terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ALTAS HABILIDADES OU SUPERDOTAÇÃO


 Graciela Comparin



Quando falamos em altas habilidades nossa memória nos remete imediatamente aos grandes nomes da história como Einstein, Van Gogh, Kasparov, Stephen Hawking, Issac Newton, Leonard Da Vinci, entre tantos outros.

         Mas não seriam essas pessoas gênios? E qual a diferença?

Na minha pesquisa para escrever este trabalho encontrei vários pessoas afirmando que: um gênio é sempre um superdotado, mas nem todo superdotado é um gênio.

         Gênio é aquele que tem altas habilidades em tudo que faz e, tudo que faz é bem feito, com primazia. O gênio alcança a excelência em todas as áreas que se envolver. O gênio é inquieto, claro que isso não é uma regra, pula de um projeto para outro com muita facilidade, não termina o que começa e acaba por cair, muitas vezes no esquecimento e ostracismo. Talvez por isso existam tantos gênios perdidos por aí, não descobertos ou incobertos.

         Os métodos de definir quem é gênio, ou não, ainda são os testes de inteligência, o famoso teste Q.I. Que na verdade apenas mede o Q.I. Não, não é retórica. O teste de Q.I não leva em consideração, temperamento, personalidade, questões afetivas, e tantas outras características que afetam o comportamento.

         A genialidade não depende só da inteligência, mas de uma série de questões comportamentais que vão determinar se o indivíduo vai, realmente, se tornar uma mente brilhante ou não.

            Lendo sobre a história de um dos inventores da bomba atômica, Robert Oppenheimer, considerado um gênio da física, descobri que este foi recrutado ainda no tempo de faculdade, graças a seu desempenho acadêmico, juntamente com seu colega de quarto, também físico, que, segundo a reportagem, possuía Q.I. mais elevado ainda ao de Openheimer que beirava 175 e de seu colega 184.

         No dia da entrevista marcada para o colega, afinal tinha Q.I mais elevado,  pelas forças armadas alemãs, nazistas na época, o colega não compareceu. A severidade do sistema não admitia segundas chances, chamaram, então, Openheimer.

         Começou suas experiências com energia nuclear, partículas subatômicas, pósitrons, elétrons, etc. Em 1939 Einstein o adverte sobre o perigo de suas experiências e o pior, os nazistas com tamanho poderio de destruição nas mãos.

         Em 1942 Openheimer muda-se para os Estados Unidos da América, e integra o projeto Manhattan, para construção da bomba atômica e o resto da história a gente já conhece.

         Mas e o colega de quarto de Openheimer? Aquele de Q.I. 184? O que aconteceu com ele?

         Morreu pobre, zelador de um prédio.


         Genialidade também depende de oportunidades e saber aproveitá-las,  vontade, mecanismos de enfrentamento, resiliência, auto-estima elevada, personalidade e temperamento, quesitos que um simples teste de Q.I. não medem.

         A criança com altas habilidades normalmente aprende com muita facilidade e rápido, não precisa de muito estímulo para aprender, são curiosos, adoram novidades, tem grande capacidade de memorização, concentração, altos níveis de energia e interesses obsessivos.

         A criança superdotada apresenta elevada potencialidade nas seguintes aptidões, que podem se apresentar isoladas ou combinadas:

a) capacidade intelectual geral - que envolve rapidez de pensamento, compreensão e memória elevadas, capacidade de pensamento abstrato.

 b) aptidão acadêmica específica - atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, motivação por disciplinas acadêmicas do seu interesse, capacidade de produção acadêmica.

c) pensamento criativo ou produtivo - originalidade de pensamento, imaginação, capacidade de resolver problemas de forma diferente e inovadora.

d) capacidade de liderança - sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, capacidade de resolver situações sociais complexas, poder de persuasão e de influência no grupo.

e) talento especial para artes – alto desempenho em artes plásticas, musicais, dramáticas, literárias ou cênicas.

f) capacidade psicomotora- desempenho superior em velocidade, agilidade de movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora.

A confluência de habilidades é conhecida por "multipontecialidades". Em geral pessoas superdotadas não apresentam essas habilidades todas juntas nem mesmo em graus diferentes. Um dos aspectos marcantes da SD é a heterogeneidade das potencialidades, podendo, a pessoa, se destacar em uma área ou em várias.



         Mas será que podemos criar um super dotado?


E agora chegamos onde eu queria chegar!  A questão do estímulo.

         Se partirmos do ponto de vista da psicometria e levarmos em conta apenas os testes de Q.I., em uma determinada população, teremos apenas 3% de indivíduos superdotados e, estaremos indicando aqueles que se destacam apenas por seus talentos acadêmicos e intelectuais.

No Centro Nacional de Pesquisa sobre o Superdotado  na Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, o pesquisador Joseph Renzulli1, considera que a superdotação resulta de três conjuntos de traços:

a) a habilidade acima da média em alguma área do conhecimento

b) envolvimento com a tarefa (motivação, vontade, perseverança e concentração)

c) criatividade (ver novos significados e implicações, retirar ideias de um contexto e usá-las em outro).

Nem sempre a criança apresenta este conjunto de traços desenvolvidos igualmente, mas, se lhe forem dadas oportunidades, poderá desenvolver amplamente todo o seu potencial. Estimulá-la.

         Incluindo estes critérios na avaliação de SDs a estatística aumenta significativamente de 3% para 15 a 30 % de uma população pesquisada.

         Infelizmente no nosso país a superdotação é mal identificada e mal trabalhada, por usar apenas recursos e métodos psicométricos de avaliação da capacidade do aluno. Os mesmos usados para identificar o aluno com deficiência intelectual para fins de  atender a demanda da legislação educacional com relação a educação inclusiva.



         ________________________

1.          Fonte: Angela. M.R. Virgolim. A criança superdotada em nosso meio: aceitando suas diferenças e estimulando seu potencial.




Isso apenas demonstra a falta de conhecimento do tema  por parte da sociedade, escola e família. E como ainda é polêmico.

Há necessidade de instrumentos de identificação mais amplos, programas de desenvolvimento do potencial dessas crianças, políticas públicas de aproveitamento de talentos no nosso país e treinamento dos profissionais escolares para saber reconhecer, ao se deparar com ele,  um superdotado.

Hoje os professores já estão sendo preparados pra identificar alunos com altas habilidades.  Já existem cursos de especialização – particulares, na área.

Mas não é o suficiente, é preciso aparelhar as  instituições de ensino, preparar os profissionais da educação de todas as instâncias, ampliar esse olhar para que não se tenha tantos gênios perdidos por aí a exemplo do colega de quarto de Openheimer. 

Mas como fazer? Sabemos das carências e prioridades das escolas e outros setores do nosso País.

Um dos modelos que encontrei em minha pesquisa, utilizado no Estado do Paraná, pareceu-me um bom método de trabalho e das melhores formas de solução e inclusão desta população sem prejuízo aos demais. (basta saber se não está posta apenas no papel)

O aluno SD frequenta a aula regular e, em contraturno, recebe atendimento diferenciado através de um serviço de apoio especializado para enriquecimento curricular, de acordo com a área de maior habilidade e interesse do aluno. Este atendimento pode variar conforme a disponibilidade ou possibilidade de cada instituição escolar.

 Atualmente, os serviços de atendimento, mais comumente oferecidos pelas instituições de ensino no Brasil, são as Salas de Recursos e os Centros de Atendimento Especializado.



Mas como se sente um superdotado em seu convívio social?


Algumas das características apresentadas podem trazer, ao indivíduo SD, desajustes sociais ou emocionais, pela forma como se manifestam ou como são interpretadas pelas pessoas de seu convívio.

Por exemplo: o aluno curioso, na sala de aula, que faz perguntas às quais o professor tem dificuldades em responder, pode ser considerado exibido pelos colegas e inconveniente pelo professor.

Podem se sentir fora de sincronia com relação ao seu desenvolvimento físico e intelectual. Sentem-se como se estivessem a frente de seu tempo, interessam-se por assuntos diversos daqueles escolares (muito fáceis para eles, ficam alheios ao meio), preferem companhia de crianças mais velhas (mais próximas de sua idade mental).

Muitas vezes, na expectativa de serem aceitos, essas crianças escondem suas altas habilidades, ou, simplesmente ficam abaixo da  média no seu rendimento escolar por possuírem outras características que não as acadêmicas e intelectuais, como:

·      Boa capacidade de fala, demonstrando rapidez de pensamento,

·      Habilidade para aprofundar as ideias de outras pessoas e aplicar o que aprendeu em situações diferentes;

·      Capacidade de argumentar e justificar seu ponto de vista com facilidade;

·      Trabalho escrito insatisfatório, tendência para deixar suas tarefas incompletas, desorganizadas e fazer o mínimo necessário para aprovação;

·      Demonstração de estarem entediadas, letárgicas, desinteressadas e ansiosas para terminar as aulas;

·      Demonstração de serem inquietas e desatentas;

·      Capacidade de manipular outras pessoas e situações;

·      Capacidade de elaborar questões inquiridoras e talvez provocativas e desafiadoras;

Essas crianças acabam por desconhecer o alcance de suas próprias habilidades e não sentem prazer no ambiente escolar.

Segundo o Grupo Columbus2, da Universidade de Columbus, Ohio (EUA), A superdotação contém tanto uma sub-estrutura cognitiva quanto uma emocional que faz com que a criança superdotada não somente pense diferente de seus colegas, mas também sinta de forma diferente. Com tal organização cognitiva pode apresentar alto nível de organização emocional. Assim, em um momento ela pode demonstrar um grande avanço emocional, e em outros momentos, grande imaturidade.

Muitos acreditam que a criança superdotada sempre terá sucesso na vida, independente das condições ambientais a que está sujeita. Comportamentos de superdotação podem ser exibidos em certas crianças, em alguns momentos  e sob certas circunstâncias de sua vida. Estes comportamentos aparecem quando a criança apresenta uma interação entre três conjuntos de traços: habilidade acima da média, motivação,  criatividade.

A persistência em atingir um objetivo, a auto-confiança e a vontade realizar uma tarefa que leve essa criança a realizar algo e  que a façam  se tornar um adulto produtivo.

Talvez por esse motivo pessoas desabrochem mais tarde, às vezes, já adultas, a exemplo de Darwin e Stravinsky, que tiveram um desabrochar tardio.

Por outro lado a falta de estímulo e falta de reconhecimento das habilidades poderão concorrer para o desuso dessas habilidades e consequentemente sua estagnação.



________________

2. Fonte: Virgolim, A.M.R. (2003). A criança superdotada e a questão da diferença: Um olhar sobre suas necessidades emocionais, sociais e cognitivas. Linhas críticas, 9, 16 (13-31).





E como fica a questão genialidade x loucura?


Muitas vezes confundida uma com a outra, as pessoas ditas comuns não conseguem alcançar a grandeza, a altura, a profundidade (qual seria o termo apropriado?) do pensamento dessas pessoas consideradas gênios.

Mozart aos 4 anos se apresentavam para o público, ao piano, suas próprias composições, assim cresceu, abandonou os estudos condicionais e dedicou-se só a música. Já adulto tinha comportamentos excêntricos, oscilações de humor e fixação nas funções excretórias, não escondia seu fascínio por fezes e ânus, colocando-os, inclusive em suas óperas. Em uma sociedade tão recatada e cheia de pudores, pelo menos na aparência, era considerado “louco    “.

Beethoven tinha dificuldade em aprender aritmética, era egocêntrico, retraído, depressivo, mas a surdez foi seu grande problema, o levou por vezes a ideação suicida. Mesmo assim, em meio a constantes alterações de humor, queixumes, dores abdominais, colite, stress, hipocondria, crises depressivas, se lança em um grandioso processo de criação musical, onde imprime seu estilo pessoal, produzido claramente pelo seu psiquismo somático e atormentado.

Van Gogh, o pintor dos tons amarelos e vermelhos, das telas empasteladas de tinta, pintou mais de quatrocentas, talvez seja o melhor exemplo de “gênio louco” da nossa história. Sofria de crises agudas de paranoia, viva às expensas de um irmão mais novo, cortou uma orelha em meio ao desespero do não reconhecimento do seu talento e suicidou-se com um tiro no peito. 

Mas, vamos falar de gênios  atuais e histórias não trágicas, eu diria que de sucesso. Afinal na contemporaneidade, a loucura não existe, ela é apenas um ponto de vista.

Não poderia deixar de falar em Einstein, criador da Teoria da Relatividade, que começou sua jornada com estudos de Física Ótica, velocidade da luz, pessoas viajando em raios, e outros devaneios. Não fosse seus estudos não estaríamos usando células fotoelétricas em  portas de repartições públicas, bancos, shoppings, que se abrem automaticamente  com o simples aproximar de uma pessoa. E Einstein foi reprovado na prova de admissão da  Escola Politécnica de Zurique, aos dezesseis anos. Por muito tempo foi considerado aluno medíocre e desajustado, por um erro de avaliação de seus boletins, quando na verdade era um prodígio em física. E por que será o uso daquele cabelo? Seria loucura ou genialidade? Ou não sabia para que servia um pente de cabelo?

Vindo mais para perto na linha do tempo, lendo uma reportagem de 2008, tomei conhecimento da existência de duas mentes brilhantes – Kim Peek e Daniel Tamet.

Peek, americano, 57, anos, lê um livro de 300 páginas em 40 minutos. Já leu 9 mil livros em toda sua vida. Detalhe – não esquece e, nem esqueceu nada do que leu. Sabe contar todas as histórias, recita trechos da bíblia, alcorão, o nome dos presidentes (todos) e suas esposas, datas.

Tamet, inglês, 29 anos, muito tímido, tem sua própria matemática. Faz contas inacreditáveis. Qualquer conta, com números estratosféricos,  que se peça para ele resolver, o faz na hora, sem decorar, ou usar calculadora ou coisa do tipo. Perguntado o resultado de 27 elevado à 5ª potência, respondeu prontamente - 10 460 353 203. E não é só com números que Daniel Tamet é hábil, com línguas também. Fala fluentemente 11 idiomas. Desafiado a aprender islandês em uma semana, em um talkshow, uma semana depois se apresentou falando a tal língua com perfeição.

O que esse dois habilidosos cidadãos tem em comum além de suas altas habilidades, são, também, um diagnóstico e autismo.

Kim não sabe abotoar a camisa e Tamet não consegue pegar um ônibus sem se perder.

Combinar uma deficiência intelectual com algum tipo de genialidade ou alta habilidade é conhecido como Síndrome de Savant. Essas pessoas são chamadas de “savants”.

O savantismo envolve uma forma diferente de memorização, é uma forma inconsciente de raciocinar. Fazem contas com 20 algarismos mas não conseguem fazer contas simples com 4 ou 5 algarismos. É inconcebível fazer conscientemente operações matemáticas com tantos algarismos.

Em geral esses indivíduos são 10 % dos autistas. Podem também ser diagnosticados com síndrome de Asperger, como é o caso de Tamet.

Estamos diante de casos diagnosticados e acompanhados pela ciência, o intuito é evitar danos maiores a esses indivíduos, psicológicos e sociais.

A sociedade os vê com curiosidade e muitas vezes a família os exibe como atração circense.

O cuidado no trato de pessoas especiais se faz necessário para não se perde-las e não se repetir a história já vista, a exemplo de Van Gogh, Beethoven e outros.

Será que temos um savant adormecido em nós?







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