sábado, 15 de dezembro de 2012

POSSESSÃO OU ALIENAÇÃO




Nos séc. XV e XVI, a formação do médico se completava no campo do conhecimento psicológico. A teoria da loucura passa a ser elaborada sob a influência do organicismo peneumático do galenismo e da doutrina da alma ou da mente (razão, memória ou imaginação) de origem platônica.
Nos séc. VXII aprecem duas classificações da alienação mental: a de Zachias e a de Plater.

Zachias – categorias diagnósticas + definições jurídicas da loucura = influenciará a teoria da loucura.
Plater – classificação nosográfica.

Zachhias
Demência: perda total ou parcial da razão.
A base conceitual de Zachias não é médica, mas jurídica, decorre de sua experiência em tribunais eclesiásticos entre 1624 e 1650.
Para Zachias a loucura é uma doença e deve ser tratada pelos médicos, podendo ser também de causas extranaturais, até de possessão demoníaca.
Quanto a etiologia não nos informa muito, mas quanto sua natureza, pode ser tanto a perda da razão quanto o descontrole do afeto.
Quanto a demência, esta se divide em 3 tipos:
Imbecilidade, delírio e insânia (loucura)
Cada uma dessas 3 categorias vai apresentar distúrbios diferentes: fraqueza de espírito, amnésia, estultice, phrenésia, mania, melancolia, furor, licanropia, etc.
Vale lembrar que estes são  critérios jurídicos de imputabilidade, que eram usados para livrar da responsabilidade penal os “criminosos-loucos” nos tribunais da  época e que tinham efeitos legais..
Plater – Galenismo – perspectiva médica.
A loucura é lesão da inteligência (razão, imaginação, memória) resultado de um déficit ou de uma depravação de um sentido interno da mente (estafa mental)
Loucura – alteração isolada em um dos 3 sentidos da mente ou simultâneo em mai de uma delas. Processo mental que se manifesta em comportamentos ou ideias.
Causas principais:
Embriaguez, comoções da alma, excesso de paixões, causas internas  ou delírios.
Maníacos, melancólicos e frenéticos são loucos por apresentarem delírios que pode ser de vários tipos. Com Plater o delírio passa a ser a marca da loucura, ou alienação mental.
Entre as possíveis causas internas do delírio, quando se trata de mania e melancolia, inclusive, encontra-se a possessão demoníaca. Mesmo quando a melancolia se apresenta sob a forma de hipocondria e mania ou sob a forma de coréia ou cólera.

Com Plater começa uma tendência maior de se enfatizar o delírio o delírio e pormenorizar o progressivo desinteresse pela bizarrice do comportamento e pelas distorções perceptivas, alucinações e ilusões sensoriais.
A explicação do delírio será buscada em diferentes direções teóricas. Pela necessidade de uma fundamentação anatomofisiológica do pensamento delirante se seguira uma doutrina iatroquímica, pneumática e iatromecânica.

Iatroquímica  (Paracelso- séc. XVI)
- Primeira negação ao sobrenatural.
As doenças, inclusive as doenças mentais, são alterações dos sais contidos no corpo, como enxofre, mercúrio, sal (silício), etc.
O mercúrio, em diferentes estados, dado a sua capacidade de volatização e resfriamento, em diferentes temperaturas, causariam alterações no organismo do indivíduo, inclusive emocionais.

Sylvius chamou de química dos humores.

Sennert, no séc. XVII, postulou que a melancolia teria origem tóxica e que a mania seria semelhante a um veneno, produziria delírios.

Descartes traz a doutrina sobre os espíritos animais. Os pneumas de Galeno recebem na teoria cartesiana uma reformulação.

Ambiguidade conceitual, os espíritos animais seriam ora partículas materiais, ora imateriaissão designadas na teoria cartesiana, como vento, sopro, hálito. São partículas de sangue, as mais agitadas e mais rarefeitas, sutis, as únicas que perpassam as cavidades do cérebro.
Os espíritos produziriam delírios.
Thomas Willis – séc. XVIII – adepto da teoria dos espíritos animais vai dizer:
- lesões da função da lama resultam afecções do cérebro = disipientia diferente de sapienia = loucura, acompanhada de tristeza e melancolia, se ocorrer delírio com excitação tem-se a mania.
Segundo Willis o sintoma genérico da loucura é o delírio.


Doutrina Cartesiana – Pneumática
O texto de Willis mistura processo “espiritual” (pneumática) `ideia humorísica clássica da bílis escura.
Esforço de encontrar uma base natural, anatomofisiológica, para a loucura ou delírio.
Sua  principal contribuição:
        A loucura é uma doença natural, orgânica, corporal. Tem dano à fisiologia cerebral, provoca delírios, irracionalidade e descontrole emocional.
Visão organicista:
        O corpo sofre agressões de subsâncias tóxicas, venenosas, inanição, jejum, etc, evenos da vida biológica do homem e, que estes seriam a causa da loucura.

Iatromecânica – (Alfonso Borelli, de concepção organicista da loucura.)
Resultado de processos hidráulicos e mecânicos no interior dos organismos. A obstrução dos vasos explica todas as enfermidades
O delírio é excesso de tensão nas fibras cerebrais.
A loucura é uma doença natural como as outras doenças, tal como pregara Hipócrates. O séc. XVII inicia, assim, a cainhada para a bordgem científica do desvario e do descontrole emocional.
No séc. XVII a loucura é institucionalizada como processo mental, como patologia de funções nervosas superiores.

Segundo Cullen loucura é, quanto á natureza, erro de juízo devido às percepções originadas na imaginação ou na memória.
Quanto aos tipos a loucura pode ser: mania, melancolia e demência.

Para Arnold a natureza da loucura é essencialmente mental, até cognitiva, consiste em alterações nas funções cognitivas.
Pós as doutrinas demonistas dos séc. XV e XVI até as classificações do séc. XVIII o conceito de loucura passa por mudanças importantes.
Ao longo desse período a etiologia diabólica é progressivamente descartada.
Os episódios afetivos,  passam a merecer a atenção da clínica.
A observação clínica das alterações (cognitivas, intelectuais) passa a considerar também mudanças na vida  afetiva, estados de depressão e exaltação do sentimento.
É no Traité de Pinel que essas tendências se organizarão numa concepção teórica e terapêutica.
A ideia de que a essência da loucura é algum tipo de desarranjo das funções psíquicas ou mentais só se apresenta como teoria médica no final do séc. XVIII na obra de Pinel.







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