sábado, 22 de dezembro de 2012

A RESPOSTA AO ESTRESSE


Estresse e Úlceras Gástricas






Hans Selye foi o primeiro a descrever a resposta de estresse, na década de 1950, e logo reconheceu a sua natureza dual. A curto prazo, ela produz mudanças adaptativas que ajudam o animal a responder ao estressor (a mobilização de recursos energéticos, a inibição de inflamação e a resistência a infecções). A longo prazo, contudo, ela produz mudanças mal adaptativas (o aumento das glândulas adrenais). Selye atribuiu a resposta de estresse à ativação do sistema córtex supra-renal-adeno-hipôfise. Ele concluiu que os estressores que agem sobre os circuitos neurais estimulam a liberação do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) da hipófise anterior. O ACTH, por sua vez, desencadeia a liberação de glicocorticóides do córtex suprarenal. Ambos produzem muitos dos efeitos da resposta de estresse. O nível de glicocorticóides circulantes é a medida fisiológica do estresse utilizada com mais freqüência. Com sua ênfase no papel do sistema córtex supra-renal -adeno-hipofisário sobre o estresse, Selye ignorou as contribuições do sistema nervoso simpático. Os estressores também ativam o sistema nervoso simpático, aumentando a quantidade de adrenalina (ou epinefrina) e noreadrenalina (ou noraepinefrina) liberadas pela medula supra-renal. A maioria das teorias modernas do estresse (Stanford e Salmon, 1993) reconhece as influências importantes dos dois sistemas (ver Figura  abaixo).



A intensidade da resposta de estresse não depende apenas do estressor e do indivíduo, mas também das estratégias que o indivíduo adota para enfrentá-Io (McEwen, 1994). Por exemplo, em estudo entre mulheres esperando por cirurgia para possível câncer de mama, os níveis de estresse foram mais baixos naquelas que se convenceram a pensar sobre o problema de determinadas maneiras. As que se convenceram de que poderiam não ter câncer ou de que seria contraproducente preocupar-se com ele experimentaram menos estresse (Katz e cols., 1970).
Do ponto de vista da ciência psicológica, a principal contribuição da resposta de estresse de Selye foi propiciar um mecanismo pelo qual os fatores psicológicos podem influenciar o estresse físico. Todos os tipos de estressores psicológicos comuns (como perder o emprego, preparar-se para um exame, terminar um relacionamento) estão associados a níveis circulantes elevados de glicocorticóides, de epinefrina  e de norepinefrina, os quais, por sua vez, estão implicados em muitos transtornos físicos (Salovey e cols., 2000). Por exemplo, o medo ou o estresse antes de uma cirurgia foram associados à recuperação pós-cirúrgica mais lenta, incluindo atrasos na cura de ferimentos (Kiecolt- Glaser e cols., 1998).
A relação entre o medo crônico, o estresse e a saúde deficiente é facilmente visível em animais submetidos a estresse por subordinação. Praticamente, todos os mamíferos – particularmente os machos - experimentam ameaças de co-especificos (membros da mesma espécie) em certos pontos de suas vidas. Quando uma ameaça co-específica torna-se permanente na vida cotidiana, o resultado é o estresse por subordinação. Ele é estudado com mais facilidade em espécies sociais que formam hierarquias de dominação (lei do galinheiro) estáveis.
O que você acha que acontece com roedores machos subordinados atacados continuamente por machos mais dominantes? Vários estudos relataram que animais expostos ao estresse por subordinação têm mais propensão a atacar jovens, de ter testículos de tamanho reduzido, de ter vidas mais curtas e de ter níveis mais baixos de testosterona e mais altos de corticosterona (um glicocorticoide).

Estresse e úlceras gástricas
O estresse há muito foi implicado no desenvolvimento de úlceras gástricas. As úlceras gástricas são lesões dolorasas no revestimento do estômago e do duodeno que, em casos extremos, podem ser fatais. Somente nos Estados Unidos cerca de 500 mil novos casos são registrados a cada ano (ver Livingston e Guth, 1992). As úlceras gástricas, em geral, atingem pessoas que vivem em condições estressantes. Os estressores (como o confinamento em tubo de restrição por algumas horas) pode produzi-las em animais de laboratório.
Durante décadas, as úlceras gástricas foram consideradas o protótipo das doenças psicossomáticas (doenças físicas com evidências incontestáveis de causa psicológica). Contudo, essa visão parece ter mudado com o relato de que as úlceras gástricas seriam causadas por bactérias. De fato, afirmou-se que as bactérias causadoras de úlceras (Helicobacter pylori) são responsáveis por todos os casos de úlcera gástrica, exceto os causados por agentes antiinflamatórios não-esteróides, como a aspirina (Blaser, 1996). Isso parece excluir o estresse como fator causal desse tipo de úlceras, mas avaliação minuciosa das evidências sugere o contrário (Overmier e Murison, 1997).
Os fatos não negam que a bactéria H. pylori provoca lesões na parede do estômago ou que o tratamento antibiótico de úlceras gástricas ajuda muitas de suas vítimas. Contudo, eles sugerem que apenas a infecção por H. pylori é insuficiente para produzir a doença na maioria das pessoas. Embora seja verdade que a maioria dos pacientes com úlceras gástricas apresente sinais de infecções por H. pylori, 75% dos sujeitos-controle também apresentam. Além disso, embora seja verdade que os antibióticos melhorem a condição de muitos pacientes com úlceras gástricas, os tratamentos psicológicos também ajudam - sem reduzir os sinais da infecção por Helicobacter pylori. Aparentemente, há outro fator que aumenta a suscetibilidade da parede do estômago a lesões por H. pylori, provavelmente seja o estresse.

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