As anotações de Freud em 1919 que, reconhecendo o
reduzido âmbito de atuação da prática psicanalítica, limitada aos consultórios
privados, assinala a necessidade de extensão dessa clínica a amplas camadas da
população, através da assistência pública, em vista de uma imensa “miséria
neurótica” no mundo, que ameaça a saúde pública tanto quanto as doenças
orgânicas, exigindo portanto, uma ação do psicanalista na instituição pública.
Sob influência das discussões travadas pelo movimento
da Reforma Psiquiátrica cria-se, no Brasil, no campo da saúde mental, os CAPs e
Hospitais-dia que passam a integrar o Centro de Atenção Diária.
As transformações abriram espaço para uma pluralização
de discursos dentro das instituições, dentre eles a psicanálise, mais
especificamente a psicanálise francesa. Que vem nos falar de “psicanálise em
extensão”, o lugar da psicanálise na sociedade, seja pela prática da
psicanálise em instituições públicas de assistência ou pelo ensino ou mesmo
pelo testemunho que psicanalistas podem dar de seu percurso.
A proposta de uma psicanálise ao campo da saúde mental
poderia ser formulada como uma clínica do sujeito.
O que esta no centro de interesse da clínica
psicanalítica não é a doença mental como objeto, mas o sujeito na sua
singularidade.
É o sujeito do insconsciente, conceito de orientação
lacaniana, dividido pela linguagem, que não se identifica a nenhum ser e
que dele só temos notícias pelos efeitos da sua fala.
Lacan parte do sujeito cartesiano para subvertê-lo,
levando a dois aspectos essenciais: a subordinação do sujeito que o determina e
a sua marcação como sujeito fendido. O sujeito é determinado por uma estrutura
simbólica que o condiciona desde antes de seu nascimento, definindo o
sujeito por sua posição e não por seu conteúdo interno. Antes de falar o
sujeito é falado. O inconsciente não é um reservatório que cada indivíduo
carrega em seu interior, é um lugar que depende de uma convenção significante e
que está em relação de exterioridade com o sujeito.
O segundo aspecto considerado é o sujeito fendido,
divido: sujeito do significante e do significado. Não são duas partes de um
todo, o sujeito existe através da ruptura, ele existe ali mesmo, onde há o
corte.
O que para Saussure significantes e
significados são duas cadeias correndo mais ou menos juntas;
para Lacan trata-se da primazia do significante sobre os
significados. O significado passa a ser produto do deslizamento das cadeias dos
significantes.
O Inconsciente é estruturado como uma linguagem. O
Inconsciente (Freudiano, psicanalítico, fruto da relação analítica) é
estruturado como uma linguagem (a própria linguagem sendo uma estrutura).
Constante e atemporal, o Inconsciente é o deslizar de
significantes; o significado é o efeito deste deslizar e está mais do lado
consciente, do eu.
O ambulatório “não é um simulacro de consultório, é o
próprio consultório tornado público”. Primeiro por estar inserido no serviço
público e atender gratuitamente aqueles que demandem atendimento.
Em segundo, a idéia de tornar, visível, deixando
transparecer o trabalho clínico, colocando em pauta a transmissão da
psicanálise, que não se resume só à intimidade da prática com o sujeito,
estando também presente no debate acerca de impasses e sucessos que fazem o
cotidiano da clínica, no laço social com os profissionais que sustentam outros
discursos.
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