segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Falando de Personalidade - O CASO HUGH GRANT


SOB A ÓTICA DA PSICANÁLISE  

O ego de Hugh Grant
 Eram 1h30 da madrugada em Los  Angeles. Um homem voltava para casa após um demorado jantar. Descendo a Sunset Strip em sua BMW branca,  viu uma mulher caminhando. Parou o carro e deu-lhe 45 dólares. Ela entrou no carro e em seguida ele o estacionou em uma rua secundária. Quando já estavam no banco de trás, um carro da polícia aproximou-se; o policial fez algumas perguntas e imediatamente prendeu o casal. Essa teria sido uma noite comum em Los Angeles, não fosse o fato de o homem na fotografia de identificação tirada pela polícia ser o ator Hugh Grant. Uma celebridade naquele momento, Grant já havia estrelado uma série de filmes de sucesso. Não apenas sua carreira de ator chegava ao ponto máximo tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, mas sua vida pessoal igualmente estava no ápice; Grant estava noivo de sua namorada de vários
anos, Elizabeth Hurley, porta-voz da Estée Lauder. Então, por que esse indivíduo, de 34 anos, que alcançara o estrelato e estava noivo de uma top model arriscaria sua imagem de homem, no topo da carreira, para usar uma prostituta na rua? Para Grant, Stella Thompson (também conhecida por "Divine Brown"). segundo boatos, era a imagem de suas fantasias sexuais. Ela era morena, sensual e ilegal. Como fantasia, Divine Brown pode ter simbolizado algo que Grant, ao crescer, sentiu que não podia ter. Por ser visto pela mãe, uma professora de inglês, como um adolescente educado que mais tarde faria um curso superior, em Oxford, Grant provavelmente era controlado e guiado por valores socialmente conservadores. Ele chegou a admitir que havia crescido desejando algo que não podia ter, ou, mais exatamente, alguém ou um tipo de pessoa. Isso foi ilustrado pela lembrança de que ele sempre tinha intensa e passageira paixão por líderes de torcida, principalmente as católicas. Os psicanalistas possivelmente diriam que Grant cresceu com o conflito interno entre o id, que deseja fantasias proibidas, e o superego, que (normalmente) reprimiu nele esse arquétipo de fruto proibido. O ego de Grant não estava apto a negociar uma  conciliação perfeita para o id (a despeito de Elizabeth Hurley) porque não é possível ter essas mulheres proibidas de maneira social e moralmente aceitável. Porém, à medida que Grant foi ficando mais famoso, o id, ainda disposto a conseguir tudo, passou a exercer influência ainda maior. Além disso, Grant não havia tido nenhum problema de comportamento nos últimos tempos portanto, talvez seu superego estivesse desarmado; para ele, as restrições da sociedade não eram proeminentes. Mas foi seu ego que o desamparou. Vários atores de sucesso de Hollywood desenvolvem problemas de ego. Em vez de lidar com os desafios para atingir a maturidade e a sabedoria, eles nadam em adulações falsas e superficiais de um público afetuoso que vê a imagem deles, mas não enxergam a verdadeira personalidade.
Alguns anos depois desse incidente, Grant afirmou em uma entrevista que detesta atuar e queria ter escolhido o que considera, honestamente, um caminho mais criativo como escrever roteiros ou livros. Contudo, como ele mesmo admitiu, acha que lhe falta a auto disciplina para assumir essa tarefa. E, a despeito de sua separação pública de Elizabeth Hurley, Grant acredita que eles mantêm uma relação de dependência mútua,e que ele realmente não consegue atuar sem ela. Essa insatisfação, tanto com a carreira quanto com o amor, encaixa-se no conceito de deficiência do ego. Quando estava descendo a Sunset Boulevard, Hugh Grant foi seduzido pelo antigo desejo de ter o que era moral e socialmente inaceitável – a mulher proibida, mas sexualmente atraente. Ele tinha dinheiro, era importante, admirado por todos, então, por que não? Com um ego bem desenvolvido que analisasse a realidade e dissesse para ele que sua indulgência era irracional, desleal com sua noiva, ilegal, perigosa e maluca, ele não teria parado o carro. A teoria psicanalítica defenderia que todo esse fiasco podia ser remontado a um dos primeiros desejos do id de Grant, reprimido pelo superego. No entanto, os neo-analistas focalizam mais o ego de Hugh Grant - sua percepção de quem ele era e do que deveria estar fazendo. Grant tinha tudo e estava habituado a conseguir o que desejava. Por que não parar?


Fonte:
Friedman & Shustack - Teorias da Personalidade


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