O funcionamento psíquico da mulher
nesse período mostra, assim, mudanças intensas, num curto espaço de tempo.
Temos, portanto, uma nova organização do funcionamento psíquico da mulher, que
Stern (1997) tão bem descreveu como “constelação da maternidade”. O que ele
propõe é que, ao engravidar, a mulher oferece uma resposta a esse processo, por
meio da criação de uma nova organização psíquica central. Essa nova forma de se
conduzir está presente durante esse período e, em alguns casos, permanece mesmo
após o nascimento do bebê. Stern relata a observação desse processo
especialmente nas mulheres primíparas,mas comenta que também ocorre nas demais
gestações.
Discursos Maternos
Assim, a gestante mostra algumas
preocupações básicas traduzidas por meio de discursos que relacionam experiências
internas e externa, nesse momento.
• O primeiro é o discurso da mãe com
sua própria mãe, especialmente com sua
mãe-como-mãe-para-ela-quando-criança, que traz consigo memórias e lembranças
dos cuidados e da relação com sua mãe.
• O segundo é o discurso consigo
mesma, especialmente ela-mesmacomo- mãe, que traz consigo todos os seus
projetos, suas incertezas e suas inquietações no desempenho de suas funções
maternas.
• O terceiro discurso é o da mãe com
seu bebê: trata-se das conversas internas da mãe com o bebê intra-útero,
que surgem das vivências ocorridas quando dos movimentos do bebê, das imagens
que a mãe vai formando dele em seu ventre.
À medida que esse bebê vai crescendo,
começam a surgir temas centrais relacionados a este processo:
• Tema de vida e crescimento: aqui a
questão central é se a mãe será ounão capaz de manter o bebê vivo, se ela
conseguirá fazer com que seu bebê cresça e se desenvolva fisicamente (isso é
que a faz levantar-se à noite para ver se o bebê está respirando, está dormindo
bem, que faz a
alimentação ser um assunto tão
importante para as mães). Também se refere aos medos que a mãe tem de doenças,
má-formações durante a gestação ou depois do nascimento. Envolve sua capacidade
de assumir um lugar na evolução da espécie, na cultura e na família.
• Tema de relacionar-se primário:
refere-se ao envolvimento social emocional da mãe com o bebê, sua capacidade de
amar, de sentir o bebê, de apresentar uma sensibilidade aumentada,
identificando-se com ele para responder melhor suas necessidades. Esse tema vai
estar presente
especialmente no primeiro ano de vida
do bebê, até que ele adquira a fala. Inclui o estabelecimento de laços humanos,
de apego, segurança e acompanha o funcionamento materno descrito por Winnicott
como preocupação materna primária.
• Tema de matriz de apoio: refere-se à
necessidade de a mãe criar, permitir, aceitar e regular uma rede de apoio
protetora para alcançar bons resultados nas duas primeiras tarefas – de manter
o bebê vivo e promover eu
desenvolvimento psíquico. Essa matriz de apoio que surge através de suas
figuras de referência (companheiro, mãe, parentes, vizinhos) constitui uma rede
maternal, com a função de protegê-la fisicamente, prover suas necessidades
vitais, afastá-la da realidade externa para que ela possa se ocupar de seu
bebê. A outra função refere-se ao apoio, ao acompanhamento da mãe para que ela
se sinta ajudada e instruída em suas novas funções nesse momento. Isso a leva a
aproximar-se de suas experiências de maternagem anteriores – com sua própria
mãe ou suas representantes.
• Tema da reorganização da identidade:
em essência, a mãe deve mudar seu centro de identidade de filha para mãe, de
esposa para progenitora, de profissional para mãe de família, de uma geração
para a precedente.
Portanto, ocorrem exigências de um novo trabalho mental – a
mulher, transformando-se em mãe, precisa alterar seus investimentos emocionais,
sua distribuição de tempo e energias, redimensionar suas atividades.
Fonte:
O
CASAL GRÁVIDO - A CONSTRUÇÃO DA PARENTALIDADE
Disponível em:
http://www.metodocanguru.org.br/manual_modulo2.pdf
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