Virei
um lagarto", começou ele. "Um grande lagarto, congelado num mundo
escuro, frio e estranho". Seu nome era Roberto Garcia d' Orta. Ele era um
homem alto e magro, na faixa dos 60 anos, mas, como a maioria dos pacientes com
doença de Parkinson, parecia muito mais velho. Poucos anos antes, era um
empresário ativo e vigoroso. Então, tudo aconteceu - não de repente, mas de
forma lenta, sutil, insidiosa. Agora, ele se virava um pedaço de granito,
caminhava em passos lentos e arrastava-se falava em sussurro monótono. Qual
havia sido o seu primeiro sintoma?
Um
tremor.
Esse
tremor o incapacitou?
"Não",
disse ele. "Minhas mãos tremiam mais quando não estavam fazendo nada" - um sintoma chamado tremor
de repouso. Os outros sintomas da doença de Parkinson não são tão benignos. Eles
podem transformar um homem vigoroso em um lagarto; envolvem rigidez muscular,
perda acentuada de movimentos espontâneos, dificuldade para começar a se mover
e lentidão para executar movimentos voluntários após iniciá-los, O termo
"olhar de réptil" é usado freqüentemente para descrever a falta de
piscadas e os olhos totalmente abertos, com olhar fixo e o rosto imóvel,
conjunto de características que parecem mais próprias de répteis do que de
seres humanos. Realmente um lagarto aos olhos do mundo. O que estava
acontecendo com o cérebro do sr. d'Orta? Um pequeno grupo de células nervosas a
substância negra, estava morrendo inexplicavelmente. Esses neurônios produzem
determinado neurotransmissor, a dopamina. Os neurônios a enviam para outra
parte do cérebro, o estriado. À medida que as células da substância negra
morrem, a quantidade de dopamina diminui. O estriado ajuda a controlar o
movimento e, para fazê-lo adequadamente, ele necessita de dopamina. (Parafraseado de KIawans, 1990 © Harold Klawans, 1990)
A
administração de dopamina não constitui tratamento eficaz para a doença de
Parkinson porque não penetra facilmente na barreira hematoencefálica.
Entretanto, o conhecimento da transmissão dopaminérgica levou ao
desenvolvimento de tratamento eficaz: o L-dopa, um precursor químico da
dopamina, que penetra facilmente na barreira hematoencefálica e é convertido em
dopamina após entrar no cérebro.
O
neurologista do sr. d'Orta receitou L-dopa. O tratamento funcionou. Ele ainda
tinha um pouco de tremor, mas a sua voz ficou mais forte, seus pés não mais se
arrastavam, seu olhar de réptil desapareceu e ele conseguia realizar muitas das
atividades da vida cotidiana novamente (por exemplo, comer, tomar banho,
escrever, falar e fazer amor com a sua esposa). O sr. d'Orta havia sido
destinado a passar o resto de sua vida em um corpo que estava ficando cada vez
mais difícil de controlar, mas sua sentença perpétua foi interrompida.
O
seu problema irá Iembrá-lo de que o funcionamento nervoso normal é necessário
para o funcionamento psicológico normal. O conhecimento da condução nervosa e
da transmissão sináptica é recurso importante para todos os psicólogos, além de
constituir dever para qualquer biopsicólogo.
Fonte:
Biopsicologia - Jonh P. J.
Pinel
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