sábado, 22 de dezembro de 2012

O ESTRESSE, O SISTEMA IMUNOLÓGICO E O CÉREBRO

PSICONEUROIMUNOLOGIA: O ESTRESSE, O SISTEMA IMUNOLÓGICO E O CÉREBRO


Um marco importante no estudo do estresse e da saúde adveio da descoberta de que o estresse pode reduzir a resisistência a infecções. Esse achado teve grande impacto sobre o campo da psicologia, pois mostrou que o estresse  desempenha papel em doenças infecciosas que, até então, eram consideradas "estritamente físicas".
 Dessa forma, abriu-se vasta área da medicina ao estímulo de entrada psicológico. As implicações teóricas e clínicas do achado de que o estresse aumenta a suscetibilidade a infecções foram tão grandes que a descoberta contribuiu, no começo da década de 1980, para o surgimento de novo campo de pesquisas biopsicológicas. Esse campo é a psiconeuroimunologia – estudo de interações entre fatores psicológicos, o sistema nervoso e o sistema imunológico,  Maier, Watkins e Fleshner, (1994). A pesquisa psiconeuroimunológica concentra-se em questões importantes, discutidas mais adiante nesta seção.  Em primeiro lugar, apresentaremos introdução ao sistema imunológico.

O Sistema Imunológico
 Microrganismos de todos os tipos deleitam-se no clima quente, úmido e nutritivo do seu corpo. O seu sistema imunológico impede que o corpo seja dominado por esses invasores. Antes que ele possa tomar qualquer atitude contra o microrganismo invasor, o sistema imunológico deve ter algum modo de distinguir células estranhas das células do corpo. E por isso que os antígenos - moléculas protéicas na superfície de cada célula a identificam como nativa ou estranha desempenham papel importante em certas reações imunológicas (ver Beck e Habicht, 1996; Nossal, 1993).

As barreiras do sistema imunológico às infecções são de dois tipos. Em primeiro lugar, estão as barreiras não-específicas, que agem de forma rápida e geral contra a maioria dos invasores. Essas barreiras incluem membranas mucosas. Elas destroem muitos microrganismos estranhos e a fagocitose – o processo no qual microrganismos estranhos e resíduos são consumidos e destruídos por [agôcitos (células corporais especializadas que consomem microrganismos estranhos e resíduos). 

Em segundo, existem barreiras específicas, que agem de maneira específica contra certas formas de invasores, divididas em dois tipos - mediadas por células e por anticorpos - cada um defendido por um tipo diferente de linfócitos. Os linfócitos são glóbulos brancos especializados produzidos na medula óssea e armazenados no sistema linfático. A imunidade mediada por células é dirigida pelas células T (linfócitos T), e a imunidade mediada por anticorpos é dirigida pelas células B (linfócitos B). A reação imunológica mediada pelas células começa quando um macrófago - tipo de fagócito grande - ingere algum microrganismo estranho. O macrófago, então, apresenta os antígenos do microrganismo na superfície de sua membrana celular. Isso atrai células T. Cada célula T tem dois tipos de receptores em sua superfície, um para moléculas encontradas na superfície de macrófagos e em outros corpos celulares, e uma para determinado antígeno estranho. Existem milhões de receptores diferentes para antígenos estranhos nas células T, mas apenas um em cada célula T e apenas algumas células T para cada tipo de receptor. Após o microrganismo ter sido ingerido e seus antígenos apresentados, uma célula T com um receptor para o antígeno estranho se liga à superfície do macrófago infectado. Inicia-se, então, uma série de reações. Entre essas reações, está a multiplicação da célula T que se liga ao macrófago, criando mais células T com receptores específicos necessários para destruir todos os invasores que contiverem os antígenos-alvo e as células corporais infectadas pelos invasores.

A reação imunológica mediada por anticorpos começa quando uma célula B liga-se a um antígeno estranho, para o qual contém o receptor apropriado. Isso faz com que a célula B se multiplique e sintetize uma forma letal de suas moléculas receptoras. Essas moléculas receptoras letais, os anticorpos, são liberadas no fluido intracelular, onde se ligam aos antígenos estranhos e destroem ou desativam os microrganismos que os contiverem. Células B com memória para o antígeno específico também são produzidas durante o processo. Essas células têm vida longa e imunidade mediada por anti-corpos acelerada, se houver infecção subseqüente pelo mesmo organismo.

Ambos os processos levam vários dias na primeira vez em que determinado antígeno estranho é reconhecido, mas respostas a invasões subsequentes de microrganismos com o mesmo antígeno são muito mais rápidas, graças às células T e B que possuem memória para eles. É por isso que a inoculação (injeção de pequenas amostras de microrganismo infeccioso em indivíduos saudáveis) muitas vezes funciona como medida preventiva eficaz contra os efeitos de infecções subsequentes (vacina). Agora que já apresentamos o sistema imunológico a você, é chegada a hora de examinarmos a pesquisa neuroimunológica. Ela se concentra nas três questões seguintes.

(continua)


Nenhum comentário:

Postar um comentário