sábado, 15 de dezembro de 2012

Asilos, Hospícios e Manicômios




Segundo Foucalt (1961) a tradição de acolher os alienados em asilos tem origem na cultura árabe.
A reclusão dos loucos teve várias modalidades durante a história.
O nome manicômio designa mais especialmente o hospital psiquiátrico  existiam já antes do séc. XIX. Acolhiam apenas doentes mentais e ofereciam tratamento médico especializado sistemático; embora sua função hospitalar ou médica fosse, então, reduzida a bem pouco, visto que a figura do médico especialista em tratar loucos, o alienista, surgiria apenas no séc. XIX.
Já os hospícios, eram prédios, que faziam parte de hospitais gerais, exclusivos para loucos, onde não se dava tratamento médico, apenas abrigavam os alienados ou marginalizados sociais.
No séc. XVII proliferaram os hospícios, abrigando loucos e outros marginalizados.
Quando eram perigosos ou agressivos, eram trancafiados junto com delinquentes comuns, se tranquilos eram deixados em suaspróprias casas ou perambulavam pelas estradas,
Alguns eram recolhidos por instituições de caridade, que crescia o número no final do séc. XII.
Nas últimas décadas desse século, os alienados passaram a ser recolhidos em hospitais gerais, em locais separados, lúgubres e insalubres. De costume eram presos a correntes e confiados a guardas rudes, munidos de chicote e bastão.
A mudança na condição de  louco é pequena, o uso de correntes  e violência permanece inalterados.
“No início do séc. XVIII começavam a aparecer alguns hospícios ais amplos, menos feios, mais arejados, com melhores condições sanitárias e já organizados para a função hospitalar.” (Pessotti, 1996, p. 155)
Ainda nesse século e início do séc. XIX, surgem numerosas instituições na Itália.
Ao longo do séc. XIX os manicômios proliferam na Europa, principalmente Itália e França (Século dos manicômios).
As condições de vida no Manicômio
Os novos manicômios quando instalados em velhos edifícios não tinham instalações adequadas, nem mesmo quando construídos para essa função, frequentemente conservavam vários aspectos negativos dos velhos hospícios como: mobiliário pesado, janelas altas, tudo fechado, maciço, trancado, oprimente. Tudo feito para lembrar a todos “esta é casa dos loucos” (Ugolotti, 1949, p.42)
Por outro lado no manicômio, desaparecem os meios mais cruéis de contenção e punição que eram a marca dos hospícios.
Após a reforma de Pinel nos dois manicômios parisienses houve um grande progresso no tratamento do louco.
A mera condição de movimentar-se já os restituía à condição humana. Os casos passaram a ser registrados cotidianamente.
Era essencial libertar os movimentos, o quanto possível, a locomoção e as relações interpessoais dentro do manicômio.
As algemas, castigos, enclausuramento impediam as manifestações naturais da looucura assim como possibilitava um diagnóstico verdadeiro das alienações de cada paciente.
Em caso de necessidade de contenção, nos acessos de fúria, adotou-se o uso das “camisas de força”, menos dolorosa, mais transitória e menos excludente do que a cela ou o acorrentamento.
“Foi justamente a reforma de Pinel que introduziu alguma racionalidade na acomodação dos pacientes em locais diversos, segundo as peculiaridades da patologia [...] o paciente agora está limpo, alimentado adequadamente, diagnosticado e tratado [...]. Está em ambientes amplos, sem aspectos tétricos [...] Desenvolve relacionamentos afetivos ou sociais.” (Pessotti, 1996, p. 165).
A equipe médica, agora, os trata com cortesia, ou com autoridade, se necessário. Se institui a relação médico-paciente na psiquiatria nascente, onde deve haver equilíbrio entre firmeza e gentileza.
Para pinel o manicômio livre de correntes torna-se fator terapêutico decisivo, funciona como projeto de reeducação do alienado, que implicará em respeito às normas e o desencorajamento de condutas inconvenientes.

O Manicômio como Instrumento de Cura

Estilo organicista de pensar e trabalhar dava ao médico maior arbítrio, tanto no diagnóstico como no tratamento.
Neste modo de trabalhar com a loucura, qualquer conteúdo afetivo da situação terapêutica passa a ser irrelevante para o tratamento, uma atitude bondosa ou autoritária em nada afetaria o problema do paciente, bem como as instalações do manicômio.
Esquirol diverge desse pensamento em seu tratado de 1838. O manicômio ideal deveria ser um conjunto de edificações no plano térreo, separadas uma das outras. Com a presença e a participação do médico em todo processo terapêutico.
“A super população dos manicômios e o custo de manutenção são um problema grave que se complicará em toda a Europa a partir da segunda década do séc. XIX. O lugar de reeducação tranquila das ideias e dos hábitos, com os quais Pinel sonhara, ficará, a cada dia, mais distante da realidade.” (Pessotti, 1996, pg. 176).
Esquirol lutou pela preservação dos manicômios nos moles que Pinel idealizou. Argumentou com as autoridades (1838) a respeito da direção e administração e chegou a projetar, desde construção a localização, escolhendo materiais menos dispendiosos, com a intenção que fossem mantidos os manicômios sem qualquer desvirtuamento e o “tratamento moral” mantido.
Duas décadas depois, na França, começa um movimento no sentido de retirar os pacientes dos manicômios, ficando lá apenas os pacientes mais perigosos.
O movimento engajou vários setores da sociedade como: imprensa, sociedades científicas, instituições civis e foi fomentado também pela administração pública. Começa o movimento de desinstitucionalização.
Por volta de 1860 começa a retirada dos pacientes dos manicômios. As alternativas eram:
1.  Os doentes permaneceriam com as famílias o;
2.  Seriam colocados em casa particulares com famílias estranhas;
3.  Criação de aldeias de alienados;
4.  Criação de colônias agrícolas anexas aos manicômios.
Havia uma urgência em esvaziar os manicômios, que estavam superlotados, o que aumentava o custo de manutenção para os cofres públicos.
Não se discutia a utilidade do manicômio a utilidade do manicômio, mas sim reduzir os custos da assistência pública.
Há um outro risco em restituir o louco à sociedade: logo que saem do manicômio abandonam o tratamento e cometem, novamente atos irracionais.
A família, por sua vez, não aceita o alienado de volta, fato este que conserva muitos internados indevidamente, lotando os asilos.
Uma outra alternativa seria a colocação desses pacientes em casas isoladas com famílias estranhas. Assim os alienados terem, além da convivência, liberdade de movimentos, e seria assistido e supervisionado pelo médico.
Apesar do movimento de desinternação dos alienados e de outras formas de tratamento que foram instalados a partis do séc. XIX, os manicômios continuaram como principal sistema de tratamento da loucura.
O que mudou foram os métodos de tratamento e as condições de vida dos alienados.
Os manicômios continuavam a abrigar a maioria dos alienados.
Cargos de médicos assistentes foram criados. Surge o médico alienista contratado temporariamente. Mais tarde é criado o cargo de assistente interno que tem a obrigação de residir nas dependências da instituição .
Nesta época foi feito um levantamento  sobre o trabalho no manicômio de Roma. – o Rediconto. O relatório registra as incidências de loucura no pessoal da custódia (funcionários). Segundo Tebaldi a vida no manicômio põe em risco a razão. A loucura é contagiosa.
Em sete anos foram curados 32,73% dos pacientes e morreram 25,59%. A porcentagem de curas era calculada sobre a mesma população global, parece que a metade das curas resultavam em reinternações, analisando os números, o que não é correto, já que alguns paciente eram internados mais de uma vez.
O retorno à vida normal não garantia a permanência das mudanças obtidas no manicômio.
As razões da não reintegração do paciente á vida normal aponta para a necessidade e algum tratamento fora do manicômio.
O Rediconto aponta recursos adequados para assegurar a adaptação dos egressos à vida social. Por exemplo: sistema de patrocínio, altas provisórias, saídas diurnas.

Formas Frenopáticas, segundo Andrea Verga:

Frenoses simples: mania, monomania, melancolia, demência, loucura moral e loucura cíclica.
Frenoses complicadas: sensória, hipocondríaca, histérica, puerpueral, epilética, alcoólica, pelagrosa e senil.
O Rediconto registra diferentes causas para cada forma de frernose oou frenopatia. A facilidade de enlouquecer deveria corresponder a uma grande variedade e possíveis causas da loucura.
O que determinaria toda forma de loucura não seriam as paixões e os maus hábitos, mas os distúrbios orgânicos do ambiente físico.
As causas morais são sete ao todo:
Desgostos deprimentes e emoções, susto, ascetismo, ofensas ao pudor, amor desiludido, ofensas ao amor próprio, desajustes financeiros e falsa posição social.

Entre causas físicas (ambiente) estão:
Insolação, estudo excessivo, ananismo, abuso do vinho e dos licores, abusos sensuais, vida dissipada, fadigas exageradas, miséria, prisão, abuso de sulfato de quinino.

Reumatismo, anemia, infecção por malária ou granulação no colo uterino podiam levar à internação no manicômio. O perigo morava em algum desses pacientes possuírem um fator hereditário para aquisição da loucura e acabarem contaminados.
Muitas interações forma devidas a causas incógnitas, sem que se soubesse a verdaeira causa da frenose, isso fica registrado no Rediconto.
Chamava-se de Similar a primeira causa da hereditariedade, podendo ser direta ou indireta.
Direta:
ü Herdada do pai – frenose
ü Herdada da mãe – frenopatia
ü Dupla – quando pai e mãe contribuem
Indireta:
ü Quando algum avô transmite ou contribui.

Hereditariedade de metamorfose:
ü Causa vários tipos de alienação

Hereditariedade dúbia:

ü Hereditariedade não provada ou desconhecida.

O Rediconto revela o retorno da visão organicista da loucura no séc. XIX em grande parte dos manicômios, o que nunca esteve totalmente ausente da doutrina psicopatológica e da práxis alienística e psiquiátrica.

Enquanto no manicômio de Roma servia-se a uma população na maior parte urbana, o São Servolo (Veneza) atendia, principalmente aos camponeses, geralmente, muito pobres e desnutridos. O que justifica a alta incidência de pelagra (doença que afeta o sistema nervoso e comportamento, consequência da subnutrição).
Em Veneza a maior parte das frenopatias eram atribuídas as causas de natureza moral, paixões e sentimentos.
As altas provisórias ou saídas diurnas foram adotadas como alternativa às internações permanentes, no último quarto século.






Nenhum comentário:

Postar um comentário