sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Psicossomática – parte 2



PENSAMENTO OPERATÓRIO: CARêNCIA FANTASMÁTICA E REATIVIDADE ORGÂNICA -  Psicossomática

Por   Rodrigo Sanches Peres                 
                                                                

Em função dos achados oriundos de seus trabalhos clínicos, Marty e M'Uzan (1962/1994) apontaram que usualmente pacientes somáticos apresentam pensamentos superficiais,... estreitamente vinculados à materialidade dos fatos... se caracterizam por um comprometimento da capacidade de simbolização. ...o que denota a existência de uma carência funcional do psiquismo (Horn & Almeida, 2003; Silva & Caldeira, 1993).
Condutas pouco elaboradas do ponto de vista psíquico são então adotadas para minimizar o impacto causado pelas excitações. Isso sugere que o inconsciente não consegue se comunicar mediante o emprego de representações e tende a encontrar no comportamento sua única possibilidade de expressão...
Marty (1998) salienta também que pacientes somáticos geralmente estabelecem vínculos afetivos pouco significativos e sustentam relacionamentos superficiais. Não obstante, em contraste com o que se observa nos casos de neurose obsessiva, essa tendência não se deve à manipulação do material psíquico, já que, como apontado anteriormente, uma importante restrição da capacidade de simbolização os acomete. A propensão ao distanciamento e à manutenção de "relações brancas", portanto, se encontra associada às identificações esquemáticas que amiúde são estabelecidas pelos indivíduos em pauta devido à escassez de seus investimentos libidinais.
Tendo em vista o que precede, Marty e M'Uzan (1962/1994) propuseram que pacientes somáticos comumente apresentam um funcionamento psíquico que se situa entre as neuroses e as psicoses.

Entretanto, os comportamentos podem, como propôs Freud (1913/1996), substituir a linguagem e o pensamento e promover de forma relativamente satisfatória a descarga das tensões. Por essa razão, não raro os indivíduos operatórios conseguem, graças à orientação para a ação que apresentam, se proteger da eclosão de afecções orgânicas. Ademais, muitos pacientes somáticos não demonstram qualquer indício de funcionamento operatório. Isso acontece porque o adoecimento, como não se pode perder de vista, é um processo complexo, cujo curso, determinado pela interação de diversos fatores, é irredutível a um único padrão.

pensamento operatório coloca em xeque a suposta capacidade ilimitada de elaboração psíquica da qual, segundo Freud (1914/1996), o homem pode se beneficiar às custas do processo de reprodução inconsciente de experiências penosas desencadeado pela compulsão à repetição.

É preciso reconhecer, por fim, que Marty e seus colaboradores não elaboraram hipóteses suficientemente esclarecedoras acerca da etiologia do pensamento operatório. O que se postula é que esse modo de funcionamento psíquico se encontra intimamente relacionado a desarmonias afetivas ocorridas na primeira infância em virtude do desempenho inapropriado — excessivo ou insuficiente — da função materna (Marty, 1998). Nesse sentido, pode-se propor que, na maior parte dos casos, indivíduos operatórios foram educados por mães autoritárias, deprimidas, negligentes, superprotetoras ou que, devido a qualquer outro motivo, não se mostraram capazes de proteger seus filhos das tensões que os acometeram no início da vida.


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