Em 1848, Phineas Gage, um operário de 25 anos que trabalhava na construção da ferrovia Rutland and Burlington, foi vítima de um trágico acidente. Para assentar os novos trilhos, o terreno deveria ser nivelado, e Gage estava encarregado das explosões. Sua tarefa envolvia fazer furos na rocha, derramar pólvora em cada furo, cobri-lo com areia e socar o material com um grande socador de ferro antes de detoná-lo com um estopim. Naquele dia trágico, a pólvora explodiu enquanto Gage a estava socando, lançando o socador, uma barra de ferro de 90 centímetros de comprimento e três de espessura, através de seu rosto, crânio e cérebro, saindo pelo outro lado. Surpreendentemente, Gage sobreviveu ao acidente, mas sobreviveu a ele como um homem diferente. Antes do acidente, Gage era uma pessoa responsável, inteligente e bem-adaptada do ponto de vista social. Além disso, era muito querido por seus amigos e colegas de trabalho. Após se recuperar, ele parecia física e intelectualmente tão capaz quanto antes, mas sua personalidade e sua vida emocional haviam mudado. Antes um homem religioso, respeitoso e confiável, Gage tornou-se irreverente e impulsivo. Em particular, sua impiedade ofendia a muitos. Ele se tornou tão inconstante e imprevisível que logo perdeu o emprego e nunca mais conseguiu ter uma posição de responsabilidade. Gage tornou-se um itinerante, percorrendo o país por uma dúzia de anos até morrer em São Francisco. Seu bizarro acidente e sua recuperação aparentemente bem-sucedida estiveram nas manchetes por todo o mundo,mas sua morte passou despercebida e amplamente ignorada. Gage foi enterrado juntamente com o socador de ferro que o havia vitimado. Cinco anos depois, o neurologista John Harlow recebeu permissão de sua família para exumar o corpo e o socador de ferro para estudá-los. Desde então, o crânio de Gage e o socador de ferro estão à mostra no Warren Anatomical Medical Museum da Universidade de Harvard.
Em 1994,
Damasio e colaboradores utilizaram o poder da reconstrução computadorizada no
caso clássico de Gage. Eles começaram tirando um raio X do crânio e medindo-o
com precisão, prestando atenção particular à posição dos furos de entrada e
saída. A partir dessas medidas, eles reconstruíram o acidente e determinaram a
provável região da lesão cerebral de Gage (ver Figura abaixo). Parece que a
lesão no seu cérebro afetou os lobos pré-frontais mediais, que atualmente
sabemos estar envolvidos no planejamento e nas emoções.
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