As
relações orgânicas entre feto e mãe são extremamente íntimas. O feto está
ligado em derivação com a circulação sanguínea materna, existindo interações
por intermediários químicos e neurossimpáticos.
Pelo
viés destas trocas fisiológicas. A vida
emocional da mãe parece ter efeito sobre o bebê, como se pensa bastante
comumente e como se tentou demonstrar em um certo número de trabalhos. Durante
um estudo longitudinal, prolongado efetuado por Suntag em mulheres grávidas,
publicado em 1965, 8 mães sofreram um choque emocional grave pelo fim de sua
gestação (como a morte do marido, por exemplo). Em todos os casos a atitude
motora do feto mostrou um aumento extremo de intensidade reativa ao traumatismo
súbito vivido pela mãe. Tudo isto está evidentemente ligado à sua própria vida
afetiva, às suas suas relações com suas imagens parentais. O feto de 4 meses,
não é mais somente um ser que começa a se mexer, percebido vagamente dentro de
si, mas um bebê bem presente, do qual se pode acompanhar a vida e as reações.
Graças
a ecografia é possível conhecer o mundo intra-uterino.
Certamente,
as interações entre a atividade do bebê no útero e a de sua mãe são reais, as
mulheres grávidas bem o notam, mas devem-se acentuar que o bebê, no útero,
difere de sua mãe por sua própria dinâmica maturativa e por já determinado grau
de autonomia!
MAZET, Phillipe; STOLERU, Serge. Manual de psicopatologia do recém-nascido.
Porto Algre. Artes Médicas, 1990.
Através de estudos
psicanalíticos realizados, observou-se que, sob intensa angústia, os pacientes
abandonavam, muitas vezes, a realidade externa eliciadora de um sofrimento
intolerável, para buscar refúgio numa realidade muito mais primitiva,
regredida, relacionada à vida intra-uterina.
Com o advento da
ultra-sonografia e, mais tarde, da ecografia, pôde-se observar o universo fetal
e a sua história de desenvolvimento físico-emocional.
Assim, constatou-se que
não apenas o trauma do nascimento marca inconscientemente o indivíduo para
sempre, como também o modo como o feto percebe suas experiências pré-natais,
vão se constituir no modelo das vivências emocionais no decorrer de sua vida
aérea e, mais imediatamente, na primeira infância.
Podemos então dizer que,
certamente, a vida psíquica não se inicia com o nascimento, porém é uma
continuidade da vida intra-uterina.
Desta feita, a visão que
se tinha de que o útero era um lugar silencioso, um verdadeiro paraíso, onde os
ruídos externos não chegavam até ele e que o feto era um ser passivo,
completamente dependente, foi derrubada ante o desenvolvimento tecnológico e
psicanalítico.
Hoje, o que se sabe é que
é um ser humano em formação e que reage a estímulos, chupa o dedo, dorme e acorda,
tem movimentos respiratórios, movimenta-se à procura de posições que lhe sejam
mais confortáveis, boceja e soluça, sorri e chora...
Sabe-se, inclusive, que as
atividades executadas por ele não são sem sentido, cumprem objetivos: não só
deglute o líqüido amniótico para se alimentar como regula o volume de ingestão;
os movimentos realizados desenvolvem as articulações e ossos e as experiências
sensoriais são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro.
Por sua vez, a visão de
útero também se modificou, pois o feto escuta a voz materna e paterna, os sons
internos e viscerais da mãe, como a digestão sendo realizada, os batimentos
cardíacos, a circulação sangüínea, o ressoar do sono materno, a sonoridade do
mundo externo que lhe chega abafada, porém audível.
Muito mais que tudo isto,
foi a compreensão adquirida que o feto sofre com a influência das emoções
maternas e que o levam a participar na manutenção e determinação do final da
gravidez, seja prematuramente, através do aborto ou gravidez a termo.
Diante disto, se o nível
de angústia e ansiedade da gestante tiver intensidade muito elevada ou mesmo se
sofrer traumas emocionais ou stress, crônico ou agudo, há de desencadear grande
sofrimento fetal, marcando-o profundamente, podendo mesmo acarretar problemas
orgânicos e psíquicos, com decréscimo de seu desenvolvimento físico.
Apesar de não haver
conexão direta entre o sistema nervoso materno e fetal, emoções como ira, medo
e ansiedade fazem com que o sistema nervoso autônomo materno libere certas
substâncias químicas na corrente sangüínea, alterando a composição do sangue
materno e que, transpondo a barreira placentária modificarão a bioquímica do
ambiente intra-uterino onde está se desenvolvendo o feto.
Esta transformação
provoca-lhe um estado de alarme que se manifesta por aumento ou diminuição dos
batimentos cardíacos e aumento ou diminuição da atividade motora, podendo
chegar à imobilidade.
Ruídos estranhos ao feto
também podem provocar angústias, na medida em que desencadeiam o comportamento
de alerta.
Na busca do alívio das
tensões, desenvolvem-se mecanismos psíquicos de defesa e que são expressos
através de movimentações hiperativas do corpo. São reações parecidas com as do
recém-nascido em sofrimento que se contorce, grita, chora, esperneia, para livrar-se
do que lhe causa desespero. Ou, ao contrário, se a situação estressante
torna-se crônica, o feto "substitui" o mecanismo de defesa que não
percebe mais como aliviador de tensão, e ocorre a diminuição das atividades
motoras ou hipoatividade, que sugere a possibilidade de depressão e de
decréscimo de energia vital.
Enquanto durar o distúrbio
emocional da gestante, a atividade fetal continuará a um nível elevado. Se
forem distúrbios breves, geralmente o aumento da irritabilidade fetal durará
algumas horas.
Gestantes infelizes e
deprimidas têm maior probabilidade de ter partos prematuros ou de ter bebês com
pesos mais baixos ao nascer, podendo ser hiperativos, irritáveis, manifestar
dificuldades na alimentação, apresentar distúrbios do sono, choro excessivo e
necessidades incomuns de ficar no colo
OUTRA FONTE
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