segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

DESENVOLVIMENTO – WINNNICOTT, LEBOVICI, ABERASTURY


Desenvolvimento – Winnnicott, Lebovici, Aberastury

Para Piaget, o jogo é essencial na vida da criança, pois prevalece a assimilação. No jogo, a criança se apropria daquilo que percebe da realidade. Defende que o jogo não é determinante nas modificações das estruturas, mas pode transformar a realidade.
Piaget classifica em fases o desenvolvimento do jogo na criança:
Primeira fase: adaptações puramente reflexas. A criança age conforme os instintos essenciais, como por exemplo, a sucção como refeição.
Segunda fase: as condutas adaptativas continuam, mas começam com uma diferenciação: a dualidade. Como exemplo, temos os jogos da voz, as primeiras lalações.
Um esquema jamais é por si mesmo lúdico, ou não-lúdico, e o seu caráter de jogo só provem do contexto ou do funcionamento atual. Mas todos os esquemas são suscetíveis de dar lugar a essa assimilação pura, cuja forma extrema é o jogo.
Terceira fase ou fase das relações circulares secundárias: o processo se mantém inalterado, mas a diferença entre jogo e assimilação intelectual é mais nítida. Nesta fase a criança aprende a manipular objetos, descobre que eles fazem barulho. O Jogo é compreendido e não oferece mais novidade.
Quarta fase ou fase da coordenação dos esquemas secundários: prolongam-se as manifestações lúdicas, pois elas são executadas por pura assimilação, por prazer e sem esforço, tendo em vista atingir uma finalidade. Esta modalidade de esquema permite a formação de verdadeiras combinações lúdicas, passando de um esquema a outro para assegurar-se deles, e sem esforço de adaptação. Consiste em repetir e associar os esquemas já constituídos, com um fio não lúdico.
Quinta fase: acontece a transição entre as condutas rituais e o símbolo lúdico, onde as manifestações aparecem com uma fertilidade muito maior de combinações. O jogo se apresenta como uma ampliação da função de assimilação, para além dos limites da adaptação atual.
Sexta fase: nesta fase o lúdico desliga-se do ritual, sob a forma de esquemas simbólicos, graças ao progresso de sua representação. Isso se concretiza quando a inteligência experimental passa a uma combinação mental, a imitação externa à imitação interna. Há símbolos, e não apenas um jogo motor, porque há assimilação fictícia de um objeto ao esquema, o seu exercício resulta na acomodação.
Piaget classifica os jogos segundo sua evolução, em três grandes estruturas: jogos de exercício, simbólicos e de regras.
Jogo de exercício: A principal característica deste estágio, que Piaget classifica como período sensório-motor, é obter a satisfação de suas necessidades. Com a ampliação dos esquemas, a criança vai cada vez se tornando mais consciente de suas potencialidades, colocando em ação um conjunto de condutas, sem modificar as estruturas, onde as ações ficam dirigidas somente para atingir seu objetivo maior que é a prazer. Exemplo: O bebê mama não apenas para sobreviver, mas porque descobre o prazer de mamar, à medida que satisfaz sua fome. É isso que o faz chupar a chupeta, mesmo que não saia alimento nenhum, esse exercício lhe dá um enorme prazer.
O jogo de exercício é essencialmente sensório-motor, (aparece até mais ou menos dois anos de idade) portanto, o primeiro a aparecer na criança, mas também pode envolver as funções superiores de pensamento. Este jogo estará presente em todos os estágios da nossa vida, inclusive adulta, pois o prazer deve estar sempre presente em tudo que fazemos.
Jogo simbólico: Segundo Piaget, estes jogos fazem parte da fase pré-operatória (dos dois aos seis anos de idade), onde a criança, além do prazer, começa a utilizar a simbologia. A função simbólica já está estruturada e começa a fazer imagens mentais, já domina a linguagem falada. Exemplo: A criança tem a possibilidade de vivenciar aspectos da realidade, muitas vezes difícil de elaborar: a vinda de um irmãozinho, mudança de escola ou situações boas como: ser um super-homem, imitar a mãe ou pai.

Jogo de regras: de acordo com Piaget, este jogo acontece a partir dos sete anos de idade, no período operatório concreto - a criança aprende a lidar com delimitações no espaço, no tempo, o que pode e o que não pode fazer. Ao invés de símbolo, a regra supõe relações sociais, porque a regra é imposta pelo grupo e sua falta significa ficar de fora do jogo. Exemplo: lidar com perdas e ganhos, estratégia de ação, tomada de decisão, análise dos erros, replanejar as jogadas em função dos movimentos dos outros.
Cada estágio do desenvolvimento descrito por Piaget tem uma seqüência que depende da evolução da criança, do nascimento até o final da vida. Uma fase se interliga com a outra de forma que o final de uma se confunde com o começo de outra. A evolução começa com a fase puramente reflexiva, passando pela assimilação, pelo simbolismo até chegar à acomodação.
Vygotsky afirma que a fala diferencia a criança de um macaco. A fala e o uso dos signos faz com que a criança tenha controle sobre o seu comportamento. Para o pesquisador, a fala e a ação fazem parte da mesma função psicológica complexa. Quanto mais complexa a ação maior a importância da fala.
A capacidade da linguagem habilita a criança a providenciar elementos que a auxiliam na resolução de problemas antes de sua execução e controla seu próprio comportamento.
Conforme Vygotsky, o sujeito é interativo e, por este motivo, dá tanta importância a fala. Estabelece uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem. Diz que o desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas com quem mantém contatos regulares. O aprendizado da criança começa antes do seu ingresso na escola. Desta forma, a escola sistematiza o aprendizado, que inicia no primeiro dia de vida - a aquisição do conhecimento se dá através das zonas de desenvolvimento: real e proximal.
Zona de desenvolvimento real: é a do conhecimento já adquirido, o que a pessoa traz consigo.
Zona de desenvolvimento proximal: define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível que atinge quando resolve problemas com auxílio, com orientação de pessoas mais capazes, que já tenham adquirido estes conhecimentos.
O aprendizado cria a zona de desenvolvimento proximal e acorda vários processos internos de desenvolvimento, que operam quando a criança interage com outras pessoas, em cooperação. Uma vez internalizados estes processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente.
O aprendizado está relacionado com o desenvolvimento da criança, mas eles não andam de forma paralela. O desenvolvimento da criança nunca acompanha o aprendizado escolar.
Vygotsky fala do faz-de-conta. Diz que as maiores aquisições das crianças são conseguidas no brinquedo, que no futuro se tornarão níveis básicos do real e da moralidade.
Vygotsky diz que as habilidades humanas começam pelos três anos de idade. No brinquedo, a criança projeta-se nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Assim, o brinquedo antecipa o desenvolvimento que só pode ser completamente atingido com assistência de seus companheiros da mesma idade e mais velhos.
Durante a brincadeira, todos os aspectos importantes da vida da criança tornam-se tema do jogo.
Vygotsky vê a aprendizagem como um processo social. A interação com os adultos e a linguagem fazem o desenvolvimento cognitivo acontecer.
Winnicott observa que os bebês tendem a usar os punhos e os dedos para satisfazerem seus instintos. Após alguns meses passam a usar algum objeto especial para substituir este meio de estimulação e tem a capacidade de reconhecer este objeto como “não-eu”. Adquirem também, a capacidade de criar, imaginar, inventar, produzir um objeto e estabelecer uma relação afetuosa com este objeto.
Se fôssemos esquematizar o que Winnicott chama de desenvolvimento normal, teríamos a inauguração dos fenômenos transacionais, com a utilização de um objeto transicional, o início do brincar, o brincar compartilhado e a experiência cultural, com a criança investindo e compartilhando das conquistas de sua cultura.
Fenômenos transicionais: é justamente a transferência que ocorre na troca do uso do dedo ou polegar para a utilização de um objeto como o “não-eu” a que ele chama de objeto transicional. Este objeto é reconhecido pelos pais e é carregado para todos os lugares, pois ele representa conforto e segurança para o bebê.
Quando o simbolismo é empregado, o bebê já está claramente distinguindo entre fantasia e fato, entre objeto externo e interno, entre criatividade primária e percepção.
Winnicott diz que o brincar tem um lugar e um tempo, acontecendo primeiro entre mãe e bebê, segundo as experiências de vida. Brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde, além de conduzir aos relacionamentos grupais. “Brincar é fazer.”
No brincar, a criança manipula fenômenos externos a serviço do sonho e veste fenômenos externos, escolhidos com significado e sentimentos oníricos.
Há uma evolução direta dos fenômenos transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experiências culturais.
O brincar envolve o corpo devido à manipulação de objetos. A criatividade é fundamental e é através dela que o indivíduo sente que a vida é digna de ser vivida.
Em todas as fases da vida, o mediador é fundamental para o sucesso no desenvolvimento do bebê, criança, adolescente, adulto ou velho. Tudo acontece com um mediador, com interação: o segurar, o manejar, a apresentação de objetos, a destruição do objeto, a sobrevivência à destruição. 
Quando essa interação é feita com confiança, se a tarefa da mãe é cumprida na sua integralidade o desenvolvimento emocional e mental do bebê e da criança é conseguido sem conseqüências negativas.
Diferenças e semelhanças entres as três teorias
Enquanto Piaget fala em estágio de desenvolvimento, influência da estrutura cognitiva, Vygotsky fala em interação da linguagem, interação entre o meio (cultura) e a criança, em zona de desenvolvimento proximal. Já Winnicott fala em mediação, em compartilhamento de experiências.
Piaget estabelece fases para o desenvolvimento e diz que todo mundo tem condições iguais para aprender. Diz que a criança assimila no jogo o que percebe da realidade e que o jogo não é determinante nas modificações das estruturas. Fala do jogo simbólico.
Para Piaget, o símbolo nada mais é do que um meio de agregar o real aos desejos e interesses da criança.
Vygotsky diz que o desenvolvimento ocorre no decorrer da vida, não estabelece fases para este desenvolvimento, que ele depende do meio em que se vive, da cultura. Diz que o jogo proporciona alteração das estruturas. Lembra do faz-de-conta.
Para Vygotsky, o exercício do simbolismo ocorre quando o significado fica em primeiro plano. Na medida em que cresce, a criança impõe ao objeto um significado.
Os dois falam em jogo de regras. Piaget diz que a criança aprende o jogo de regra através de um engajamento individual na solução do problema. Para Vygotsky, entretanto, o jogo de regra é aprendido com a interação com os outros.
Piaget entende que o jogo é assimilação - constituem-se em expressão, enquanto Vygotsky assegura que a criança cria a partir do que conhece, das oportunidades do meio, em função de suas necessidades.
Para Winnicott, a brincadeira traz a oportunidade para o exercício da simbolização e é também uma característica humana.
Observa-se que há um ponto em comum entre os pesquisadores: dentro do seu tempo, os três concordam que o brincar é fundamental no desenvolvimento da criança.
LEBOVICI
O brinquedo é tão importante, deve ser também considerado como a “expressão dos modos atuais da organização da personalidade da criança e como um modo estruturante em relação às organizações mais tardias”.
A criança que não brinca , não se aventura em algo não desconhecido. Se, ao contrário, é capaz de brincar, de fantasiar, de sonhar, está revelando ter aceito o desafio do crescimento, a possibilidade de errar, de tentar e arriscar para progredir,evoluir.
Mas o que é “brinquedo”?
Esse termo é utilizado com diversos sentidos – desde s costumeira frase “desculpe foi sem querer... foi de brinquedo...” até o conhecido “ brincando, brincando vai dizendo verdades difíceis de serem ouvidas de outra maneira...”
Ainda que a criança seja induzida a brincar com jogos educativos,  chega um determinado momento em que ela mesma interrompe , dizendo “- bem agora vamos brincar, tá?” fica evidente, então, que esta criança não estava brincando no verdadeiro sentido da verbo, tendo percebido um objetivo, uma intenção pedagógica que a cansou, para ela, brinquedo é caracerizado, exatamente, por ser destituído de qualquer objetivo externo e determinado.
Segundo A. Aberastury
       “O brinquedo possui muitas das características dos objetos reais, mas, pelo  seu tamanho, pelo fato de que a criança exerce domínio sobre ele, pois o adulto outorga-lhe a qualidade de algo próprio e permitido, transforma-se  no instrumento para o domínio de situações penosas, difíceis, traumáticas, que se engendram na relação com objetos reais. Além disso, o brinquedo é   insubstituível e permite que a criança repita, à vontade, situações prazerosas  e dolorosas que, entretanto, ela por si mesmo não pode reproduzir no mundo real”.
            “Ao brincar, a criança desloca para o exterior os seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os por meio da ação. Repete no brinquedo  todas as situações excessivas para o seu ego e isto lhe permite, devido ao  domínio sobre os objetos externos a seu alcance, modificar um final que lhe foi penoso, tolerar papéis e situações que seriam proibidas na vida real, tanto interna como externamente, e também repetir à vontade situações prazerosas”.
            “Usando o mecanismo da identificação projetiva, as crianças fazem transferências positivas e negativas para os objetos conforme estes excitem ou  aliviem sua ansiedade, e este mecanismo é a base de toda sua relação com os   objetos originários. Através das personificações no brinquedo, observa-se como
       O objeto pode modificar-se com rapidez, de bom para mau, de aliado para   inimigo. Por isso, o brinquedo infantil, quando normal, progride constantemente para identificações cada vez mais aproximadas da realidade”.



 WINNICOTT , D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 203 p. (Psicologia psicanalítica)
VYGOTSKY, L. “A formação social da mente”. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
PIAGET, J. (1946). “A formação do símbolo na criança”. Rio de Janeiro: Zahar, 1978
http://www.abpp.com.br/artigos/61.htm

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