sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

OS PRÓXIMOS 4 TEXTOS FORMAM ARTIGO CIENTÍFICO DE JANEIRO DE 2006 DE AUTORIA DE RODRIGO SANCHES PERES PUBLICADO SOB O SEGUINTE TÍTULO:



O Corpo na Psicanálise Contemporânea: Sobre as Concepções Psicosomáticas de Pierre Marty e Joice McDougall


No final do século XIX, o médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939) provoca uma mudança de paradigma com a descoberta do inconsciente e a fundação de uma nova teoria sobre os processos psíquicos. A partir dos revolucionários estudos sobre a histeria executados com a colaboração do psiquiatra francês Jean Martin Charcot (1825-1893), o até então eminente neurologista propõe que as doenças orgânicas não são decorrentes apenas de agentes biológicos e que o corpo é susceptível também às vicissitudes da mente. Nesse sentido, rompe com o modelo cartesiano vigente até então, pois aponta, conforme Aisenstein (1994) e Volich (2000), que a saúde de um indivíduo se encontra intimamente relacionada à sua própria história.

A preocupação com a questão do corpo foi, portanto, fundamental para o surgimento da psicanálise (Cukiert & Priszkulnik, 2000). No desenvolvimento de sua teoria, contudo, Freud optou — devido a motivos meramente didáticos, segundo Haynal e Pasini (1983) — por dedicar maior atenção à pesquisa das afecções mentais e, conseqüentemente, colocou em segundo plano a investigação dos fatores psíquicos associados à eclosão de doenças orgânicas. Todavia, foi responsável, como destacam Rodrigues e Rodrigues (1991), pela instituição dos pressupostos que serviram de base para que outros autores pudessem, em um segundo momento, retomar a tese hipocrática da unidade funcional entre o biológico e o psicológico.

Um novo movimento psicossomático inspirado no pensamento freudiano começou a surgir a partir de 1930 com Franz Alexander (1891-1964). Psicanalista húngaro radicado nos Estados Unidos da América, o mesmo afirmava que certos conflitos psíquicos provocam disfunções do sistema nervoso autônomo, desencadeando alterações nos músculos lisos e produzindo secreções glandulares desordenadas (Santos Filho, 1993).
 Assim sendo, as doenças orgânicas poderiam ser entendidas basicamente como respostas fisiológicas exacerbadas decorrentes de estados de tensão emocional crônica motivados por processos mentais inconscientes desprovidos de significado simbólico.
Porém tais proposições foram questionadas nas décadas seguintes por autores que acreditavam que o modelo psicossomático de base psicofisiológica se apoiava em uma visão dualista do homem. Endossando esses questionamentos, diversos psicanalistas franceses se organizaram com o intuito de delinear uma nova via de formação das manifestações corporais do sofrimento emocional. Liderados por Pierre Marty (1918-1993), entendiam que pacientes somáticos1 se caracterizam por um modo de funcionamento psíquico distinto daquele apresentado por neuróticos e psicóticos (Volich, 2000)...

...O modelo formulado por Marty e seus colaboradores é apontado pela literatura científica especializada como uma das vertentes psicossomáticas mais consistentes, pois possibilita o esclarecimento de alguns dos complexos processos subjacentes à interação mente-corpo...
 Faz-se necessário salientar, contudo, que a psicossomática psicanalítica não se reduz a esse modelo de Alexander... Nas décadas de 70, 80 e 90, uma série de autores se empenhou em repensar o papel do psíquico como dimensão constitutiva do processo saúde-doença. Dois autores Marty e McDougall oferecem contribuições de grande valor para a compreensão do instigante objeto ao qual se dedicam. Ressalte-se também que acrescentam conceitos que ainda não foram devidamente incorporados à psicanálise. Por essa razão, considerou-se pertinente focalizar a discussão de dois deles, a saber: pensamento operatório e desafetação.


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