quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR INFANTIL




Desenvolvimento neuropsicomotor infantil

A seguir, descreveremos de forma sucinta as principais manifestações clínicas precoces com risco de sofrimento psíquico infantil, baseadas nas proposições de Geissmann e Geissmann (1993) e Mazet e Stoleru, (1990), citados por Paravidini (2002):

Uma atitude de docilidade particular
Indiferença em relação ao mundo exterior, às pessoas (não balbucia; ausência de choro quando deixado só) e aos brinquedos.

Transtornos tônico-posturais e psicomotores
Hipotonia, fazendo-se acompanhar de uma falha de ajustamento postural (não procura se endireitar nem se agarrar, não manifesta prazer, parecendo muito indiferente à situação e à posição que ocupa). Ausência da atitude antecipatória. Retardos do desenvolvimento psicomotor são também característicos.

As anomalias do olhar
A comunicação através da procura do Outro pelo olhar é precocemente perturbada. Essas crianças parecem querer olhar através das pessoas ou varrer o horizonte não parando sobre coisa alguma (“olhar periférico”). A criança em risco de psicotização pode também lançar um olhar furtivo (olhar por olhadelas) e apresentar estrabismo.

Não aparecimento dos organizadores de R. Spitz

a) Ausência ou atraso do sorriso no terceiro mês, diante do rosto da mãe.
Trata-se da ausência do “primeiro organizador” descrito por Spitz (1965): o sorriso da criança como resposta ao rosto humano.
b) A ausência de choro entre os seis e doze meses por ocasião do afastamento da mãe ou diante de uma pessoa estranha.
Aqui faz-se presente o “segundo organizador” (Spitz, 1965), conhecido como “angústia do oitavo mês”. Através desta ausência de reação, a criança expressa a indiferença à qual chegou em relação a seu meio ambiente.

Fobias maciças

São precoces e pouco organizadas. Trata-se de medos que se reproduzem sistematicamente em presença de um objeto, ou numa situação precisa e sempre idêntica. São de particular intensidade e de caráter abrangente, sobrevindo em crianças em processo de psicotização no início do segundo ano. São fobias a certos barulhos e objetos (ex. aparelhos domésticos).

Transtornos somáticos funcionais

a) Transtornos alimentares:
São distúrbios mais precoces, podendo ser uma falha na sucção, anorexia, vômitos, regurgitação, recusa do seio ou chupeta. Nota-se bastante freqüentemente quando da tentativa de diversificação de alimentos, sobretudo na recusa de mastigar, o que obriga a se estender por muito tempo a ingestão de alimentação láctea ou pastosa.

b) Transtornos do sono

Trata-se de insônias precoces que sobrevêm desde o terceiro mês. Podem ser de dois tipos: a criança dorme normal e rapidamente se agita em movimentos de auto agressividade, ou a insônia chamada calma, a criança é encontrada na cama acordada de olhos escancarados e sem se mexer, quieta.

c) Transtornos esfincterianos
Pode-se observar constipações funcionais muito precoces devidas à retenção das matérias fecais.

As estereotipias

São intrigantes por sua repetição imutável. São comuns: jogos de mãos diante dos olhos, que podem se complicar mais tarde com batimentos dos braços como se fossem asas; de uma volta sobre si mesma; e de trazer junto do rosto objetos que são logo cheirados. Esses estereótipos têm como características não cessarem ao contato com o adulto e de tomar cada vez mais tempo das atividades com os mordentes, guizos, etc.

Ausência de objeto transicional

O objeto transicional, segundo a descrição de Winnicott (1951), trata-se de um objeto mole, doce, no qual a criança investe e tem prazer em conservar consigo mesma. No que concerne à criança autista, uma das possibilidades é ela nunca ter tido um objeto privilegiado com estas características. Quando a criança traz consigo algum objeto, este é, comumente ‘duro’, sendo utilizado em função desta sensação de dureza que oferece e nãopor sua funcionalidade.

Incapacidade de brincar

Este sinal aparece um pouco mais tardiamente no decurso do segundo ano. É um ponto  importante por ser facilmente observado. Para Winnicott (1952, p. 385): “[...] trata-se de um exagero grosseiro da preocupação normal da criança saudável durante o jogo”, distinguindo- se do jogo saudável pela falta de um início e de um fim, pelo grau de controle mágico, pela falta de organização do material do jogo de acordo com qualquer padrão.

Além dos autores anteriormente referenciados, outros também descreveram algumas das principais manifestações clínicas de crianças com TIDs.
Chiappini e Miyares (1997) formularam, a partir das concepções de Tustin (1981) e de suas experiências clínicas: a Tabela Interpretativa Psicogenética, que visava à detecção precoce de Autismo Infantil em bebês, no primeiro ano de vida.
Porém, de acordo com os autores, devemos levar em consideração a artificialidade de tabelas que visam à detecção precoce de sinais clínicos de sofrimentos psíquicos, na medida em que estas não respondem às particularidades de cada criança, bem como observar a qualidade dos sinais de risco, sua intensidade e sua persistência no tempo.
Embora existam pontos em comum com os sinais clínicos anteriormente expostos por Geissmann e Geissmann (1993) e Mazet e Stoleru (1990, apud Paravidini,  002), a Tabela Interprettiva Psicogenética se destaca em função de sua estruturação basear-se numa articulação teórica psicanalítica, cujo conceito básico se refere às manobras protetoras precoces frente a uma ruptura traumática.

Desse modo, as manobras protetoras frente à ruptura traumática se baseiam:

1.  Na exacerbação patológica da reação de evitação, reação que se produz quando a mãe e o bebê têm fugazes desencontros transitórios e temporários;
2.  No estado de excitação permanentemente autogerado, que tem uma predominância táctil, que buscam um contorno ou um limite continente, quando tenha falhado a continência do objeto, sendo uma defesa frente às angústias primitivas como cair sem fim, esparramar-se, romper-se em pedaços ou fazer frente a estímulos intoleráveis.
A Tabela Interpretativa Psicogenética de Chiappini e Miyares (1997) apresentada no trabalho de Paravidini (2002) dispõe-se da seguinte maneira:

I  - REAÇÃO DE EVITAÇÃO

A. Bebê ignora aos outros:
- É indiferente a todo intento de aproximação;
- É indiferente à separação;
- Não sorri depois do terceiro mês; raridade de sorrisos;
- Há uma ausência de olhar; olhar inadequado;
- Evita o contato olhos nos olhos; vira a cabeça para não olhar nos olhos;
- Olhar periférico;
- Não se comunica com a voz; não balbucia; ecolalia.

B. Tranqüilidade particular:
- Hipotonia;
- Hipersonia; insônia calma;
- Dá a impressão de surdez;
- Não tem gestos antecipatórios;
- Não se agarra quando levantado;
- Dificuldade de sucção;
- Anorexia;
- Mantém a deglutição primária, não mastiga;
- Não suga o polegar;
- Perda de funções adquiridas;
- Atraso ou falta de sustentação da cabeça ou da posição sentada.

II- REAÇÃO DE EXCITAÇÃO PERMANENTE DE PREDOMÍNIO TÁCTIL

A. Usa objetos duros que provêm sensações ao corpo, giram, apertam, enroscam.
Corpo duro musculoso (segunda pele):
- Hipertonia;
- Não se amolda ao corpo quando pego;
- Insônia agitada;
- Agressão e auto-agressão.

B. Figuras de sensação:
- Originadas em suas próprias substâncias corporais (saliva, fezes, urina);
- Estereotipias - balanceio, jogos com as mãos, “bater de asas”, girar sobre si mesmo, marcha particular, tocam e esfregam-se em superfícies.
Autores como Lamour e Barraco (1998, citados por Tavares, 2004), utilizando-se de estudos e observações com bebês menores de 18 meses, que tinham sido expostos a falhas graves de parentalidade, descrevem a sintomatologia que revela uma dificuldade, uma perturbação da interação “mãe-jovem criança/bebê” ou “pai-mãe-jovem criança/bebê”. Elas descrevem:

Na criança:
- distúrbios psicossomáticos e funcionais (distúrbios do sono, alimentares,
respiratórios e/ou da pele);
- distúrbios de humor: medos, fobias;
- distúrbios do desenvolvimento (que não têm uma causa orgânica): intelectual,
psicomotor, do tônus e/ou o contato;
- dificuldades no controle da agressividade.
Do lado dos pais, toda a sintomatologia revelando:
- distúrbios psíquicos do pós-parto;
- estados psicóticos;
- estados depressivos ou depressão;
- condutas aditivas;
- neuroses graves;
- distúrbios do comportamento;
- maus-tratos (negligência, espancamentos).
Sendo assim, as manifestações clínicas de sofrimentos psíquicos na criança dizem, então, não dos sintomas por si só, mas, sim, da dificuldade ou perturbação no laço afetivo- simbólico, revelando-se por meio desses sintomas ou acompanhada desses sintomas.
Com isso, podemos perceber como os sinais de sofrimento psíquico da criança podem ser discretos e o quanto esses sinais dizem respeito principalmente a toda a esfera relacional e tônica-motor. No âmbito da esfera tônica-motor, temos, por exemplo, bebês “hipotônicos ou hipertônicos”, que dificultam os ajustamentos mãe/bebê porque são difíceis de carregar no colo, o que faz com que os contatos entre mãe e bebê fiquem cada vez mais raros. Na esfera relacional, a ausência de interações lúdicas e vocais por parte da mãe faz com que ela responda, raramente, às vocalizações de seu bebê, o que compromete a relação, as trocas entre mãe-criança.

SPITZ, René A. O primeiro ano de vida.  2ª  edição. São Paulo. Martins Fontes, 2000.
MAZET & STOLERU. Manual de Psicopatologia do recém-nascido. Artmed. Porto Alegre. 1990

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