o córtex cerebral é uma camada complexa de células neurais interligadas
que, tal como a casca de uma árvore, formam uma fina camada de superfície nos hemisférios
cerebrais. É o supremo centro de controle e processamento de informação do nosso
corpo.
Com o desenvolvimento do córtex cerebral, os
rigorosos controles genéticos relaxam, e a adaptabilidade do organismo aumenta.
As rãs e outros anfíbios possuem um córtex pequeno e funcionam, em grande medida,
sob instruções geneticamente programadas; o córtex maior dos mamíferos oferece
capacidades ampliadas de aprendizagem e pensamento, habilitando-os a serem mais
adaptáveis.
A ESTRUTURA DO CÓRTEX
Se abríssemos um crânio humano e expuséssemos
o cérebro, veríamos um órgão enrugado, de formato parecido com a parte comestível
de uma noz. Sem essas rugas, um córtex achatado exigiria o triplo da área - aproximadamente
a de uma pizza muito grande - para caber no interior do crânio. (para encaixar
a massa de uma pizza fina dentro do crânio, teríamos que enrugá-Ia.)
Oitenta por cento do peso do cérebro concentram-se
nos arredondados hemisférios cerebrais direito e esquerdo, que são, na maior
parte, preenchidos por conexões axônicas entre a superfície do cérebro e suas
outras regiões. A fina camada de superfície dos hemisférios cerebrais é o
córtex cerebral, uma faixade células de espessura de um oitavo de polegada e
que contém cerca de 30 bilhões de células nervosas e cerca de 300 trilhões de
conexões sinápticas. O ser humano precisa de muitos nervos para existir. Sustentando
esses bilhões de células nervosas estão 9 vezes o mesmo número de células gliais
- "células-cola" que orientam as conexões neurais, fornecem nutrientes
e isolam mielina, e limpam íons e neurotransmissores. Alguns pesquisadores
acreditam que as células gliais são mais do que babás neurais. Ao "conversar"
com os neurônios, elas podem também participar na transmissão de informação e
memória (Travis, 1994).
Cada hemisfério cerebral está dividido em
quatro regiões, ou lobos. Começando na parte frontal de seu cérebro e
circundando até o topo estão os lobos frontais (atrás da testa), os lobos
parietais (no alto e para trás), os lobos occipitais (na parte
posterior da cabeça) e os lobos temporais (logo acima das orelhas).
Esses lobos são subdivisões geográficas convenientes separadas por sulcos proeminentes
(Fig. 2.14). Cada lobo executa muitas funções. Algumas funções exigem a
interação de vários lobos.
AS FUNÇÕES
DO CÓRTEX
Há mais de um século, as autópsias de pessoas
parcialmente paralisadas ou sem fala revelavam áreas específicas do córtex que
tinham sido lesionadas. Mas essa evidência um tanto crua não convencia os pesquisadores
de que partes específicas do córtex desempenham funções específicas. Afinal, se
os controles da fala e do movimento estivessem difundidos através do córtex, uma
lesão em quase qualquer área poderia provocar o mesmo efeito. Uma televisão deixaria
de funcionar se o fio de força fosse cortado, mas estaríamos nos iludindo se
pensássemos que tínhamos "localizado" a origem da imagem no fio.
Essa analogia nos lembra como é fácil errar quando
tentamos localizar as funções do cérebro. Não podemos traçar linhas em tomo das
áreas do cérebro como as que encontramos nos cartazes de açougue e que
representam os cortes do boi; atividades complexas como falar, desenhar e jogar
bilhar envolvem muitas áreas cerebrais. Por exemplo, nossa experiência de ouvir
música cantada integra a atividade cerebral em áreas que estão envolvidas
no processamento da fala e no processamento da
música.
Mereille Besson e colegas (1998) descobriram
isso quando
registravam a atividade elétrica no cérebro de
músicos franceses enquanto ouviam solos de ópera cantados a capela (sem acompanhamento
de instrumentos). O cérebro dos músicos processou as letras e as melodias em áreas
cerebrais separadas no itinerário para que vivenciassem "a extraordinária
unidade da música vocalizada".
AS FUNÇÕES MOTORAS
Os cientistas, entretanto, localizaram funções
cerebrais mais simples. Por exemplo, em 1870,quando aplicaram estimulação elétrica
moderada ao córtex de cães, os médicos alemães Gustav Fritsch e Eduard Hitzig fizeram
uma importante descoberta: era possível fazer diferentes partes do corpo se moverem.
Os efeitos eram seletivos: a estimulação só causava movimento quando aplicada a
uma região em forma de arco na parte posterior do lobo frontal, estendendo-se
aproximadamente de orelha a orelha pelo alto do cérebro. Esse arco é hoje
chamado de córtex motor. Além disso, quando os pesquisadores estimulavam
partes específicas dessa região nos hemisférios esquerdo ou direito, partes específicas
do corpo moviam-se nos lados opostos do corpo.
Meio século atrás, os neurocirurgiões Otfrid
Foerster na Alemanha e Wilder Penfield em Montreal mapearam o córtex motor em centenas
de pacientes totalmente despertos. Antes de seccionarem o cérebro, os cirurgiões
precisavam conhecer os possíveis efeitos colaterais da remoção de diferentes
partes do córtex. Eles estimularam indolormente (o cérebro não tem receptores sensoriais)
áreas corticais diferentes e observaram as respostas do corpo. Tal como Fritsch
e Hitzig, eles descobriram que, quando estimulavam áreas diferentes do córtex
motor na parte posterior do lobo frontal, diferentes partes do corpo se movimentavam.
Agora podiam mapear o córtex motor segundo as partes corporais que ele controlava.
Curiosamente, as áreas do corpo que exigem
controle preciso, como os dedos e a boca, ocupam a maior quantidade de espaço cortical.
O neurocientista José Delgado demonstrou a
mecânica do
comportamento motor. Em um macaco, ele evocou uma resposta de sorriso
mais de 400.000 vezes. Em um paciente humano, estimulou um ponto no córtex motor
esquerdo que fazia a mão direita fechar o punho. Ao pedido para manter os dedos
abertos durante a estimulação seguinte, o paciente, cujos dedos se fechavam apesar
de seus esforços, comentou: "Acho, doutor, que sua eletricidade é mais forte
que a minha vontade" (Delgado, 1969, p. 114). Mais recentemente, os cientistas
foram capazes de prever o movimento de braço de um macaco um décimo de segundo antes
de ele movê-lo - ao medirem repetidamente a atividade do córtex motor que
precedia movimentos de braço específicos (Gibbs, 1996). Por mais interessantes
que os estudos iniciais em estimulação cerebral tenham sido, pesquisas mais recentes
revelaram que as conexões precisas de músculo para cérebro não são tão simples como
o trabalho inicial sugeria. Em um estudo recente, os pesquisadores examinaram essas
conexões utilizando imagens obtidas por ressonância magnética funcionais para
observar onde o cérebro se iluminava quando músculos específicos eram movimentados
(Sanes e outros, 1995). Descobriram que um dado movimento de dedo ou pulso, por
exemplo, ativava locais variados e sobrepostos. Embora seja verdade que certas
áreas do córtex controlam certas áreas do corpo e que algumas áreas exigem mais
tecido cerebral do que outras, o padrão de conexão é complexo - complexo o bastante
para permitir as muitas combinações musculares distintas necessárias para
provocar gestos específicos.
Fonte: Explorando a psicologia - David Myers
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