quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Comportamento Sexual Compulsivo - Sistema Têmporo-límbico e Hipotálamo


Estudos pré-clínicos em animais têm demonstrado uma mediação de sintomas hipersexuais pelo Sistema Temporolímbico. Têm sido desencadeadas ereções em primatas por estimulação direta do Sistema Límbico. A hipersexualidade tem sido documentada em ratos depois de crises límbicas crônica e artificialmente induzidas. Verificou-se que lesões bilaterais dos lobos temporais resultam na síndrome de Klüver-Bucy, caracterizada por comportamento hiper­sexual e outros desequilíbrios do comportamento social. Lesões específicas do Sistema Límbico, como lesões da área septal, também têm demonstrado levar a aumento do comportamento sexual.
Estudos de estimulação elétrica têm confirmado que estruturas límbicas, particularmente a área septal, associam-se a intenso prazer. A síndrome de Klüver-Bucy tem sido relatada no homem (Duggal, 2000). Nela, contudo, podem ocorrer alterações da preferência sexual mais comumente do que hipersexualidade isolada. Relata-se hipersexualidade depois de tumores do lobo temporal, de lesão septal ou de AVC do lobo temporal. Relatou-se erotomania em pacientes com disfunção frontal e temporal.

Sexualidade e Lobo Frontal 

A relação entre transtorno cerebral disrítmico e transtornos sexuais tem sido estudada há muito tempo. Muitos estudos verificaram uma associação entre Epilepsia do Lobo Temporal e hipoatividade sexual, enquanto foi menos comumente relatada uma associação com hiperatividade sexual ou parafilia. Todavia, em vários casos mais antigos, notaram-se parafilias em pacientes com Epilepsia do Lobo Temporal e um estudo antigo de pacientes com Epilepsia do Lobo Temporal verificou que as parafilias associavam-se a lesão do lobo temporal.
Demerdash e cols. verificaram que, em mulheres com Epilepsia do Lobo Temporal, eram comuns a hipossexualidade e o exibicionismo, associando-se a anormalidades eletroencefalográficas do lobo temporal (Demerdash, 1991). Também pode ser visto aumento do comportamento sexual logo depois da convulsão, sugerindo a desinibição de outras estruturas na Epilepsia do Lobo Temporal.
Mas, se existe alguma dificuldade em associar disritmia cerebral e alterações sexuais, o inverso é verdadeiro, ou seja, pacientes com parafilias e alterações da sexualidade podem apresentar anormalidades do lobo temporal. Alguns estudos no travestismo relacionam essa parafilia a um aumento das anormalidades do lobo temporal no eletroencefalograma. Uma série de estudos com tomografia computadorizada sugeriu anormalidades do lobo temporal no sadismo sexual e nas agressões sexuais, mas não na pedofilia e no exibicionismo. Raine analisou estudos de imagens estruturais e funcionais do cérebro em agressores sexuais e sugeriu que as agressões violentas podem associar-se à disfunção frontal, enquanto as agressões sexuais podem associar-se à disfunção temporal (Raine,1998, 2000).
No contexto sexual-cerebral, é interessante observar que pacientes com sintomas hipersexuais são relacionados dinamicamente como tendo história de abuso sexual na infância mas, na ausência de estudos mais acurados, qualquer ligação causal entre esses dois fatos deve permanecer apenas na esfera especulativa.

Complicações Clínicas 

As pessoas com  Comportamento Sexual Compulsivo podem desenvolver complicações clínicas em decorrência direta de seu comportamento sexual. As complicações, em potencial, incluem lesões genitais (contusões) e doenças sexualmente transmissíveis (hepatite B, herpes simples ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana).
Podem ocorrer lesões físicas nos comportamentos sexuais de alto risco ou na atividade sadomasoquista. Nas mulheres, podem ocorrer gestações não desejadas e complicações de aborto. Alguns pacientes podem ser submetidos a cirurgias desnecessárias, particularmente cirurgia plástica, para aumentar o apelo sexual (implantes de mama, transplantes capilares e lipoaspiração).
Existem muito poucos estudos da psicobiologia da hipersexualidade. Todavia, a literatura realmente sugere a possibilidade de uma neurobiologia para a hipersexualidade. Há evidências de diferentes sistemas cerebrais que podem desempenhar um papel neste transtorno.
Lesões frontais, por exemplo, podem ser acompanhadas por desinibição, por resposta hipersexual impulsiva, enquanto lesões estriatais podem ser acompanhadas por desencadeamento repetitivo de padrões de resposta gerados internamente. Lesões límbicas temporais podem ser acompanhadas por desequilíbrios do próprio apetite sexual, inclusive alteração do direcionamento do impulso sexual.

Complicações Sociais
 
As pessoas com Comportamento Sexual Compulsivo podem ser responsáveis por algumas complicações sociais sérias. Desafetos com amigos e familiares, envolvimentos policiais, perda de empregos, perda da reputação moral e toda sorte de desadaptação social e familiar em decorrência direta de investidas, assédios e relacionamentos sexuais.
Os valores mais permissivos da sociedade moderna favorecem, sobremaneira, a desenvoltura sexual dos portadores de Comportamento Sexual Compulsivo. Essas pessoas não titubeiam em ceder às facilidades sexuais atuais e não costumam estabelecer limites para sua atividade, podendo envolver-se com menores de idade, prostitutas, homossexuais, enfim, expondo-se a um risco social muito grande.

Complicações Familiares 

Os portadores de Comportamento Sexual Compulsivo costumam ser cônjuges complicados. Primeiramente devido ao apetite sexual maior que do(a) parceiro(a), submetendo este(a) à uma atividade nem sempre prazerosa ou desejada. Em segundo, devido às maiores probabilidades à infidelidade e, em terceiro, devido maiores possibilidades de envolvimentos sexuais com amigos ou familiares, aumentando mais ainda o constrangimento.

Complicações Pessoais 

Comportamento Sexual Compulsivo poderá ser egosintônico, como vimos, na eventualidade da pessoa estar consoante ao seu comportamento ou, egodistônico, caso discorde de suas atitudes e se recrimine de sua sexualidade. Essa situação, entretanto, não é fixa e definitiva, isto é, poderá ser egosintônico numa fase da vida ou num momento e egodistônico em outro.
Nas fases mais precoces da vida (adolescente ou adulto jovem), normalmente a pessoa mantém-se de forma egosintônica, com auto-estima elevada devido à aceitação cultura de sua performance e devido ao próprio prazer (mais ou menos inconseqüente) que essa hiperatividade resulta.
Em fases mais tardias a tendência é haver um sentimento egodistônico retroativo, ou seja, com arrependimentos sobre a conduta anterior, lamentações sobre eventuais condições melhores de vida caso fosse mais comedido sexualmente e coisas assim.

Conclusões 

Pensa-se sobre a existência de uma síndrome caracterizada por fantasias sexual­mente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos ou comportamentos sexuais envolvendo padrões que não são suficientemente anômalos para se encaixar na definição de parafilia.
Essa condição parece se associar a morbidade significativa na medida em que produz sofrimento, ansiedade e/ou arrependimento, portanto, sendo mórbida, há quem vê nisso boas razões para colocá-la junto aos transtornos sexuais do DSM-IV (havendo já uma classificação no CID.10 como F52 - Apetite Sexual Excessivo).
Os termos compulsivo, aditivo e impulsivo têm proporcionado um certo valor semiológico à compreensão e diagnóstico de pacientes com hipersexualidade patológica. Entretanto, devemos ter um cuidado especial sobre a possibilidade de se atrelar um rótulo psiquiátrico a toda e qualquer variação do comportamento humano, sob o risco de eximir quaisquer responsabilidades ao arbítrio da pessoa.
Conclui-se, também, haver uma sobreposição ou concomitância entre atitudes de hiper­sexualidade e outras afecções psiquiátricas, tais como e principalmente, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, o Transtorno por Abuso de Substâncias e Transtorno do Controle dos Impulsos, assim como uma sobreposição ou concomitância com algunsTranstornos da Personalidade, notadamente do tipo Histérico Obsessivo-Compulsivo.
Há ainda possibilidades da hipersexualidade ser apenas um sintoma de outras alterações neuro-psiquiátricas subjacentes, como algumas epilepsias fronto-temporais, disfunções frontais, seqüelas neurológicas de lesões vasculares, demência ou outros quadros organomentais.

Existem autores sugerindo que o Comportamento Sexual Compulsivo possa aparecer de 2 formas; com ou sem Parafilia, obviamente mais patológico quando com Parafilia. Entretanto, em nossa opinião, nada impede que o diagnóstico correto seja de Parafilia com Comportamento Sexual Compulsivo, o que não justificaria “idealizarmos” uma outra patologia nova para um comportamento hipersexual.
Não está claro ainda se a denominação mais correta seria Transtorno Hipersexual, Hiper­sexualidade Patológica ou Comportamento Sexual Compulsivo, assim como não está perfeitamente estabelecido se existe, de fato, uma doença com essas características. Há dúvidas ainda sobre o fato do comportamento hipersexualizado ser um sintoma de outra patologia psiquiátrica ou, temerariamente, ser apenas uma tendência de psiquiatrizarmos atitudes e comportamentos humanos variantes.


Fonte:
Ballone GJ, Moura EC - Comportamento Sexual Compulsivo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário