terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O FAZER E A CONSCIÊNCIA


 O Fazer e a Consciência - RESENHA CRÍTICA


 O Fazer e a Consciência  O homem em movimento


        Lehninger, em seu tratado de Bioquímica, diferencia a matéria viva da matéria não-viva pelo fato de o organismo extrair e transformar a energia do seu meio ambiente em "uma relação funcional".  (Codo, 1987, p. 48).  Relação de dupla apropriação - a energia é retirada do meio para construir e manter a própria estrutura do organismo vivo.

“A sobrevivência de um organismo depende em última instância da capacidade física, biológica e psicológica de transformar o meio à sua imagem e semelhança e, portanto, de autotransformar-se à imagem e semelhança do meio. "  (Codo, 1987, p. 49)

“A Psicologia enquanto nos interessa mais de perto se preocupa com os mecanismos de sobrevivência do organismo em termos de percepção, aprendizagem, motivação, etc.” (Codo, 1987, p. 49)

O Homem produz sua própria existência.  Para tanto se relaciona com os outros, produzindo e sendo produzido pelo outro.

“Ao comer um tomate, por exemplo, o homem entra em relação de dupla apropriação com todo o planeta e com toda a história da Humanidade literalmente. "  (Codo, 1987, p. 49)

O homem não encontra o tomate pronto na natureza, tem que plantá-lo, para isso necessita da técnica e de um projeto. Necessita do outro.

            A técnica pressupõe uma divisão de trabalho tanto longitudinal quanto transversal. Transversalmente, o homem se divide para produzir, longitudinalmente, cada geração aperfeiçoa parte da técnica que o homem aprendeu.

“No cerne desta questão está o problema da divisão de trabalho, e é esta divisão de trabalho que permeia a linguagem, os instrumentos, o pensamento, a consciência.” (Codo, 1987, p. 51)

“Além das sensações, a apropriação da natureza produz a ação do homem, estabelece relações de contingência entre os comportamentos, dispõe o reforçamento... o fruto fornece um significado ao gesto e incorpora a ele uma finalidade.” (Codo, 1987, p. 51)

            O homem mantém uma relação dialética com a natureza, ele é transformado por ela enquanto a transforma a sua imagem e semelhança. Ao plantar o homem modifica para si o meio externo conforme sua necessidade e vontade.


            O uso de instrumentos de trabalho


            O instrumento de trabalho tem um caráter mediador, funciona como extensão do homem, ampliando seus gestos enquanto o eterniza.

O instrumento representa também um projeto, transformando uma reflexão em ação materializada, transcendente. 

            “Os meios de trabalho exercem a mediação entre a reflexão e a História... através do instrumento de trabalho o homem transforma a história dos homens e é transformado por ela... o instrumento é produtor e produto da abstração” (Codo, 1987, p. 53)

“Em suma, o instrumento de trabalho transforma o homem de animal em ser transcendente: através da ação mediatizada o homem transcende a si mesmo, em direção ao seu projeto, portanto em relação ao outro, portanto em direção à História”. (Codo, 1987, p. 54)


            O homem e o outro
            O trabalho exigiu do homem a convivência em grupos, o desenvolvimento da linguagem e a própria divisão do trabalho.

A divisão de trabalho une e separa os homens ao mesmo tempo.

“Se a caça é grande e perigosa o suficiente para que o homem não possa abate-Ia sozinho,se organizam grupos encarregados de abate-Ia e outros encarregados de espantá-Ia.” (Codo, 1987, p. 54)

Esta divisão de trabalho tende a se cristalizar, o que implica que percepções, abstrações e também consciências diferentes da realidade se estabeleçam em homens diferentes. Esses homens que, separados pelas atividades diferenciadas, acabam por se unir na execução do projeto e obtenção dos objetivos. O produto do seu trabalho fará a interligação entre os indivíduos para que possam sobreviver. Necessário se faz que cada um ceda a seus instintos imediatos para juntos executarem o projeto do grupo.

            A dialética união-separação é fundamental para o processo de conscientização.

“A construção de instrumentos imbricada com a linguagem permite que o engenho, a criatividade, a competência de um trabalhador em particular transcenda a si mesmo e passe a pertencer a toda a humanidade.”(Codo, 1987, p.55)

O instrumento é uma via de consciência do mundo e do social, pois, representa o homem, a história e toda a sociedade. Quanto mais a técnica é aperfeiçoada mais humano se torna o ambiente natural do homem. Hoje encontramos homens operando máquinas produzidas por máquinas através de eletricidades que não sabemos quando foi produzida pela primeira vez.

“Assim se promove um “afastamento” aparente que se concretiza por um poder cada vez maior sobre a natureza pela via social, vale dizer, histórica.” (Codo, 1987, p.55)

            O fenômeno da consciência se revela através da atividade humana, pela via do desenvolvimento da linguagem, dos instrumentos, do trabalho e da divisão do trabalho.

            Segundo Marx o trabalho é alienado, dividido entre trabalho intelectual e braçal, o gesto é expropriado da criação. O operário viverá o tempo todo entre a apropriação de si pelo mundo e a repropriação do mundo. Promovendo a ruptura da produção alienada (greve, por exemplo) há, também, a ruptura do isolamento de um indivíduo para com o outro. “A não produção produz um produtor ativo, de si, do outro, do mundo.” (Codo, 1987, p.56).  Pelo outro o sujeito  reencontra a si mesmo e o existir coletivo reencontra o sujeito individual.


Os homens transformam a natureza e são transformados na mesma medida, refletindo a cerca de sua forma de agir. Comunicando-se e sistematizando as suas experiências o homem produz sua própria existência.  Para tanto se relaciona com os outros, produzindo e sendo produzido pelo outro.

 Desta forma os homens fazem a sua história e a transformam.  A herança material e cultural das gerações anteriores é o ponto de partida para tal transformação.  O registro transforma-se em herança, base para tal criação.  Possibilita projetar novas formas culturais e materiais, superiores àquelas que já possui.

Os instrumentos de trabalho além de ser uma extensão do homem, são produto de uma herança cultural. Em um determinado momento da história surgiu o primeiro utensílio, que foi sendo aperfeiçoado a partir da experiência das necessidades dos indivíduos.

No centro de toda evolução (de simples instrumentos de trabalho até a atual tecnologia) sempre esteve a necessidade de sobrevivência do homem. O que impulsiona o avanço, as melhorias de um projeto, é a urgência que o homem tem de garantir sua sobrevivência, suprir suas necessidades (ou até mesmo conforto), que mudam com o tempo, conforme a cultura, a sociedade, os costumes, e as construções e representações que vão surgindo enquanto indivíduo e/ou grupo.

O trabalho exigiu do homem um tipo de organização social, a convivência em grupos, o desenvolvimento da linguagem e a própria divisão do trabalho. A partir do trabalho o homem construiu sua própria subjetividade.

A divisão do trabalho produziu homens diferentes, com percepções, abstrações e também consciências diferentes da realidade. Separados pelas atividades, acabam por se unir na realização do projeto e obtenção de um objetivo – a garantia da sobrevivência de todos. A dialética união-separação é fundamental para o processo de conscientização.

O instrumento de trabalho é uma via de consciência do mundo - representa o homem e sua a história.

Quanto mais a técnica é aperfeiçoada mais humano se torna o ambiente natural do homem.

A consciência se revela através da atividade humana, que se dá pelo desenvolvimento da linguagem, dos instrumentos, do trabalho e da divisão do trabalho.

Segundo Marx o trabalho é alienado: dividido entre intelectual e braçal, o gesto é expropriado da criação.

Essa divisão é decorrente, provavelmente, da hierarquização de classes da sociedade, agravada pela imensa diferença social. Os trabalhadores pobres em termos materiais e culturais foram excluídos do acesso à educação formal. O trabalho torna-se segmentado e dividido - separado o intelectual do manual, sem que essa separação se dê por completo, obviamente, já que um não funciona sem o outro.

              O trabalhador alienado que, por um motivo qualquer (greve, por exemplo), interrompe a produção, interrompe também a alienação para com o outro.   Pelo outro o sujeito  reencontra a si mesmo e o existir coletivo reencontra o sujeito individual.


            

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