quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

INFERTILIDADE E CONSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA


Aspectos psicológicos e sociais

Desde muito cedo em seu desenvolvimento, muitas pessoas constroem um projeto de vida: crescer, encontrar um par amoroso e com ele dar início a uma nova família, e nesse contexto, diferentes motivações podem dar origem ao desejo  de ter um filho.
Desejar ter filhos mas se deparar com uma impossibilidade nesse processo produz uma ampla gama de sentimentos, tais como medo, ansiedade, tristeza, frustração, desvalia, vergonha, desencadeando por vezes quadros de estresse importantes. A situação de infertilidade é capaz de provocar efeitos devastadores tanto na esfera individual como conjugal e desestabilizar as relações do sujeito com seu entorno social, podendo ocasionar um decréscimo na qualidade de vida.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que entre 60 e 80 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentem dificuldades para levar acabo seu projeto de paternidade e maternidade em algum momento de suas vidas e calcula-se que esse índice atinja aproximadamente 20% dos casais em idade reprodutiva. No ano de 2000, aproximadamente de 5,0 a 6,3 milhões de mulheres nos Estados Unidos apresentaram problemas de infertilidade, estimando-se para 2025 um incremento desse índice para 5,4 a 7,76 milhões (Klonoff-Cohen, Chu, Natarajan & Sieber, 2001).
O processo reprodutivo humano é bastante complexo, sendo estimado em 16,6% o resultado de gestação para um casal normal, após relação sexual em período ovulatório. Isso prova que a fertilidade humana é baixa se comparada a outras espécies. Considera-se infertilidade a falta de gravidez após um ano de relações sexuais sem nenhum método de anticoncepção (Badalotti & Petracco, 1997).
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) afirma que dentro do campo da saúde reprodutiva se encontram a esterilidade e a infertilidade, que representam uma situação carencial que, se não compromete a integridade física do indivíduo, pode incidir negativamente no desenvolvimento da pessoa, do casal e ter efeito desestabilizador sobre a personalidade. Estudiosos da aérea estão de acordo em admitir que a infertilidade para os sujeitos que atravessam esta problemática é uma experiência médica ou física - devido aos inúmeros procedimentos e exames aos quais são submetidos, psicológica - pela intensidade de dificuldades de ordem emocional desencadeadas, e social - uma vez que o convívio com a família, com casais com filhos e as relações laborais muitas vezessofrem prejuízos. Essa experiência por vezes requer a definição das identidades dos sujeitos como indivíduos e como casal (McDaniel, Hepworth & Loherty, 1992). Para Ribeiro (2004), o desejo de sermos pais como nossos pais floresce de nossa trama identificatória; e os sentidos possíveis de ser homem e de ser mulher perpassam as funções parentais. A capacidade de procriação parece ser um significativo referencial da identidade de gênero, o qual diante do diagnóstico de infertilidade exige um importante trabalho de elaboração psíquica para dar conta da possível alteração no projeto de parentalidade. É imperativo se ter em conta a transição desses casais de se verem esperançosos com a possibilidade da gravidez para o reconhecimento de seus limites para atingi-la. Para os casais que atravessam problemas de fertilidade, assim como para suas famílias, a biologia da reprodução não é um processo fácil, direto e linear. Vai além da escolha de um par amoroso, da interação sexual, da gravidez e do parto. A infertilidade pode desencadear a revivescência de antigos traumas, perdas, sentimentos de inadequação, ciúme, inveja, tudo dentro de um processo marcado por longos períodos de interação com profissionais médicos que terminam por se  envolver intimamente no sistema do casal. Esses problemas advêm de um intenso estresse devido à não realização da gravidez e das ilusões a ela relacionadas (Kusnetzoff, 1997).
Diante da perda ou da ameaça do poder de procriação, muitas vezes não se distingue o que causa maior sofrimento: a ausência do filho desejado ou os sentimentos de fracasso, de perda e de insegurança que invadem o indivíduo nessa situação. A infertilidade é sentida e vivida como um evento traumático para a maioria dos casais, sendo experienciada por eles como o evento mais estressante de suas vidas (Klonoff-Cohen et al., 2001). A pressão social e parental para a propagação do nome da família coloca um grande peso sobre os casais inférteis (Monga, Alexandrescu & Katz, 2004).
O alto valor colocado na família motiva inúmeros casais a se unirem. A inabilidade para realizar essa tarefa social coloca o casal que não consegue conceber sob forte pressão. O conceito de si mesmo se vê constituído sob a égide da desvalia e da incapacidade, chegando os indivíduos a se verem como defeituosos (Seibel &
Carvalho, 1998).
A esterilidade tem sido considerada uma experiência de dilaceração biográfica, caracterizada pelo sofrimento e pelos conflitos pessoais vividos pelos homens e mulheres que atravessam essa situação (Bury, 1982). A falta da concretização do projeto parental pode levar à ruptura do afeto colocado nesse filho desejado (Hardy, 1998).
A experiência de infertilidade pode gerar culpa e vergonha, muitas vezes produzindo um estigma social, que pode acarretar alienação e isolamento. Uma acentuada queda na auto-estima, carregada de sentimentos de inferioridade, é capaz de configurar quadros importantes de depressão e de ansiedade elevada,  podendo desencadear severas perturbações nas esferas emocional, da sexualidade e dos relacionamentos conjugais. Se considerarmos o conceito da OMS: “saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social, não se reduzindo a mera ausência de doença ou enfermidade”, podemos dizer que a infertilidade é um grave problema de saúde em muitos países em todo o mundo, pois incrementa severamente o sofrimento social (Daar et al., 2002).
A construção do projeto parental mesmo antes da concepção, o sujeito humano
tem no desejo de seus pais uma marca simbólica fundamental para sua futura constituição. Partir do campo do desejo para marcar a origem da vida significa sublinhar a transcendência da biologia quando trilhamos o campo da constituição do humano, destacando sua dimensão subjetiva. A constituição do desejo de maternidade e paternidade faz parte da cadeia simbólica constitutiva da própria identidade do sujeito. Nascemos emaranhados numa teia de desejos maternos e paternos (conscientes e inconscientes), carregando as marcas de estarmos vinculados a uma trama simbólica, que transcende a biologia, mas que por meio dela revela nosso pertencimento a uma família, a uma geração, a um lugar no mundo. Diversas motivações se encontram presentes no desejo de ter um filho, que pode ser a expressão de um ato criador e produtivo dentro de um vínculo fecundo do casal; podendo constituir um dos destinos possíveis para a realização da condição masculina e feminina. Segundo Freud (1914/1996), desejos de imortalidade, de se aperfeiçoar através do filho, de realizar antigos sonhos e projetos inalcançados podem se encontrar nas raízes do projeto parental. Assim como o projeto de parentalidade está ligado a aspectos saudáveis da vida de um indivíduo e de um casal, ele também pode ser buscado como saída para resolução de conflitos. Por exemplo, um filho pode estar sendo desejado para preencher lacunas na vida dos pais; para tentar salvar o casamento; para evitar a solidão e até mesmo para atender à pressão cultural e familiar, uma vez que filho é visto como um atributo de valor, potência e poder. O contexto reprodutivo é formado na história de cada indivíduo a partir de uma constelação de significantes inconscientes, de acontecimentos simbólicos, de elementos imaginários e reais que caracterizam a singularidade e a subjetividade da verdade de cada um. O fato de o desejo de maternidade e paternidade estar intimamente relacionado com as vivências singulares de cada sujeito indica que a experiência emocional da infertilidade igualmente terá um caráter eminentemente singular. A teoria psicodinâmica em muito tem contribuído para a compreensão dos conflitos vivenciados pelos casais inférteis, contudo as pesquisas atuais realizadas nesse campo possuem referenciais teórico e terapêutico diversos que devem ser considerados. Dentre os fenômenos que têm merecido maior atenção por parte dos pesquisadores, encontram-se a ansiedade, a depressão e o estresse.


RIBEIRO, Marina. Infertilidade e reprodução assistida: desejando filhos na família contemporânea. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
Revista Brasileira de Ginecologia & Obstetrícia. Rio de Janeiro:  v.29, n.2, fev., 2007.
<Disponível em:>
http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/epc/v23n4/v23n4a11.pdf


Infertilidade


Infertilidade é um distúrbio ou condição do sistema reprodutivo masculino ou feminino que reduz a capacidade de ter filhos. Um casal é considerado infértil quando não consegue conceber num período de 12 a 18 meses, sem uso de métodos anticoncepcionais, mantendo relações sexuais freqüentes. Nos EUA, considera-se infértil o casal que não engravida após um ano de relacionamento sexual sem contraceptivos.
As estatísticas mostram que 20% dos casais em idade fértil experimentam dificuldades para gerar filhos. Pelo menos metade desse contingente precisará recorrer a tratamentos com técnicas mais avançadas, como a fertilização in vitro. A chance de um casal conceber por meios naturais, mantendo relações sexuais no dia fértil da mulher, é de 20% ao mês. Com a reprodução assistida, a taxa de nascimentos pode chegar a 55% por tentativa em mulheres de até 35 anos.

Definições importantes:

Infertilidade Primária: Infertilidade sem ocorrência de gravidez anterior.
Infertilidade Secundária: Quando já houve gravidez anterior.
Esterilidade: Quando não existe mais chance de gravidez. Embora as palavras sejam empregadas como sinônimos, esterilidade é diferente de infertilidade, que se caracteriza pela redução da capacidade de conceber. A maioria dos casais que não tem filhos e enfrenta dificuldades para engravidar é infértil e não estéril.

Infertilidade feminina
 Principais fatores:

Idade
O decréscimo da fertilidade com o passar do tempo é um fato biológico. A diminuição das chances de engravidar ocorre em conseqüência das mudanças normais que acompanham o envelhecimento. As mulheres nascem com um número limitado de óvulos e, como não há formação de óvulos novos durante a vida, esse estoque cai progressivamente com o tempo. Nos seus primeiros anos de maturidade reprodutiva, uma mulher tem até 400 mil óvulos; aos 40 anos, o número já se reduziu a menos de 50 mil. Quando chega à menopausa, cai quase a zero. Além disso, à medida que as mulheres envelhecem, a qualidade de seus óvulos piora e eles passam a ter menor capacidade de fecundação.

Alterações nas trompas
As obstruções nas trompas, também chamadas de tubas, são provavelmente as campeãs na incidência de infertilidade feminina. Podem ocorrer como seqüela de infecções e endometriose ou serem provocadas intencionalmente por laqueadura. As trompas desempenham um papel decisivo na fecundação, pois este é o local onde se dá o encontro do óvulo com o espermatozóide. Após a fertilização, as trompas têm também a função de conduzir o embrião recém-formado para o útero. Portanto, não pode haver obstáculo no caminho, tanto para a chegada do espermatozóide até o óvulo quanto para a jornada do embrião até a "casa" que hospedará seu desenvolvimento durante a gestação.

Aderência pélvica
Inflamações resultantes de infecções e cirurgias no peritônio - a capa muscular que envolve toda a cavidade abdominal e comporta tanto o intestino e outros órgãos abdominais quanto os órgãos reprodutores - podem se estender às trompas, provocando aderências. Quando isso ocorre, elas "grudam" no peritônio e perdem a mobilidade. Ficam impedidas de colher o óvulo maduro que, depois de liberado pelo ovário, cai na cavidade abdominal. Quando a tuba não consegue recolhê-lo, o óvulo se perde e é reabsorvido pelo organismo.


Fatores uterinos
O útero é um pequeno órgão formado por músculos, dotado de uma fantástica elasticidade. Na gravidez ele é capaz de aumentar muitas vezes suas dimensões normais. O endométrio, seu revestimento interno, é preparado a cada ciclo menstrual para abrigar uma gestação. Se ela não acontece, o endométrio é expelido em forma de menstruação. Diversas alterações podem afetar a cavidade do útero, dificultando ou impedindo a gravidez. A presença de miomas (tumores benignos da parede uterina) ou pólipos (tecidos porosos que se desenvolvem no endométrio) pode causar protuberâncias que impedem a fixação do embrião.

Fatores hormonais ou ovulatórios
Distúrbios hormonais que afetam a ovulação são relativamente comuns e o melhor exemplo é a ausência de ovulação (anovulação). Ela ocorre quando os ovários não liberam óvulos por falhas nos mecanismos hormonais que regulam o ciclo reprodutivo. Outro problema freqüente é a deficiência do corpo lúteo, um tecido presente no óvulo fertilizado, responsável pela nutrição do embrião e por manter a gravidez antes que ele se fixe no útero. O corpo lúteo é encarregado também de promover o cancelamento da menstruação, mas nem sempre produz os hormônios necessários à realização dessa tarefa.

Endometriose
Uma das mais perversas causas de infertilidade, acarreta problemas similares aos das aderências pélvicas. É considerada uma doença dos tempos modernos, cuja incidência aumenta ano a ano, principalmente em decorrência de estresse. A endometriose se inicia quando, durante a menstruação, alguns fragmentos do endométrio se desprendem do útero, passam pelas tubas e caem na cavidade abdominal. Em condições normais, todo mês o sistema imunológico aciona um mecanismo de varredura destinado a remover esse fragmentos que se desviaram do caminho. Mas às vezes esse mecanismo deixa de funcionar e os fragmentos se instalam em vários pontos do abdome, causando lesões, cistos e reações inflamatórias que podem formar cicatrizes e aderências. A endometriose dificulta a implantação do embrião no útero e aumenta as chances de abortament

Infertilidade Masculina

Principais fatores:

Infecções e inflamações
Quando atingem as vesículas seminais ou a próstata - as glândulas responsáveis pela produção do líquido seminal -podem alterar as características químicas do sêmen ou possibilitar a ação direta de microorganismos sobre ele. Existe ainda o risco desses processos se alastrarem para os testículos ou para os canais que transportam os espermatozóides e o próprio líquido seminal. Seja qual for o caso, o efeito é o mesmo: infecções e inflamações afetam a mobilidade dos espermatozóides, podendo até imobiliza-los por completo. Além disso, podem obstruir os canais que conduzem os espermatozóides, impedindo sua liberação
para o sistema genital feminino.

Alterações hormonais
Predisposição genética, tumores, medicamentos - como os de controle da hipertensão - e certas doenças podem alterar o equilíbrio hormonal masculino, com reflexos diretos sobre a fertilidade. A baixa produção de testosterona, por exemplo, um dos problemas mais comuns, reduz a produção de espermatozóides e afeta sua qualidade.
Quantidade e qualidade dos espermatozóides
Diminuição da quantidade, assim como alterações da qualidade ou da forma dos espermatozóides são responsáveis por 90% dos casos de infertilidade masculina. Denomina-se oligozoospermia a contagem de espermatozóides abaixo de 20 milhões/ml de sêmen. Já a ausência de espermatozóide no sêmen é chamada de azoospermia.

Varicocele
Trata-se da formação de varizes nas veias da região escrotal, onde estão alojados os testículos. As dilatações dessas veias prejudicam o fluxo sanguíneo local, a troca de nutrientes e levam ao acúmulo de substâncias tóxicas e ao aumento de temperatura. Esses fatores produzem oligozoospermia - a diminuição do volume de produção dos espermatozóides e de sua qualidade

Distúbios imunológicos

Em condições normais, os espermatozóides permanecem confinados no interior dos testículos, sem contato com a circulação sanguínea. Mas traumas, infecções ou vasectomia podem romper esse isolamento, fazendo com que o próprio organismo, por identificá-los como agentes externos, produza anticorpos para combater os espermatozóides.



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