WINNICOTT
Vida e
introdução à obra
Donald Woods Winnicott nasceu em sete de abril de
1896, em Plymouth na Inglaterra
Em 1923, obtém o cargo de médico no hospital Paddington Green Children, em Londres. Neste mesmo ano,
começou sua análise pessoal com o Dr. James Strachey, tradutor oficial de
inglês, das obras completas de Sigmund Freud. Essas duas experiências, o
exercício da pediatria e sua análise pessoal, marcaram de maneira fundamental seu
trabalho posterior.
Em 1927, Winnicott foi aceito para começar sua formação analítica na Sociedad Psicoanalítica Británica. Em
1934, concluía sua formação como analista de adultos e em 1935, como analista
de crianças, sendo considerado, por três décadas, um fenômeno isolado, pois
nenhum outro analista era pediatra. Quando terminou a Segunda Guerra, Winnicott
foi nomeado Diretor do Departamento Infantil do Instituto Psicanalítico da
Sociedade Britânica, cargo no qual se manteve por 25 anos. Foi ainda, por dois
mandatos consecutivos, Presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise.
Continuou trabalhando no
hospital Paddington Green Children's até os
anos 60.
A partir de 1936, Winnicott começou a ministrar um
curso regular sobre crescimento e desenvolvimento humano para professores do
Instituto de Educação de Londres, a convite de uma amiga pessoal e
colega, a Dra. Susan Isaacs. A partir de 1947, ministrou palestras para
estudantes de assistência social na Escola Londrina de Economia e Ciências
Políticas. Entre 1940 e 1944 fez supervisão com Melanie Klein.
Winnicott tinha uma boa reputação como
conferencista interessante e espontâneo, e a British
Broadcasting Corporation (BBC) convidou-o a falar para pais e mães pelo
rádio. Entre 1939 e 1962, ele participou de cerca de cinqüenta programas sobre
uma enorme gama de assuntos, que variaram desde “a contribuição do “pai”, “o
filho único”, “a importância de visitar as crianças no hospital”, e “a dinâmica
da adoção”, até “a psicologia dos pais adotivos”, “o significado do ciúme” e
“as vicissitudes da culpa”.
Oliveira (2008) destaca que além dessas conversas
individuais pelo rádio, Winnicott preparou ainda dois conjuntos completos de
palestras. Janet Quigley produziu a primeira série em 1945, no fim da Segunda
Guerra Mundial, e essas palestras apareceram posteriormente sob a forma de um
panfleto, sob o título de Getting to Know Your
Baby, que
continha as transcrições de seis programas radiofônicos e era vendido por um shilling. A capa do pequeno folheto mostrava a reprodução
de um entalhe em madeira de uma mãe com seu bebê feito por Alice
Winnicott.
Entre 1949 e 1950 foram ao ar pela BBC, várias
outras palestras sobre o tema "The Ordinary
Devoted Mother". Nove transmissões dessa série foram lançadas no panfleto "The Ordinary
Devoted Mother and Her Baby: nine broadcast talks". Essas
transmissões atingiram milhões de pessoas.
Winnicott foi presidente do comitê de investigações
da Associação Psicanalítica Internacional, que investigou a prática clínica de
Jacques Lacan. Em 1953, Winnicott e vários colegas (Phyllis Greenacre, Hedwig
Hoffer e Jeanne Lampl-de Groot) entrevistaram diversos membros da instituição
de Lacan, a Société Française de Psychanalyse, assim
como membros da clássica Société Psychanalytique
de Paris, que alegavam que Lacan conduzia sessões de psicanálise mais curtas.
Durante sua vida, Winnicott ocupou vários cargos
importantes e recebeu diversas homenagens. Foi presidente da Seção Médica da British Psychological Society, presidente da Seção de
Pediatria da Royal Society of Medicine e
presidente da Associação para Psicologia e Psiquiatria Infantil. Em 1955,
tornou-se também conferencista do Departamento de Desenvolvimento Infantil do
Instituto de Educação da Universidade de Londres. Finalmente, em 1968, foi
eleito membro honorário da Royal Medico-Psychological
Association, e recebeu a cobiçada Medalha James Spence de
Pediatria, prêmio que leva o nome de um dos heróis pessoais de Winnicott, o
Professor Sir James Spence, ilustre médico de crianças nascido em Newcastle-upon-Tyne, o qual insistia em que as mães e os bebês
recém-nascidos não deviam ser separados no momento do nascimento. A Sociedade
Psicanalítica Finlandesa também homenageou Winnicott, convidando-o a tornar-se
membro honorário. Recebeu, ainda, o título de Cavaleiro das mãos da rainha
Elizabeth II.
Winnicott conduziu palestras na Escócia, em Paris,
Roma, Genebra, Copenhagen, Lisboa, Helsinque e Amsterdã. Além disso, fez pelo
menos uma conferência no Canadá e um grande número de palestras pelo interior
da Inglaterra, para uma grande variedade de organizações. Fez varias viagens
aos Estados Unidos da América realizando palestras (em 1962, 1963, 1967 e em
novembro de 1968, para falar na Sociedade Psicanalítica de Nova York e em
outras instituições).
Introdução à obra
Winnicott foi um dos primeiros autores a
hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança. Ele considerou
que a mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da criança. Santos (2008) diz que na teoria psicanalítica de Winnicott o ser humano
não é apresentado como um objeto da natureza, mas sim como uma pessoa que para
existir precisa do cuidado e atenção de um outro ser humano.
Para Winnicott o
objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança. A mãe
participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda a formar sua mente,
fazendo com que este processo seja bem feito. “Ao lhe dar amor, fornece-lhe uma
espécie de “energia vital”, que o faz progredir e amadurecer.” (Bleichmar e
Bleichmar, 1992, pág. 246). Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê
a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência
da onipotência primária, base do fazer-criativo. E a percepção criativa da
realidade é uma experiência do self, núcleo
singular de cada indivíduo.
Gurfinkel (1999) destaca que para a teoria
psicanalítica de Winnicott o que está em questão não é a vida erótica do
sujeito, mas a conquista de um lugar para viver, ou a base do self no corpo. A localização do self no corpo não é uma experiência dada desde sempre,
mas sim o fruto de um desenvolvimento sadio.
Ao se estudar o primeiro vínculo emocional com a
mãe, em termos de experiência sensoriais, afetivas e de constituição do
psiquismo, passa-se de uma postura edípica a uma bipessoal, do falo ao seio, do
triangulo à relação com a mãe.
Winnicott localiza
o início dos problemas psicológicos no vínculo entre recém-nascido e mãe. A base da estabilidade mental depende das experiências iniciais com a
mãe e, principalmente, de seu estado emocional.
Na abordagem winnicottiana o analista deve
oferecer ao paciente o que não teve, criando processos que nunca existiram,
capacidades e funções psicológicas, dotando seu paciente de estruturas
ausentes.
Winnicott acredita que há três
espaços psíquicos. O interno, o externo e o transicional. O
espaço transicional é uma zona intermediária, que vai do narcisismo primário ao
julgamento de realidade. No início há objetos que não são internos nem
externos, só depois virá a delimitação entre ambos. A mãe deve juntar os
pedacinhos, permitindo que a criança se sinta dentro dela. A mãe, ao nomear o
filho unifica-o.
O ambiente deve se adaptar
adequadamente à criança, para formar seu verdadeiro self. Se a
mãe se adequa de uma forma suficientemente boa, não interfere no
desenvolvimento da criança. Não é a mãe que molda completamente a criança –
esta tem sua autonomia, com suas capacidades inatas de desenvolvimento – a mãe
assegura o ponto de referência para que o processo continue. Winnicott crê que
ao sair do narcisismo primário, o destino do sujeito depende do fracasso ou do
êxito do ambiente.
Não considera os fatores internos
tão determinantes quanto os externos. Enquanto para Melanie Klein o ambiente era um fator
importante, mas não concentrava nele sua atenção, para Winnicott o ambiente era
um elemento fundamental, a ponto de considerar as falhas ambientais como a
etiologia principal dos quadros psicopatológicos.
A mãe deve funcionar como
“ego-auxiliar” da criança. Quando a
sustentação exercida pela mãe for bem sucedida, a criança a vive como uma
“continuidade existencial”; no entanto, quando falha, o bebê terá uma
experiência subjetiva de ameaça, que obstaculiza o desenvolvimento normal. A
falta de holding adequado provoca uma alteração no
desenvolvimento, cria-se uma “casca” (o falso self) em extensão da qual o
individuo cresce, enquanto o “núcleo” (o verdadeiro self) permanece oculto e
sem poder se desenvolver. O falso self surge pela incapacidade materna de
interpretar as necessidades da criança.
O desenvolvimento do falso self às custas do
verdadeiro self, se relaciona a uma amplitude na escala de psicopatologia que
irá desde sensações subjetivas de vazio,
futilidade e irrealidade até tendências anti-sociais, psicopatia, caracteropatias
e psicoses.
Algumas de suas contribuições mais importantes de
Winnicott são suas idéias sobre o objeto transicional, a diferença entre self
verdadeiro e falso, a noção de sustentação ou holding e as muitas aberrações
entre o desenvolvimento emocional infantil.
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