domingo, 9 de dezembro de 2012

VÍNCULO MATERNO







Muito antes de seu nascimento e ainda no ambiente intra-uterino, tem início a formação do vínculo entre a futura mamãe e seu bebê. Trata-se de um processo de comunicação tão complexo quanto sutil e que torna possível esta troca íntima e profunda. O vínculo é de importância vital para o feto, pois precisa se sentir desejado e amado para propiciar a continuação harmoniosa e saudável de seu desenvolvimento.

A formação do vínculo não é automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e, portanto, necessita de tempo, compreensão e amor para que possa existir e funcionar adequadamente. É, também, fundamental para que possa compensar os momentos de preocupações e reveses emocionais maternos e que todos nós estamos sujeitos no cotidiano.

O amor e a rejeição repercutem sobre a criança muito precocemente mas, para que possa dar significado a estes sentimentos é preciso maturidade neuro-fisiológica. Assim, até os três primeiros meses de vida intra-uterina, as mensagens enviadas pela mãe são, em grande parte, incompreendidas pelo embrião, muito embora possam causar-lhe desconforto se percebidas como desagradáveis.

À medida que vai evoluindo, o feto torna-se capaz de registrar e de dar significado às emoções e sentimentos maternos. É quando, então, começa a se formar sua personalidade, o que ocorre por volta do terceiro trimestre de gestação.

A ansiedade materna é, de certa maneira, até benéfica ao feto, pois perturbando a neutralidade do ambiente uterino, perturba-o também, conscientizando-o de que é um ser distinto, separado desse ambiente.

Para se livrar desse desconforto, ele começa a elaborar progressivamente técnicas de defesa como dar pontapés, mexer-se mais ativamente, e que funcionam, para a sensibilidade materna, como um envio de mensagem de que está sendo perturbado. Se houver sintonia materno-fetal, imediatamente a futura mamãe capta esta mensagem e começa a passar a mão delicaDAmente em seu ventre, o que é percebido e decodificado pelo feto como atitude de compreensão, carinho e proteção, portanto, como tranquilizadora.

Com o decorrer do tempo, a experiência de desconforto transforma-se em emoção e tem início a formação de idéias sobre as intenções maternas em relação a si mesmo.

Desta maneira, se a mãe for amorosa e tiver uma relação afetiva rica com seu bebê, contribuirá para que nasça uma criança confiante e segura de si. Assim também, se mães deprimidas ou ambivalentes que, por uma razão qualquer, privam o feto de seu amor e apoio, certamente favorecerão o estado depressivo e a presença de neuroses na criança e que podem ser constatados após o nascimento, pois sua personalidade foi estruturada num clima de medo e angústia.

Mesmo a gestante que rejeita seu filho comunica-se com ele através do fornecimento do alimento. Mas, a qualidade desse vínculo é diferente da mãe que o deseja e esta é a grande diferença, pois não é apenas uma comunicação biológica.

Como o feto capta todas as emoções maternas, as que o fazem entrar em sofrimento como a ansiedade, temor e incertezas, provocam-lhe reações mais fortes e contínuas, enquanto que as de alegria e felicidade, por não alterarem o ambiente intra-uterino, permitem que seus movimentos permaneçam suaves e harmoniosos.

De acordo com Winnicott (2001), é necessário ser oferecido ao bebê o ambiente adequado para que ele se desenvolva bem. Assim, é de fundamental importância o qu acontece na díade mãe-bebê ao longo do desenvolvimento da criança (BLEICHMAR, 1992). Mazet e Stolerus (1990) estabelecem um modelo teórico no qual enfocam a reciprocidade na relação bidirecional entre mãe e bebê.

 Consideram a importância de perceber o modo como a mãe entende as necessidades do bebê, bem como sua atuação sobre as mesmas. Para tal, explicam a existência de um modelo interacional que pode ser dividido em interação de: comportamento, afetividade e fantasmática. No que se refere ao comportamento, as formas de contato físico, verbal e visual podem estimular a adaptação dacriança quanto ao meio e suas respostas aos estímulos; a voz pode

ser capaz de acalmar ou agredir o bebê; o olhar é capaz de revelar a relação e o apego estabelecido entre ambos.

 Em relação à interação afetiva, nos primeiros seis meses quase não há referência ao mundoexterno, isto é, ao que há além da díade mãe-bebê. Nos dois meses seguintes, outros objetos começam a atuar nessa interação, porém se a mãe não fornecer apoio a essas novas interações, através de uma possessividade e superproteção à criança, será possível passar à criança a idéia de que ela não é capaz, podendo afetar o seu desenvolvimento. Já a interação fantasmática revela quais as representações mentais dos pais sobre o bebê e conseqüentemente como será estabelecido o padrão de apego a ser desenvolvido pelo bebê.
Sendo possível a mãe entrar em contanto com o bebê real e acolhê-lo elaborando deste modo o luto do bebê idealizado, será possível conceber um apego seguro; porém, se o modelo ideal for sustentado mesmo perante a realidade, isso poderá gerar frustrações e um apego inseguro. Para Bowlby (1988), a criança constrói um modelo representacional interno de si mesma, dependendo de como foi cuidada, e em sua vida esse modelo permite que a criança seja capaz de se ajudar e de acreditar que pode ser ajudada em caso de dificuldades. O fato de acreditar em si própria e a relação desegurança criada com seus cuidadores irão ajudar a criança a separar-se dos pais gradativamente, a tornar-se independente e a explorar a liberdade.
Várias formas de interações possibilitam o fortalecimento do vínculo da mãe com o recém-nascido. Assim como existem fatores que facilitam e fortalecem o processo de formação de vínculo mãe/bebê, existem fatores que prejudicam essa relação. O puerpério, período compreendido após o parto, é reconhecido como um momento crítico e de grande labilidade emocional. Nesse período, ocorrem mudanças de humor, associadas ao declínio hormonal da progesterona e do estrogênio, acarr tando um

sentimento de insegurança com o papel materno (KLAUS; KENNELL; KLAUS, 2000; 364 MENDES, A.P.D.; GALDEANO, L.E. )


Transtornos de humor, mais comuns nas primeiras quatro a seis semanas após o parto, podem interferir diretamente na relação mãe/bebê, podendo prejudicar o fortalecimento do vínculo (RICO, 2004; WENDER et al., 2002).

Dentre os transtornos de humor conhecidos no puerpério, está a depressão pós-parto, caracterizada por irritabilidade, exaustão intensa, alterações de pensamento, dificuldade em tomar decisões, diminuição de energia,

dificuldade de concentração, ideação suicida e/ou agressividade com o bebê (BALLONE, 2002; RICO, 2004; WENDER et al., 2002). Segundo Schwengber e Piccinini (2003), um outro tipo de transtorno que afeta cerca de 60% das mulheres entre o terceiro e quinto dia após o parto, é o chamado baby blues. Esse transtorno, se caracteriza por sintomas depressivos leves, choro fácil, ansiedade,

irritabilidade, labilidade de humor, sensibilidade aumentada e fadiga (WENDER et al., 2002).

Esse tipo de depressão, em geral, se resolve até  dez dias após o parto, porém, a mulher pode vir a desenvolver depressão pós-parto se os

sintomas persistirem (KLAUS; KENNEL;KLAUS, 2000).


A depressão da mãe interfere de forma negativa no temperamento e no desenvolvimento físico do bebê, em decorrência da interferência adversa na relação mãe-bebê. Segundo Ribeiro (2002), a mãe com depressão não oferece o

acolhimento, o afeto e a segurança que o recém-nascido requer, podendo desencadear na criança transtornos de conduta e comprometimento de sua saúde física, como alterações no sono, distúrbios gastrintestinais, falta de apetite, episódios de vômito, insegurança e ansiedade. A criança, cujos pais não mantiveram um vínculo afetuoso positivo, pode apresentar distúrbios cognitivos e

afetivos, acarretando alguns problemas de comportamento como, por exemplo, dificuldade em se relacionar e uma predisposição a condutas inadequadas como

mentir e furtar, interferindo negativamente no desenvolvimento familiar.

Há vários fatores de risco para os distúrbios psíquicos no puerpério, como a condição de mãe solteira; a morte perinatal, o parto cesárea, os antecedentes psiquiátricos maternos, as dificuldades e/ou a insatisfação na relação conjugal, a gravidez não desejada, os eventos estressores, o mau relacionamento com a mãe, as circunstâncias sociais de pobreza e a manutenção do papel social. Esses fatores aumentam a probabilidade de desenvolvimento da depressão pós-parto e, conseqüentemente, a desestruturação do vínculo mãe-bebê.

O TRAUMA DO NASCIMENTO

O trauma do nascimento é um tópico extensamente considerado em psi­quiatria, sobretudo pelos psicanalistas. O con­ceito foi descrito de um modo abrangente por Otto Rank, que sustentou serem as circuns­tâncias do nascimento profundamente gravadas na psique do bebê, e suscetíveis de reaparecerem em forma simbólica nos pacientes psiquiátricos.

Afirma-se que a existência intra-uterina é inteiramente feliz, na medida em que está livre de todos os conflitos de natureza psíquica. Acredita-se que o ato de nascer é marcado por uma conturbação radical dos pontos de vista psíquico e físico; produz um choque psíquico de grandes conseqüências, um trauma de que a pessoa nunca mais se refaz. Rank sustenta que certas pessoas estão sempre tentando recons­tituir as condições de existência intra-uterina. Em sua forma mais vívida e literal, a vida intra-uterina é reproduzida pelo paciente que manifesta a forma catatônica de esquizofrenia.

Freud diz: "O ato de nascer é, além disso, a primeira experiência acompanhada de ansie­dade e constitui, portanto, a fonte e o modelo do sentimento de ansiedade."  Ele acredita que Rank superestima a importância do nasci­mento para a psique da criança. Afirma Freud: "Não podemos certamente pressupor que o feto possui qualquer espécie de conhecimento de que está correndo o perigo de aniquilamen­to"; o feto só pode sentir "uma perturbação geral na economia de sua libido narcisista".

Como exemplo da representação simbólica do ato de nascimento, Rank refere-se à fobia por animais que entram e saem de buracos.

Afirma Ferenczi: "Quanto mais observo, mais me dou conta de que para nenhum dos desenvolvimentos e mudanças que a vida acar­reta o indivíduo se encontra tão bem preparado quanto para o nascimento." Acredita ele que o nascimento é uma transição agradável e triunfante para a criança. O que Rank chama de fantasias de nascimento, Ferenczi diz serem fantasias coitais.




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