quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

TRABALHO X SOFRIMENTO




A etimologia da palavra trabalho sugere dor e sofrimento, deriva da palavra de origem latina tripalium, instrumento constituído de três paus, que eram cravados no chão e utilizados em fazendas e quintas da Europa da Idade Média e nos quais eram amarrados os animais em trabalho de parto, para a marcação a ferro e outras intervenções veterinárias. Mais tarde passou a ser usado como instrumento de tortura onde o trabalhador era o torturador. Caiu em desuso com a sofisticação da Inquisição da Igreja.
À concepção social de sofrimento somou-se a crença religiosa de "castigo pelo pecado original",  sob a  ótica e a fé protestante da sociedade ocidental, cujas crenças são, de que, pelo esforço sobre-humano as pessoas atingiriam "o reino do céus". O sofrimento não está no trabalho em si, mas nas duras condições em que este ocorre. Ainda hoje, em alguns lugares, o trabalho continua associado a algo penoso e difícil, sinônimo de servidão, exploração, monotonia e degradação.
"Contudo, o trabalho pode ser exaustivo e estressante, monótono e doloroso, mas também pode ser divertido e pleno de significado [...] e emancipador." (ZANELLI, 2008)
        Ainda segundo o mesmo autor, o trabalho pode ser compreendido como todo esforço intencional que produz consequências em seu ambiente. A compreensão do trabalho como emprego confere ao mesmo um sentido de caráter instrumental. Sem outras características que confiram sentido ao que é realizado, o trabalho se transforma em fonte de alienação, estranhamento e deterioração.
O trabalho constrói a identidade do indivíduo que deve compreender a finalidade das atividades que são impostas para garantir a manutenção da sua sanidade mental, do contrário, a exemplo do filme "Tempo Modernos" (Charles Chaplin), onde o operário executa a tarefa de um trabalho segmentado, o sujeito corre o risco de adoecimento por desconhecimento de qual seria o produto final para o qual ele está colaborando.
Se a tarefa for agradável se torna fonte de motivação no trabalho e refletirá em seu rendimento e na sensação de bem-estar.
De outro prisma, o conceito de saúde também está vinculado a uma adaptação ativa à realidade e a qualidade de vida, por sua vez, implica satisfazer necessidades e alcançar expectativas.
A maior parte da vida é passada no trabalho e a qualidade de vida dependerá de suas condições. Como bem diz Zanelli (2008), o desgaste físico leva à corrosão da dignidade e da vontade do sujeito. As satisfações ou insatisfações provenientes do ambiente psicossocial de trabalho refletem na vida pessoal, ao mesmo tempo em que as realizações e problemas da vida pessoal refletem no trabalho. (ZANELLI, 2008)
A responsabilidade social de manter a saúde e o bem estar do trabalhador fica a cargo da administração das empresas e instituições, na figura dos seus gestores, que devem assumi-la com comprometimento dentro de valores éticos, oferecendo aos seus colaboradores condições de trabalho e de vida dignos. A contratação de psicólogos para atuar junto aos funcionários e garantir, na medida do possível, seu bem-estar, não é somente necessária, mas sim imprescindível.
Deve-se levar em conta melhor compreensão e controle por parte da Psicologia Organizacional nas relações de trabalho: organização – trabalhador – organização do trabalho, formas de gestão, supervisão, processos e sua influência na forma de trabalhar.
O psicólogo deve receber treinamento em segurança e saúde ocupacional. A psicologia tem a responsabilidade de exercer papel pró-ativo, propondo e desenvolvendo políticas e programas eficazes para um ambiente de trabalho saudável, estabelecendo mecanismos que impeçam ou, pelo menos, diminuam repercussões negativas na vida do trabalhador.
É na interface entre a Saúde Mental e o Direito do Trabalho que surge a Psicologia e Psiquiatria Ocupacional com intuito de amenizar as formas de psicopatologização do trabalho, contribuindo com as empresas que empreenderão o modelo de prevenção, saindo do modelo biomédico, diminuindo custos, tanto econômicos quanto operacionais para o empregador, e consequentemente oferecendo maior qualidade nas condições de trabalho para o funcionário, diminuindo assim, o risco de adoecimento do trabalhador e o presenteísmo, que muitas vezes pode ser mais preocupante do que o absenteísmo.

Desse modo, e observados os fundamentos e ensinamentos alhures expostos, devemos considerar que o trabalho não é só um gerador de psicopatologias, mas também uma fonte de saúde e prazer.


Nos próximos oito textos tento fazer uma associação entre Trabalho e Psicologia da Saúde Ocupacional, apresentando o resumo do livro    INTERAÇÃO HUMANA E GESTÃO – A Construção Psicossocial Das Organizações De Trabalho, de José Carlos Zanelli e expor questões como: psicopatologização no trabalho, estratégias de enfrentamento, comprometimento,  gestão com pessoas, qualidade de vida, promoção de saúde e outros.

Obrigada,
Graciela

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