terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Aspectos Psicossociais E Culturais Da Construção Da Família

Aspectos Psicossociais E Culturais Da Construção Da Família


A antropologia nos dá elementos para entender que a Natureza nunca foi soberana, ou seja, não é a maneira determinante de constituir laços na humanidade; ao contrário, acompanhando o quão criativas as diferentes culturas podem ser no encontro de soluções para os problemas que se colocam, podemos reconhecer que o laço social e simbólico sempre prevalece sobre o dado biológico.
As noções de maternidade e paternidade são freqüentemente confundidas com um funcionamento supostamente “natural” da reprodução humana, uma vez que se apresentam sustentadas por um sistema de valores e idéias que tem velada a sua natureza de construção cultural.
A maternidade, categoria também presente nas discussões acerca do “ser feminino” é entendida aqui como uma construção social. Como tal, está diretamente associada às modificações pela qual a família tem passado a partir de transformações que permitiram, entre outras questões, a organização dos Estados modernos e a instalação da ordem econômica burguesa, principalmente do século XVII em diante, em um movimento de constituição das chamadas sociedades disciplinares.
Temática bastante abordada nos diversos campos do saber, a maternidade carece ainda de discussões que tenham uma perspectiva mais refutadora, dada a ‘sacralidade’ que a cerca. Diria que nas sociedades ocidentais essa ênfase é ainda mais evidente. A maternidade parece permanecer como um valor, sendo função social da mulher. Permanece ainda um ranço herdado das ciências biológicas que associa o corpo biológico da mulher ao corpo social. Há que se pensar a maternidade como componente preponderante das estruturas do tecido social. Ainda que existam variações de interpretações sobre a posição da mulher nas diferentes culturas que assinalam sua condição como de maior ou menor exclusão da esfera pública ou política das sociedades, o gênero significa nesse texto a distinção entre atributos culturais assinalados a cada um dos sexos e a dimensão biológica dos seres humanos.
A ordem simbólica que se origina do gênero diz respeito, antes da descontinuidade do que de qualquer outra propriedade intrínseca ao objeto; as categorias de gênero são sempre culturalmente determinadas. Por conseguinte, é de significativa importância retirar o ranço de ‘natural’ que existe nos discursos correntes sobre posturas ‘de homem e de mulher’, suas posturas, atitudes, valores. Essas identidades socialmente construídas acabam enfatizando uma perspectiva relacional e sistêmica que prevalece nas construções de papéis e identidades para ambos os sexos. É preciso retirar-lhes esse ‘traço natural’, sobretudo na caso da mulher, cuja vinculação biológica do corpo a remete ao lugar de maternidade por sua associação ao trabalho de cuidado com a prole. Há uma carga simbólica de
atributo pré-social da condição feminina ao papel reprodutivo.
As raízes das ações que são explicadas como ‘instintivas’ ou ‘naturais’ para algumas correntes do pensamento, podem ser localizadas no repertório das práticas que as mulheres acumulam desde a tenra infância e são eivados de valores muito específicos, de cada agrupamento culturalmente estabelecido. O que pode se desdobrar num conflito, como pode ser escutado no cotidiano, por exemplo: “toda mulher possui um instinto maternal”; “toda mulher nasce com o dom de ser mãe”; entre outras das muitas frases que estão espalhadas por todos os lados na sociedade e no imaginário feminino, como simples, inofensivas, mas que acabam por se desdobrar em sofrimento. Nos mais diversos cenários. A ‘necessidade de ser mãe’, portanto, aparece sem questionamento, como ‘natural’.



Fonte:
Construção Social Da Maternidade E Infância
http://74.125.47.132/search?q=cache:IfiMXQ7Jw6IJ:www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/ST37/Fontenele-Tanaka_37.pdf+constru%C3%A7%C3%A3o+social+da+maternidade+e+inf%C3%A2ncia&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&lr=lang_pt

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