terça-feira, 25 de dezembro de 2012

WINNICOTT Vida e introdução à obra




WINNICOTT

Vida e introdução à obra




Donald Woods Winnicott nasceu em sete de abril de 1896, em Plymouth na Inglaterra
Em 1923, obtém o cargo de médico no hospital Paddington Green Children, em Londres. Neste mesmo ano, começou sua análise pessoal com o Dr. James Strachey, tradutor oficial de inglês, das obras completas de Sigmund Freud. Essas duas experiências, o exercício da pediatria e sua análise pessoal, marcaram de maneira fundamental seu trabalho posterior. 
Em 1927, Winnicott foi aceito para começar sua formação analítica na Sociedad Psicoanalítica Británica. Em 1934, concluía sua formação como analista de adultos e em 1935, como analista de crianças, sendo considerado, por três décadas, um fenômeno isolado, pois nenhum outro analista era pediatra. Quando terminou a Segunda Guerra, Winnicott foi nomeado Diretor do Departamento Infantil do Instituto Psicanalítico da Sociedade Britânica, cargo no qual se manteve por 25 anos. Foi ainda, por dois mandatos consecutivos, Presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise. Continuou trabalhando no hospital Paddington Green Children's até os anos 60. 
A partir de 1936, Winnicott começou a ministrar um curso regular sobre crescimento e desenvolvimento humano para professores do Instituto de Educação de Londres, a convite de uma amiga pessoal e colega, a Dra. Susan Isaacs. A partir de 1947, ministrou palestras para estudantes de assistência social na Escola Londrina de Economia e Ciências Políticas. Entre 1940 e 1944 fez supervisão com Melanie Klein.
Winnicott tinha uma boa reputação como conferencista interessante e espontâneo, e a British Broadcasting Corporation (BBC) convidou-o a falar para pais e mães pelo rádio. Entre 1939 e 1962, ele participou de cerca de cinqüenta programas sobre uma enorme gama de assuntos, que variaram desde “a contribuição do “pai”, “o filho único”, “a importância de visitar as crianças no hospital”, e “a dinâmica da adoção”, até “a psicologia dos pais adotivos”, “o significado do ciúme” e “as vicissitudes da culpa”. 
Oliveira (2008) destaca que além dessas conversas individuais pelo rádio, Winnicott preparou ainda dois conjuntos completos de palestras. Janet Quigley produziu a primeira série em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, e essas palestras apareceram posteriormente sob a forma de um panfleto, sob o título de Getting to Know Your Baby, que continha as transcrições de seis programas radiofônicos e era vendido por um shilling. A capa do pequeno folheto mostrava a reprodução de um entalhe em madeira de uma mãe com seu bebê feito por Alice Winnicott. 
Entre 1949 e 1950 foram ao ar pela BBC, várias outras palestras sobre o tema "The Ordinary Devoted Mother". Nove transmissões dessa série foram lançadas no panfleto "The Ordinary Devoted Mother and Her Baby: nine broadcast talks". Essas transmissões atingiram milhões de pessoas.
Winnicott foi presidente do comitê de investigações da Associação Psicanalítica Internacional, que investigou a prática clínica de Jacques Lacan. Em 1953, Winnicott e vários colegas (Phyllis Greenacre, Hedwig Hoffer e Jeanne Lampl-de Groot) entrevistaram diversos membros da instituição de Lacan, a Société Française de Psychanalyse, assim como membros da clássica Société Psychanalytique de Paris, que alegavam que Lacan conduzia sessões de psicanálise mais curtas.
Durante sua vida, Winnicott ocupou vários cargos importantes e recebeu diversas homenagens. Foi presidente da Seção Médica da British Psychological Society, presidente da Seção de Pediatria da Royal Society of Medicine e presidente da Associação para Psicologia e Psiquiatria Infantil. Em 1955, tornou-se também conferencista do Departamento de Desenvolvimento Infantil do Instituto de Educação da Universidade de Londres. Finalmente, em 1968, foi eleito membro honorário da Royal Medico-Psychological Association, e recebeu a cobiçada Medalha James Spence de Pediatria, prêmio que leva o nome de um dos heróis pessoais de Winnicott, o Professor Sir James Spence, ilustre médico de crianças nascido em Newcastle-upon-Tyne, o qual insistia em que as mães e os bebês recém-nascidos não deviam ser separados no momento do nascimento. A Sociedade Psicanalítica Finlandesa também homenageou Winnicott, convidando-o a tornar-se membro honorário. Recebeu, ainda, o título de Cavaleiro das mãos da rainha Elizabeth II. 
Winnicott conduziu palestras na Escócia, em Paris, Roma, Genebra, Copenhagen, Lisboa, Helsinque e Amsterdã. Além disso, fez pelo menos uma conferência no Canadá e um grande número de palestras pelo interior da Inglaterra, para uma grande variedade de organizações. Fez varias viagens aos Estados Unidos da América realizando palestras (em 1962, 1963, 1967 e em novembro de 1968, para falar na Sociedade Psicanalítica de Nova York e em outras instituições). 

Introdução  à obra

Winnicott foi um dos primeiros autores a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança. Ele considerou que a mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da criança. Santos (2008) diz que na teoria psicanalítica de Winnicott o ser humano não é apresentado como um objeto da natureza, mas sim como uma pessoa que para existir precisa do cuidado e atenção de um outro ser humano.
Para Winnicott o objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança. A mãe participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda a formar sua mente, fazendo com que este processo seja bem feito. “Ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de “energia vital”, que o faz progredir e amadurecer.” (Bleichmar e Bleichmar, 1992, pág. 246). Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do fazer-criativo. E a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo.
Gurfinkel (1999) destaca que para a teoria psicanalítica de Winnicott o que está em questão não é a vida erótica do sujeito, mas a conquista de um lugar para viver, ou a base do self no corpo. A localização do self no corpo não é uma experiência dada desde sempre, mas sim o fruto de um desenvolvimento sadio.
Ao se estudar o primeiro vínculo emocional com a mãe, em termos de experiência sensoriais, afetivas e de constituição do psiquismo, passa-se de uma postura edípica a uma bipessoal, do falo ao seio, do triangulo à relação com a mãe.
Winnicott  localiza o início dos problemas psicológicos no vínculo entre recém-nascido e mãe. A base da estabilidade mental depende das experiências iniciais com a mãe e, principalmente, de seu estado emocional.
 Na abordagem winnicottiana o analista deve oferecer ao paciente o que não teve, criando processos que nunca existiram, capacidades e funções psicológicas, dotando seu paciente de estruturas ausentes.
Winnicott acredita que há três espaços psíquicos. O interno, o externo e o transicional. O espaço transicional é uma zona intermediária, que vai do narcisismo primário ao julgamento de realidade. No início há objetos que não são internos nem externos, só depois virá a delimitação entre ambos. A mãe deve juntar os pedacinhos, permitindo que a criança se sinta dentro dela. A mãe, ao nomear o filho unifica-o.
O ambiente deve se adaptar adequadamente à criança, para formar seu verdadeiro self. Se a mãe se adequa de uma forma suficientemente boa, não interfere no desenvolvimento da criança. Não é a mãe que molda completamente a criança – esta tem sua autonomia, com suas capacidades inatas de desenvolvimento – a mãe assegura o ponto de referência para que o processo continue. Winnicott crê que ao sair do narcisismo primário, o destino do sujeito depende do fracasso ou do êxito do ambiente.
Não considera os fatores internos tão determinantes quanto os externos. Enquanto para Melanie Klein o ambiente era um fator importante, mas não concentrava nele sua atenção, para Winnicott o ambiente era um elemento fundamental, a ponto de considerar as falhas ambientais como a etiologia principal dos quadros psicopatológicos.
A mãe deve funcionar como “ego-auxiliar” da criança. Quando a sustentação exercida pela mãe for bem sucedida, a criança a vive como uma “continuidade existencial”; no entanto, quando falha, o bebê terá uma experiência subjetiva de ameaça, que obstaculiza o desenvolvimento normal. A falta de holding adequado provoca uma alteração no desenvolvimento, cria-se uma “casca” (o falso self) em extensão da qual o individuo cresce, enquanto o “núcleo” (o verdadeiro self) permanece oculto e sem poder se desenvolver. O falso self surge pela incapacidade materna de interpretar as necessidades da criança.
O desenvolvimento do falso self às custas do verdadeiro self, se relaciona a uma amplitude na escala de psicopatologia que irá desde sensações subjetivas de vazio, futilidade e irrealidade até tendências anti-sociais, psicopatia, caracteropatias e psicoses.
Algumas de suas contribuições mais importantes de Winnicott são suas idéias sobre o objeto transicional, a diferença entre self verdadeiro e falso, a noção de sustentação ou holding e as muitas aberrações entre o desenvolvimento emocional infantil.


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