração. Contudo, a
síndrome da demência pugilística sugere o contrário. Ela é a demência (deterioração
intelectual geral) e a cicatrização cerebral observada em boxeadores em outros
indivíduos que experimentam concussões repetidas. Se não houvesse lesões associadas
a uma única concussão, os efeitos de várias concussões não poderiam ser somados
para produzir lesões graves. Um dos aspectos mais perigosos da concussão é a complacência
com que é tratada.
INFECÇÕES DO CÉREBRO
A invasão
de microrganismos no cérebro provoca infecção cerebral. A inflamação resultante é a encefalite. Existem dois tipos comuns de infecções cerebrais: infecções bacterianas e virais.
INFECÇÕES BACTERIANAS
Quando as bactérias infectam o cérebro, elas freqüentemente levam à formação de abcessos cerebrais - bolsões de
pus. Elas também costumam atacar e inflamar as meninges, criando um transtorno conhecido como meningite. A penicilina e outros antibióticos podem eliminar a infecção, mas não conseguem reverter a lesão
cerebral produzida.
A sífilis é uma infecção
cerebral bacteriana sobre a qual você provavelmente já ouviu falar. As bactérias da sífilis são transmitidas de indivíduos
infectados para outros não-infectados por meio do contato com feridas genitais. As
bactérias infectantes entram então em um estágio dormente por vários anos, antes que se tornem virulentas e ataquem muitas partes do corpo, incluindo o cérebro.
A síndrome de insanidade e demência que resulta da infecção sifilítica é a paresía geral.
A sífilis tem uma história particularmente interessante. Os primeiros europeus a visitar a América levaram o ouro dos nativos e deixaram a varíola. Porém, a transação não foi totalmente unilateral. A pilhagem que os marinheiros de Colombo e os aventureiros que se seguiram levaram de volta para a Europa incluiu uma carga de bactérias da sífilis.
Até então, a sífilis era restrita às Américas, mas logo se espalhou para o resto do mundo.
INFECÇÕES VIRAIS
Há dois tipos de infecções virais do sistema nervoso: aquelas com
afinidade particular pelo tecido neural e as que atacam o
tecido neural, mas não têm maior afinidade por ele do que por outros tecidos.
A raiva, que normalmente é transmitida por meio da mordida de animal, é um exemplo bem conhecido de infecção
viral com afinidade particular pelo sistema nervoso. Os ataques de raiva causados pelos efeitos do vírus sobre o cérebro
aumentam a probabilidade de que os animais raivosos, que, em geral, atacam com mordidas (por exemplo, cães, gatos, guaxinins, morcegos e ratos), espalhem a doença. Embora os efeitos do vírus da raiva sobre o cérebro sejam letais, o vírus tem um aspecto favorável: ele não ataca o cérebro por, pelo menos, um mês após haver sido contraído, tempo para uma vacina concedendo preventiva.
Os vírus da caxumba e do herpes são exemplos comuns de vírus que podem atacar o sistema nervoso, mas não têm afinidade especial por ele. Embora esses vírus, às vezes, se difundam para
o cérebro, eles, em geral, atacam outros tecidos do corpo.
Talvez, os vírus desempenhem papel muito maior em transtornos neuropsicológicos do que se pensa atualmente. Seu envolvimento na etiologia (causa) de certos transtornos é, freqüentemente, difícil de reconhecer, pois eles podem ficar dormentes por muitos anos antes de produzirem sintomas.
Neurotoxinas
O sistema nervoso pode ser danificado por exposição a substâncias tóxicas. Elas podem entrar na circulação geral pelo trato
gastrintestinal, pelos pulmões ou pela pele. Por exemplo, os metais pesados, como o mercúrio e o chumbo, podem se acumular no cérebro e Iesa-lo permanentemente, produzindo psicose tóxica (insanidade crônica causada
por neurotoxina).
Você já pensou por que o chapeleiro louco da história Alice
no País das Maravilhas era um chapeleiro qualquer e não
outra coisa? Na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, os chapeleiros normalmente enlouqueciam por causa do mercúrio empregado na preparação do feltro usado para fazer chapéus. Em linha semelhante, o termo crackpot originalmente se referia à psicose tóxica observada em pessoas - principalmente os pobres britânicos - que preparavam os seus chás em potes de cerâmica rachados, cujo centro era
feito de chumbo.
Às vezes, as próprias drogas para tratar transtornos neurológicos acabam por exercer efeitos tóxicos. Por exemplo, algumas das drogas antipsicóticas introduzidas no
começo da década de 1950 produziram efeitos de alcance assustador. No final daquela década, milhões de pacientes psicóticos estavam sendo mantidos com essas novas drogas. Contudo, após anos de tratamento, muitos dos pacientes desenvolviam transtorno motor chamado discinesia tardia (DT). Seus principais
sintomas são movimentos involuntários de lamber e sugar os lábios, colocar a língua para fora e enrola-Ia, movimentos laterais da mandíbula e de inchar as bochechas. Drogas antipsicóticas mais seguras já foram desenvolvidas.
As lesões cerebrais causadas pelos efeitos de drogas –recreativas também são um problema sério.
Algumas neurotoxinas são endógenas (produzidas pelo
próprio corpo do paciente). Por exemplo, o corpo pode produzir anticorpos que atacam determinados componentes do sistema nervoso.
Morte celular
programada
Neurônios e outras células possuem programas genéticos
para o suicídio. O processo pelo qual as células se autodestroem é a apoptose.
A apoptose desempenha papel essencial no desenvolvimento, eliminando excesso de neurônios criados inicialmente. Aqui nos concentramos no papel da apoptose em lesões cerebrais. De fato, cada uma das seis causas de lesão cerebral já discutidas aqui (tumores, distúrbios cerebrovasculares, ferimentos internos, infecções, toxinas e fatores genéticos) parece produzir seu efeito, em parte, ativando programas de autodestruição celular (AUsop e Fazakerley, 2000; Nijhawan, Honarpour e
Wang, 2000).A apoptose é mais adaptativa do que a necrose (morte celular passiva) pois não envolve inflamação. Parece que os neurônios danificados ou disfuncionais cometem suicídio se puderem (Roy e Sapolsky, 1999). Contudo, se um neurônio for gravemente lesado, ele pode não ter os recursos necessários para a autodestruição. Então, pode morrer por necrose ou pela combinação de necrose e apoptose. A
morte celular por apoptose e por necrose é facilmente distinguível (ver Kogure
e Kogure, 1997). Na morte por apoptose, mudanças na estrutura do núcleo estão entre as primeiras
observadas, ao passo que na morte por necrose, elas estão entre as últimas. Além
disso, a apoptose provoca morte lenta, que geralmente dura vários dias, ao passo
que a necrose é concluída em algumas horas.
Fonte:
Biopsicologia – John P. J. Pinel
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