quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O LAGARTO, UM CASO DE DOENÇA DE PARKINSON







Virei um lagarto", começou ele. "Um grande lagarto, congelado num mundo escuro, frio e estranho". Seu nome era Roberto Garcia d' Orta. Ele era um homem alto e magro, na faixa dos 60 anos, mas, como a maioria dos pacientes com doença de Parkinson, parecia muito mais velho. Poucos anos antes, era um empresário ativo e vigoroso. Então, tudo aconteceu - não de repente, mas de forma lenta, sutil, insidiosa. Agora, ele se virava um pedaço de granito, caminhava em passos lentos e arrastava-se falava em sussurro monótono. Qual havia sido o seu primeiro sintoma?
Um tremor.
Esse tremor o incapacitou?
"Não", disse ele. "Minhas mãos tremiam mais quando não estavam  fazendo nada" - um sintoma chamado tremor de repouso. Os outros sintomas da doença de Parkinson não são tão benignos. Eles podem transformar um homem vigoroso em um lagarto; envolvem rigidez muscular, perda acentuada de movimentos espontâneos, dificuldade para começar a se mover e lentidão para executar movimentos voluntários após iniciá-los, O termo "olhar de réptil" é usado freqüentemente para descrever a falta de piscadas e os olhos totalmente abertos, com olhar fixo e o rosto imóvel, conjunto de características que parecem mais próprias de répteis do que de seres humanos. Realmente um lagarto aos olhos do mundo. O que estava acontecendo com o cérebro do sr. d'Orta? Um pequeno grupo de células nervosas a substância negra, estava morrendo inexplicavelmente. Esses neurônios produzem determinado neurotransmissor, a dopamina. Os neurônios a enviam para outra parte do cérebro, o estriado. À medida que as células da substância negra morrem, a quantidade de dopamina diminui. O estriado ajuda a controlar o movimento e, para fazê-lo adequadamente, ele necessita de dopamina. (Parafraseado de KIawans, 1990 © Harold Klawans, 1990)
A administração de dopamina não constitui tratamento eficaz para a doença de Parkinson porque não penetra facilmente na barreira hematoencefálica. Entretanto, o conhecimento da transmissão dopaminérgica levou ao desenvolvimento de tratamento eficaz: o L-dopa, um precursor químico da dopamina, que penetra facilmente na barreira hematoencefálica e é convertido em dopamina após entrar no cérebro.
O neurologista do sr. d'Orta receitou L-dopa. O tratamento funcionou. Ele ainda tinha um pouco de tremor, mas a sua voz ficou mais forte, seus pés não mais se arrastavam, seu olhar de réptil desapareceu e ele conseguia realizar muitas das atividades da vida cotidiana novamente (por exemplo, comer, tomar banho, escrever, falar e fazer amor com a sua esposa). O sr. d'Orta havia sido destinado a passar o resto de sua vida em um corpo que estava ficando cada vez mais difícil de controlar, mas sua sentença perpétua foi interrompida.
O seu problema irá Iembrá-lo de que o funcionamento nervoso normal é necessário para o funcionamento psicológico normal. O conhecimento da condução nervosa e da transmissão sináptica é recurso importante para todos os psicólogos, além de constituir dever para qualquer biopsicólogo.

Fonte:
Biopsicologia - Jonh P. J. Pinel

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