Nos
séc. XV e XVI, a formação do médico se completava no campo do conhecimento
psicológico. A teoria da loucura passa a ser elaborada sob a influência do
organicismo peneumático do galenismo e da doutrina da alma ou da mente (razão,
memória ou imaginação) de origem platônica.
Nos
séc. VXII aprecem duas classificações da alienação mental: a de Zachias e a de
Plater.
Zachias
– categorias diagnósticas + definições jurídicas da loucura = influenciará a
teoria da loucura.
Plater
– classificação nosográfica.
Zachhias
Demência:
perda total ou parcial da razão.
A
base conceitual de Zachias não é médica, mas jurídica, decorre de sua
experiência em tribunais eclesiásticos entre 1624 e 1650.
Para
Zachias a loucura é uma doença e deve ser tratada pelos médicos, podendo ser
também de causas extranaturais, até de possessão demoníaca.
Quanto
a etiologia não nos informa muito, mas quanto sua natureza, pode ser tanto a
perda da razão quanto o descontrole do afeto.
Quanto
a demência, esta se divide em 3 tipos:
Imbecilidade,
delírio e insânia (loucura)
Cada
uma dessas 3 categorias vai apresentar distúrbios diferentes: fraqueza de
espírito, amnésia, estultice, phrenésia, mania, melancolia, furor, licanropia,
etc.
Vale
lembrar que estes são critérios
jurídicos de imputabilidade, que eram usados para livrar da responsabilidade
penal os “criminosos-loucos” nos tribunais da
época e que tinham efeitos legais..
Plater – Galenismo –
perspectiva médica.
A
loucura é lesão da inteligência (razão, imaginação, memória) resultado de um
déficit ou de uma depravação de um sentido interno da mente (estafa mental)
Loucura
– alteração isolada em um dos 3 sentidos da mente ou simultâneo em mai de uma
delas. Processo mental que se manifesta em comportamentos ou ideias.
Causas
principais:
Embriaguez,
comoções da alma, excesso de paixões, causas internas ou delírios.
Maníacos,
melancólicos e frenéticos são loucos por apresentarem delírios que pode ser de
vários tipos. Com Plater o delírio passa a ser a marca da loucura, ou alienação
mental.
Entre
as possíveis causas internas do delírio, quando se trata de mania e melancolia,
inclusive, encontra-se a possessão demoníaca. Mesmo quando a melancolia se
apresenta sob a forma de hipocondria e mania ou sob a forma de coréia ou
cólera.
Com
Plater começa uma tendência maior de se enfatizar o delírio o delírio e
pormenorizar o progressivo desinteresse pela bizarrice do comportamento e pelas
distorções perceptivas, alucinações e ilusões sensoriais.
A
explicação do delírio será buscada em diferentes direções teóricas. Pela
necessidade de uma fundamentação anatomofisiológica do pensamento delirante se
seguira uma doutrina iatroquímica, pneumática e iatromecânica.
Iatroquímica (Paracelso- séc. XVI)
-
Primeira negação ao sobrenatural.
As
doenças, inclusive as doenças mentais, são alterações dos sais contidos no
corpo, como enxofre, mercúrio, sal (silício), etc.
O
mercúrio, em diferentes estados, dado a sua capacidade de volatização e
resfriamento, em diferentes temperaturas, causariam alterações no organismo do
indivíduo, inclusive emocionais.
Sylvius
chamou de química dos humores.
Sennert, no
séc. XVII, postulou que a melancolia teria origem tóxica e que a mania seria
semelhante a um veneno, produziria delírios.
Descartes
traz a doutrina sobre os espíritos animais. Os pneumas de Galeno recebem
na teoria cartesiana uma reformulação.
Ambiguidade
conceitual, os espíritos animais seriam ora partículas materiais, ora
imateriaissão designadas na teoria cartesiana, como vento, sopro, hálito. São
partículas de sangue, as mais agitadas e mais rarefeitas, sutis, as únicas que
perpassam as cavidades do cérebro.
Os
espíritos produziriam delírios.
Thomas Willis –
séc. XVIII – adepto da teoria dos espíritos animais vai dizer:
-
lesões da função da lama resultam afecções do cérebro = disipientia diferente
de sapienia = loucura, acompanhada de tristeza e melancolia, se ocorrer delírio
com excitação tem-se a mania.
Segundo
Willis o sintoma genérico da loucura é o delírio.
Doutrina Cartesiana – Pneumática
O
texto de Willis mistura processo “espiritual” (pneumática) `ideia humorísica
clássica da bílis escura.
Esforço
de encontrar uma base natural, anatomofisiológica, para a loucura ou delírio.
Sua principal contribuição:
A loucura é uma doença natural,
orgânica, corporal. Tem dano à fisiologia cerebral, provoca delírios,
irracionalidade e descontrole emocional.
Visão
organicista:
O corpo sofre agressões de subsâncias
tóxicas, venenosas, inanição, jejum, etc, evenos da vida biológica do homem e,
que estes seriam a causa da loucura.
Iatromecânica – (Alfonso Borelli, de
concepção organicista da loucura.)
Resultado
de processos hidráulicos e mecânicos no interior dos organismos. A obstrução
dos vasos explica todas as enfermidades
O
delírio é excesso de tensão nas fibras cerebrais.
A
loucura é uma doença natural como as outras doenças, tal como pregara
Hipócrates. O séc. XVII inicia, assim, a cainhada para a bordgem científica do
desvario e do descontrole emocional.
No
séc. XVII a loucura é institucionalizada como processo mental, como patologia
de funções nervosas superiores.
Segundo
Cullen loucura é, quanto á natureza,
erro de juízo devido às percepções originadas na imaginação ou na memória.
Quanto
aos tipos a loucura pode ser: mania, melancolia e demência.
Para
Arnold a natureza da loucura é
essencialmente mental, até cognitiva, consiste em alterações nas funções
cognitivas.
Pós
as doutrinas demonistas dos séc. XV e XVI até as classificações do séc. XVIII o
conceito de loucura passa por mudanças importantes.
Ao
longo desse período a etiologia diabólica é progressivamente descartada.
Os
episódios afetivos, passam a merecer a
atenção da clínica.
A
observação clínica das alterações (cognitivas, intelectuais) passa a considerar
também mudanças na vida afetiva, estados
de depressão e exaltação do sentimento.
É no
Traité de Pinel que essas tendências
se organizarão numa concepção teórica e terapêutica.
A
ideia de que a essência da loucura é algum tipo de desarranjo das funções
psíquicas ou mentais só se apresenta como teoria médica no final do séc. XVIII
na obra de Pinel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário