segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

INTRODUÇÃO À OBRA DE FRANÇOISE DOLTO


INTRODUÇÃO À OBRA DE FRANÇOISE DOLTO


Francoise Dolto fazia parte do círculo de analistas de Jacques Lacan, onde compartilhavam talento, carisma e um desgosto pelas instituições de rigidez teóricas. O talento dela para a escuta da infância deu-se logo após defender sua tese de medicina em 1939 sobre o tema das relações entre a psicanálise e pediatria.
           Dolto utilizou um método com as crianças que consistia em abandonar a técnica da brincadeira e da interpretação dos desenhos e praticar uma escuta capaz de traduzir a linguagem infantil. Segundo Dolto, o psicanalista devia usar as mesmas palavras das crianças e comunicar-lhe os seus próprios pensamentos de forma real.
           Alguns temas específicos permearam toda sua obra. Sobre a linguagem e comunicação ela dizia que o ser humano é um ser de “filiação linguajeira”, um ser de linguagem pertencente a uma linhagem. O ser humano é um ser de comunicação. A verdadeira relação única e simbólica é a relação da fala.  O lactente tem um desejo de comunicação interpsíquica; a comunicação se origina no desejo. E o objeto de desejo já existe desde as primeiras respirações do bebê.
           A função paterna para Dolto é fundadora do ser humano. Essa função se exerce no seio de uma relação inter-humana, dentro de um espaço triangular, ela diz, “há que haver uma triangulação, para que o sujeito fale de si num eu referido a um ele”.
           Sobre a Castração dizia ser humanizante. Para ela, sem a proibição do incesto não seríamos seres da linguagem. Castrações é uma provação, mas são também promessas e experiências implantadoras: no mundo humano (castração umbilical), na presença sexual (castração primária) e no mundo da cultura (proibição do incesto e castração edípica). A renuncia a um objeto desejado, a um fazer até então permitido, permite uma simbolização adjacente, um circuito mais elaborado de comunicação.A proibição autoriza e dá frutos.
           Considerou o Édipo como um movimento pulsional, uma encruzilhada estrutural. A criança não pode ocupar, sem prejuízo, o lugar do pai ou de um objeto erótico na economia libidinal da mãe.
            Em Dolto, a psicopatologia da criança é apreendida numa resolução com todos esses temas: segurança básica violentada, perda de ritmo, ausência de palavras e trocas lúdicas, não-ditos, experiências vividas sem palavras explicativas, castrações não impostas ou superadas, angústias e fixações neuróticas dos pais e resolução difícil ou impossível do Édipo. As crianças, nos primórdios do saber, devem ser respeitadas em suas características expressivas e em suas fantasias. Deve-se reconhecê-las como sujeitos do desejo, de ouvi-las em sua verdade, através de suas palavras e de seus sintomas. Esses sintomas são mensagens a decodificar.
             Dolto, ao criar a “boneca flor”(1949), integrou à sua prática a técnica dos jogos e, embora não tivesse conhecimento, na época dos trabalhos de Melanie Klein, referia-se de maneira sutil a uma clínica das relações de objeto. Através dessa “boneca flor”, sairia a representação particular que Dolto faria da imagem do corpo,mais próxima da concepção lacaniana do estádio do espelho.
 Publicou, também, depois de conturbados problemas que a impossibilitaram de ensinar, o material gráfico e verbal, com suas intervenções e associações, do tratamento de um adolescente de 14 anos, “O Caso Dominique”.
             No ano de 1979, Dolto criou em Paris a primeira “Casa Verde”( uma casa intermediária entre o lar familiar e a creche ou a escola maternal), para acolher crianças até a idade de três anos, acompanhadas dos pais. Segundo Dolto, “trata-se de evitar os traumas que  marcam a entrada na pré-escola e de manter a segurança que a criança adquiriu no nascimento”.
             Através da sua força intuitiva, havia uma maneira particular de Dolto compreender os eventos psíquicos. Para ela as crianças devem ser respeitadas em suas características expressivas e em sua fantasia, cabendo aos psicanalistas reconhecê-las como sujeitos desejantes e ver em seus sintomas mensagens a serem decifradas que exprimem a singularidade de sua verdade e sua história.

Fontes:
Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan/ Sob a direção de J-D Nasio, com as contribuições de A. – M. Arcangioli...[ET AL]; tradução, Vera Ribeiro, revisão marcos Comaru. Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed. 1995.
<http://www.espacopsicanalitico.com.br/Dolto.htm>

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