terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TODA LOUCURA É SOCIAL

As anotações de Freud em 1919 que, reconhecendo o reduzido âmbito de atuação da prática psicanalítica, limitada aos consultórios privados, assinala a necessidade de extensão dessa clínica a amplas camadas da população, através da assistência pública, em vista de uma imensa “miséria neurótica” no mundo, que ameaça a saúde pública tanto quanto as doenças orgânicas, exigindo portanto, uma ação do psicanalista na instituição pública.

Sob influência das discussões travadas pelo movimento da Reforma Psiquiátrica cria-se, no Brasil, no campo da saúde mental, os CAPs e Hospitais-dia que passam a integrar o Centro de Atenção Diária.
As transformações abriram espaço para uma pluralização de discursos dentro das instituições, dentre eles a psicanálise, mais especificamente a psicanálise francesa. Que vem nos falar de “psicanálise em extensão”, o lugar da psicanálise na sociedade, seja pela prática da psicanálise em instituições públicas de assistência ou pelo ensino ou mesmo pelo testemunho que psicanalistas podem dar de seu percurso.

A proposta de uma psicanálise ao campo da saúde mental poderia ser formulada como uma clínica do sujeito.
O que esta no centro de interesse da clínica psicanalítica não é a doença mental como objeto, mas o sujeito na sua singularidade.
É o sujeito do insconsciente, conceito de orientação lacaniana,  dividido pela linguagem, que não se identifica a nenhum ser e que dele só temos notícias pelos efeitos da sua fala.
Lacan parte do sujeito cartesiano para subvertê-lo, levando a dois aspectos essenciais: a subordinação do sujeito que o determina e a sua marcação como sujeito fendido. O sujeito é determinado por uma estrutura simbólica que o condiciona desde antes  de seu nascimento, definindo o sujeito por sua posição e não por seu conteúdo interno. Antes de falar o sujeito é falado. O inconsciente não é um reservatório que cada indivíduo carrega em seu interior, é um lugar que depende de uma convenção significante e que está em relação de exterioridade com o sujeito.
O segundo aspecto considerado é o sujeito fendido, divido: sujeito do significante e do significado. Não são duas partes de um todo, o sujeito existe através da ruptura, ele existe ali mesmo, onde há o corte.

O que para Saussure significantes e significados são duas cadeias correndo mais ou menos juntas; para Lacan trata-se da primazia do significante sobre os significados. O significado passa a ser produto do deslizamento das cadeias dos significantes.

O Inconsciente é estruturado como uma linguagem. O Inconsciente (Freudiano, psicanalítico, fruto da relação analítica) é estruturado como uma linguagem (a própria linguagem sendo uma estrutura).
Constante e atemporal, o Inconsciente é o deslizar de significantes; o significado é o efeito deste deslizar e está mais do lado consciente, do eu.

O ambulatório “não é um simulacro de consultório, é o próprio consultório tornado público”. Primeiro por estar inserido no serviço público e atender gratuitamente aqueles que demandem atendimento.
Em segundo, a idéia de tornar, visível, deixando transparecer o trabalho clínico, colocando em pauta a transmissão da psicanálise, que não se resume só à intimidade da prática com o sujeito, estando também presente no debate acerca de impasses e sucessos que fazem o cotidiano da clínica, no laço social com os profissionais que sustentam outros discursos.


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