Graciela Comparin
Quando
falamos em altas habilidades nossa memória nos remete imediatamente aos grandes
nomes da história como Einstein, Van Gogh, Kasparov, Stephen Hawking, Issac
Newton, Leonard Da Vinci, entre tantos outros.
Mas não seriam essas pessoas gênios? E qual a diferença?
Na
minha pesquisa para escrever este trabalho encontrei vários pessoas afirmando
que: um gênio é sempre um superdotado, mas nem todo superdotado é um gênio.
Gênio é aquele que tem altas habilidades em tudo que faz e, tudo que faz é bem
feito, com primazia. O gênio alcança a excelência em todas as áreas que se
envolver. O gênio é inquieto, claro que isso não é uma regra, pula de um
projeto para outro com muita facilidade, não termina o que começa e acaba por
cair, muitas vezes no esquecimento e ostracismo. Talvez por isso existam tantos
gênios perdidos por aí, não descobertos ou incobertos.
Os métodos de definir quem é gênio, ou não, ainda são os testes de
inteligência, o famoso teste Q.I. Que na verdade apenas mede o Q.I. Não, não é
retórica. O teste de Q.I não leva em consideração, temperamento, personalidade,
questões afetivas, e tantas outras características que afetam o comportamento.
A genialidade não depende só da inteligência, mas de uma série de questões
comportamentais que vão determinar se o indivíduo vai, realmente, se tornar uma
mente brilhante ou não.
Lendo
sobre a história de um dos inventores da bomba atômica, Robert Oppenheimer,
considerado um gênio da física, descobri que este foi recrutado ainda no tempo
de faculdade, graças a seu desempenho acadêmico, juntamente com seu colega de
quarto, também físico, que, segundo a reportagem, possuía Q.I. mais elevado
ainda ao de Openheimer que beirava 175 e de seu colega 184.
No dia da entrevista marcada para o colega, afinal tinha Q.I mais elevado,
pelas forças armadas alemãs, nazistas na época, o colega não compareceu.
A severidade do sistema não admitia segundas chances, chamaram, então,
Openheimer.
Começou suas experiências com energia nuclear, partículas subatômicas,
pósitrons, elétrons, etc. Em 1939 Einstein o adverte sobre o perigo de suas
experiências e o pior, os nazistas com tamanho poderio de destruição nas mãos.
Em 1942 Openheimer muda-se para os Estados Unidos da América, e integra o
projeto Manhattan, para construção da bomba atômica e o resto da história a
gente já conhece.
Mas e o colega de quarto de Openheimer? Aquele de Q.I. 184? O que
aconteceu com ele?
Morreu pobre, zelador de um prédio.
Genialidade também depende de oportunidades e saber aproveitá-las,
vontade, mecanismos de enfrentamento, resiliência, auto-estima elevada,
personalidade e temperamento, quesitos que um simples teste de Q.I. não medem.
A criança com altas habilidades normalmente aprende com muita facilidade e
rápido, não precisa de muito estímulo para aprender, são curiosos, adoram
novidades, tem grande capacidade de memorização, concentração, altos níveis de
energia e interesses obsessivos.
A criança superdotada apresenta elevada potencialidade nas seguintes aptidões,
que podem se apresentar isoladas ou combinadas:
a)
capacidade intelectual geral - que envolve rapidez de pensamento, compreensão e
memória elevadas, capacidade de pensamento abstrato.
b)
aptidão acadêmica específica - atenção, concentração, rapidez de aprendizagem,
boa memória, motivação por disciplinas acadêmicas do seu interesse, capacidade
de produção acadêmica.
c)
pensamento criativo ou produtivo - originalidade de pensamento, imaginação,
capacidade de resolver problemas de forma diferente e inovadora.
d)
capacidade de liderança - sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa,
capacidade de resolver situações sociais complexas, poder de persuasão e de
influência no grupo.
e)
talento especial para artes – alto desempenho em artes plásticas, musicais,
dramáticas, literárias ou cênicas.
f)
capacidade psicomotora- desempenho superior em velocidade, agilidade de
movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora.
A
confluência de habilidades é conhecida por "multipontecialidades". Em
geral pessoas superdotadas não apresentam essas habilidades todas juntas nem
mesmo em graus diferentes. Um dos aspectos marcantes da SD é a heterogeneidade
das potencialidades, podendo, a pessoa, se destacar em uma área ou em várias.
Mas
será que podemos criar um super dotado?
E
agora chegamos onde eu queria chegar! A questão do estímulo.
Se partirmos do ponto de vista da psicometria e levarmos em conta apenas os
testes de Q.I., em uma determinada população, teremos apenas 3% de indivíduos
superdotados e, estaremos indicando aqueles que se destacam apenas por seus
talentos acadêmicos e intelectuais.
No
Centro Nacional de Pesquisa sobre o Superdotado na Universidade de Connecticut,
nos Estados Unidos, o pesquisador Joseph Renzulli1, considera que a
superdotação resulta de três conjuntos de traços:
a) a
habilidade acima da média em alguma área do conhecimento
b)
envolvimento com a tarefa (motivação, vontade, perseverança e concentração)
c)
criatividade (ver novos significados e implicações, retirar ideias de um
contexto e usá-las em outro).
Nem
sempre a criança apresenta este conjunto de traços desenvolvidos igualmente,
mas, se lhe forem dadas oportunidades, poderá desenvolver amplamente todo o seu
potencial. Estimulá-la.
Incluindo estes critérios na avaliação de SDs a estatística aumenta
significativamente de 3% para 15 a 30 % de uma população pesquisada.
Infelizmente no nosso país a superdotação é mal identificada e mal trabalhada,
por usar apenas recursos e métodos psicométricos de avaliação da capacidade do
aluno. Os mesmos usados para identificar o aluno com deficiência intelectual
para fins de atender a demanda da legislação educacional com relação a
educação inclusiva.
________________________
1. Fonte: Angela.
M.R. Virgolim. A criança superdotada em nosso meio: aceitando suas
diferenças e estimulando seu potencial.
Isso
apenas demonstra a falta de conhecimento do tema por parte da sociedade,
escola e família. E como ainda é polêmico.
Há
necessidade de instrumentos de identificação mais amplos, programas de
desenvolvimento do potencial dessas crianças, políticas públicas de
aproveitamento de talentos no nosso país e treinamento dos profissionais
escolares para saber reconhecer, ao se deparar com ele, um superdotado.
Hoje
os professores já estão sendo preparados pra identificar alunos com altas
habilidades. Já existem cursos de especialização – particulares, na área.
Mas
não é o suficiente, é preciso aparelhar as instituições de ensino,
preparar os profissionais da educação de todas as instâncias, ampliar esse
olhar para que não se tenha tantos gênios perdidos por aí a exemplo do colega
de quarto de Openheimer.
Mas
como fazer? Sabemos das carências e prioridades das escolas e outros
setores do nosso País.
Um
dos modelos que encontrei em minha pesquisa, utilizado no Estado do Paraná,
pareceu-me um bom método de trabalho e das melhores formas de solução e
inclusão desta população sem prejuízo aos demais. (basta saber se não está
posta apenas no papel)
O
aluno SD frequenta a aula regular e, em contraturno, recebe atendimento
diferenciado através de um serviço de apoio especializado para enriquecimento
curricular, de acordo com a área de maior habilidade e interesse do aluno. Este
atendimento pode variar conforme a disponibilidade ou possibilidade de cada
instituição escolar.
Atualmente,
os serviços de atendimento, mais comumente oferecidos pelas instituições de
ensino no Brasil, são as Salas de Recursos e os Centros de Atendimento
Especializado.
Mas
como se sente um superdotado em seu convívio social?
Algumas
das características apresentadas podem trazer, ao indivíduo SD, desajustes
sociais ou emocionais, pela forma como se manifestam ou como são interpretadas
pelas pessoas de seu convívio.
Por
exemplo: o aluno curioso, na sala de aula, que faz perguntas às quais o
professor tem dificuldades em responder, pode ser considerado exibido pelos
colegas e inconveniente pelo professor.
Podem
se sentir fora de sincronia com relação ao seu desenvolvimento físico e
intelectual. Sentem-se como se estivessem a frente de seu tempo, interessam-se
por assuntos diversos daqueles escolares (muito fáceis para eles, ficam alheios
ao meio), preferem companhia de crianças mais velhas (mais próximas de sua
idade mental).
Muitas
vezes, na expectativa de serem aceitos, essas crianças escondem suas altas
habilidades, ou, simplesmente ficam abaixo da média no seu rendimento
escolar por possuírem outras características que não as acadêmicas e
intelectuais, como:
· Boa
capacidade de fala, demonstrando rapidez de pensamento,
· Habilidade
para aprofundar as ideias de outras pessoas e aplicar o que aprendeu em
situações diferentes;
· Capacidade
de argumentar e justificar seu ponto de vista com facilidade;
· Trabalho
escrito insatisfatório, tendência para deixar suas tarefas incompletas,
desorganizadas e fazer o mínimo necessário para aprovação;
· Demonstração
de estarem entediadas, letárgicas, desinteressadas e ansiosas para terminar as
aulas;
· Demonstração
de serem inquietas e desatentas;
· Capacidade
de manipular outras pessoas e situações;
· Capacidade
de elaborar questões inquiridoras e talvez provocativas e desafiadoras;
Essas
crianças acabam por desconhecer o alcance de suas próprias habilidades e não
sentem prazer no ambiente escolar.
Segundo
o Grupo Columbus2, da Universidade de Columbus, Ohio (EUA), A
superdotação contém tanto uma sub-estrutura cognitiva quanto uma emocional que
faz com que a criança superdotada não somente pense diferente de seus colegas,
mas também sinta de forma diferente. Com tal organização cognitiva pode
apresentar alto nível de organização emocional. Assim, em um momento ela pode
demonstrar um grande avanço emocional, e em outros momentos, grande imaturidade.
Muitos
acreditam que a criança superdotada sempre terá sucesso na vida, independente
das condições ambientais a que está sujeita. Comportamentos de superdotação
podem ser exibidos em certas crianças, em alguns momentos e sob certas
circunstâncias de sua vida. Estes comportamentos aparecem quando a criança
apresenta uma interação entre três conjuntos de traços: habilidade acima da
média, motivação, criatividade.
A
persistência em atingir um objetivo, a auto-confiança e a vontade realizar uma
tarefa que leve essa criança a realizar algo e que a façam se
tornar um adulto produtivo.
Talvez
por esse motivo pessoas desabrochem mais tarde, às vezes, já adultas, a exemplo
de Darwin e Stravinsky, que tiveram um desabrochar tardio.
Por
outro lado a falta de estímulo e falta de reconhecimento das habilidades poderão
concorrer para o desuso dessas habilidades e consequentemente sua estagnação.
________________
2. Fonte: Virgolim,
A.M.R. (2003). A criança superdotada e a questão da diferença: Um olhar sobre
suas necessidades emocionais, sociais e cognitivas. Linhas críticas, 9,
16 (13-31).
E
como fica a questão genialidade x loucura?
Muitas
vezes confundida uma com a outra, as pessoas ditas comuns não conseguem
alcançar a grandeza, a altura, a profundidade (qual seria o termo apropriado?)
do pensamento dessas pessoas consideradas gênios.
Mozart
aos 4 anos se apresentavam para o público, ao piano, suas próprias composições,
assim cresceu, abandonou os estudos condicionais e dedicou-se só a música. Já
adulto tinha comportamentos excêntricos, oscilações de humor e fixação nas
funções excretórias, não escondia seu fascínio por fezes e ânus, colocando-os,
inclusive em suas óperas. Em uma sociedade tão recatada e cheia de pudores,
pelo menos na aparência, era considerado “louco “.
Beethoven
tinha dificuldade em aprender aritmética, era egocêntrico, retraído,
depressivo, mas a surdez foi seu grande problema, o levou por vezes a ideação
suicida. Mesmo assim, em meio a constantes alterações de humor, queixumes,
dores abdominais, colite, stress, hipocondria, crises depressivas, se lança em
um grandioso processo de criação musical, onde imprime seu estilo pessoal,
produzido claramente pelo seu psiquismo somático e atormentado.
Van
Gogh, o pintor dos tons amarelos e vermelhos, das telas empasteladas de tinta,
pintou mais de quatrocentas, talvez seja o melhor exemplo de “gênio louco” da
nossa história. Sofria de crises agudas de paranoia, viva às expensas de um
irmão mais novo, cortou uma orelha em meio ao desespero do não reconhecimento
do seu talento e suicidou-se com um tiro no peito.
Mas,
vamos falar de gênios atuais e histórias não trágicas, eu diria que de
sucesso. Afinal na contemporaneidade, a loucura não existe, ela é apenas um
ponto de vista.
Não
poderia deixar de falar em Einstein, criador da Teoria da Relatividade, que
começou sua jornada com estudos de Física Ótica, velocidade da luz, pessoas
viajando em raios, e outros devaneios. Não fosse seus estudos não estaríamos
usando células fotoelétricas em portas de repartições públicas, bancos,
shoppings, que se abrem automaticamente com o simples aproximar de uma
pessoa. E Einstein foi reprovado na prova de admissão da Escola
Politécnica de Zurique, aos dezesseis anos. Por muito tempo foi considerado
aluno medíocre e desajustado, por um erro de avaliação de seus boletins, quando
na verdade era um prodígio em física. E por que será o uso daquele cabelo?
Seria loucura ou genialidade? Ou não sabia para que servia um pente de cabelo?
Vindo
mais para perto na linha do tempo, lendo uma reportagem de 2008, tomei
conhecimento da existência de duas mentes brilhantes – Kim Peek e Daniel Tamet.
Peek,
americano, 57, anos, lê um livro de 300 páginas em 40 minutos. Já leu 9 mil
livros em toda sua vida. Detalhe – não esquece e, nem esqueceu nada do que leu.
Sabe contar todas as histórias, recita trechos da bíblia, alcorão, o nome dos
presidentes (todos) e suas esposas, datas.
Tamet,
inglês, 29 anos, muito tímido, tem sua própria matemática. Faz contas
inacreditáveis. Qualquer conta, com números estratosféricos, que se peça
para ele resolver, o faz na hora, sem decorar, ou usar calculadora ou coisa do
tipo. Perguntado o resultado de 27 elevado à 5ª potência, respondeu prontamente
- 10 460 353 203. E não é só com números que Daniel Tamet é hábil, com línguas
também. Fala fluentemente 11 idiomas. Desafiado a aprender islandês em uma
semana, em um talkshow, uma semana depois se apresentou falando a tal língua com
perfeição.
O
que esse dois habilidosos cidadãos tem em comum além de suas altas habilidades,
são, também, um diagnóstico e autismo.
Kim
não sabe abotoar a camisa e Tamet não consegue pegar um ônibus sem se perder.
Combinar
uma deficiência intelectual com algum tipo de genialidade ou alta habilidade é
conhecido como Síndrome de Savant. Essas pessoas são chamadas de “savants”.
O
savantismo envolve uma forma diferente de memorização, é uma forma inconsciente
de raciocinar. Fazem contas com 20 algarismos mas não conseguem fazer contas
simples com 4 ou 5 algarismos. É inconcebível fazer conscientemente operações
matemáticas com tantos algarismos.
Em
geral esses indivíduos são 10 % dos autistas. Podem também ser diagnosticados
com síndrome de Asperger, como é o caso de Tamet.
Estamos
diante de casos diagnosticados e acompanhados pela ciência, o intuito é evitar
danos maiores a esses indivíduos, psicológicos e sociais.
A
sociedade os vê com curiosidade e muitas vezes a família os exibe como atração
circense.
O
cuidado no trato de pessoas especiais se faz necessário para não se perde-las e
não se repetir a história já vista, a exemplo de Van Gogh, Beethoven e outros.
Será
que temos um savant adormecido em nós?
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